A Pessoa Certa No Momento errado

Era marrenta mas eu até gostava

Havia quase um mês que não me encontrava com meu amado pai e já sentia muitas saudades. Era segunda e como eu não tinha nada para fazer resolvi ir até sua casa que ficava em outra cidade.

Seu Rodrigo sempre foi um homem muito carinhoso com todos, diferente da minha mãe que era um pouco mais durona, eles eram bem diferentes mas um completava o outro porém as brigas acabaram desgastando tudo e por fim meu pai desistiu e foi embora, ele partiu seu próprio coração e foi difícil para mim ver isso acontecer. Apesar de tudo até hoje é louco pela minha mãe e sempre que pode quer saber sobre ela.

Seu Alcides porteiro do prédio já me conhecia e me deixou entrar sem nada dizer.

Apartamento 285 era onde ele vivia sozinho há quase 8 anos. Toquei a campanha e esperei. A porta se abriu e junto com ela se abriu um largo sorriso no rosto do meu pai

— Meu Deus, ela lembrou que eu existo - e me envolveu em um abraço caloroso

— O tempo passa e o seu drama só aumenta né ?

Ele sorriu e me abriu espaço para entrar. O apartamento era pequeno mas muito aconchegante e bem arrumado, me puxou para sentar no sofá 

— Morri de saudades minha bebê, cadê Matheus e Luiza ? Por que não vieram ? - Me olhou triste

— Pai não deu mas pela semana eles estarão aqui, não se preocupa, ninguém te esqueceu

— Acho muito bom. E sua mãe ? Como ela está ?

— Bem,e antes que me pergunte, não, ela não arrumou ninguém para chamar de namorado - gargalhamos

Era alto ele, com uns poucos fios grisalhos em seu cabelo todo preto, os olhos puxei dele, escuros como a noite, envelhecia mas não deixava de ser o mesmo galã de sempre.

Me contou sobre tudo que se passava em sua vida. Sobre o emprego como administrador de negócios, o salário que havia aumentado, tinha até adotado um cachorro, se chamava Tobby, o vira-latinha mais lindo que eu já tinha visto e disse que sentia muita falta da gente.

— E você ? Aposto que também tem muitas novidades, adolescente sempre tem, como é que diz ? Babados para contar né ?

— Há, não tenho tantas novidades, é o de sempre, curso, escola... A única coisa legal que aconteceu foi que conheci um rapaz

— Você ta namorando e não me conta Vitória ? Eu não acredito nisso

— Não pai ! É só meu amigo mas ...

— O que ?

— nada

— Olha aqui garota, você me respeita hein ? Sabe que pode contar comigo para tudo e vai ficar de segredinhos ? Ora essa !

— Acho que tô gostando dele mas eu não sei, está tudo confuso aqui dentro, não quero me magoar entende ?

— Meu amor, você só vai saber se tentar. Você é jovem, tem muita coisa para aprender ainda, muita estrada para percorrer, não tenha medo de se arriscar, se não der certo pelo menos você aprende alguma lição. Ele gosta de você também ?

— Eu não sei pai

— Então tenha calma, tudo dará certo no seu tempo.

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Anoitecia, naquele dia resolvi dormir por ali mesmo e aproveitar muito mais a companhia do meu melhor amigo.

— Filha o que acha de fazermos um bolo de chocolate ? Lembra que fazíamos quando você era pequena ?

— Claro que me lembro, acho uma ótima idéia.

Ovos quebrados, farinhas dentro e fora da tigela e a cozinha já estava uma bagunça, conversávamos coisas bestas e riamos felizes, prezávamos muito momentos simples como esse e ele já marcava um dia para Rafael ir até sua casa.

— Esqueci de te falar pai, meu curso está fazendo um sorteio, quem ganhar terá um ano de intercâmbio pago para os Estados Unidos, legal né ?

— Uma maravilha ! seria bom se ganhasse

— Não ganho nem rifa - Rimos

Cozinha limpa e bolo no forno, decidimos ir assistir TV e Rafa me mandou uma mensagem

" Esqueceu que eu existo né? "

" Haha, nunca!  Tô aqui no meu pai, ele quer te conhecer "

" Estou com saudades, suponho que dormirá ai. Amanhã te busco e ja conheço ele ok? "

" Ok "

• Rafael

Os dias passavam e ela me encantava mais e mais. Sua doçura, seu jeito de menina, era marrenta mas eu até gostava, completamente diferente de Juliana mas então por que não se apaixonar pela princesa do que pela bruxa ? A magóa não passava mas o coração ainda estava nela, como se estivesse preso por um encanto mas se eu não estava apaixonado por Vitória por que as mãos suavam quando eu estava prestes a me encontrar com ela ? Por que eu sentia tanta saudade e queria sempre estar ao seu lado ? Era estranho tudo que estava acontecendo mas de uma coisa eu sabia, a única coisa que eu não queria nessa história toda era magoar alguém que não merecia.