Sinto muito

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Se tem uma coisa da qual eu aprendi longe de Vitória foi que precisamos valorizar as pessoas que amamos.                                      Eu pensava naquilo enquanto aguardava em uma sala de espera o resultado dos exames feitos em meu pai. É incrível como a nossa vida pode mudar drasticamente em questão de segundos.
Eu havia tudo uma manhã incrível ao lado de minha família. Tomamos café juntos, rimos e conversamos sobre nossas vidas, era bonito de se ver a relação que meus pais mantinham, era a maior demonstração de amor que eu havia visto em toda minha vida.
A gente não quer imaginar e por vezes esquecemos o quanto pequenos gestos como tomar café juntos era tão importante, esquecemos do "bom dia", "eu te amo" e vivemos no automático. A gente acha que as pessoas que amamos são imortais e é por isso que não damos valor. Não gostamos de imaginar a morte ou como seria nossa vida sem os alicerces que nos mantém de pé e minha família sempre foi o meu alicerce, eu estava assistindo minhas estruturas indo a baixo quando o telefone tocou:

"Por favor, Rafael Assunção?"

"Ele mesmo, quem gostaria?"

"Aqui é do corpo de bombeiros, ligamos para informa-lo que seu pai, André Assunção acabou de sofrer um acidente automobilístico, compareça com urgência no hospital municipal"

E desligou

Minha respiração falhou, tudo a minha volta começou a rodar e precisei sentar-me para não cair, não era possível que isso estava acontecendo.

Como eu iria falar para minha mãe sobre aquilo? Como u mesmo lidaria com essa situação? Logo eu, que sempre tive os dois ao meu lado, agora precisaria estar ao lado dos deles.

Tudo em mim gritava, eu estava desesperado, afinal, não sabia o que havia acontecido com meu pai mas o tom de voz daquele bombeiro denunciava que ele não estava nada bem.

Corri até meu quarto, peguei alguns documentos meus e de meu pai e desci até a sala.

— Coloca uma blusa de frio mãe, agasalha o Miguel também que a gente vai sair

— Mas para onde amor? Preciso ligar para seu pai ainda, ele sempre me liga nesse horário e hoje não ligou— Disse tristemente

Respira Rafael, não chora.

— Mãe, por favor, é urgente, faz o que eu estou pedindo

Percebendo que eu não brincava ela levantou-se e fez o que pedi. Peguei as chaves do carro, coloquei Miguel em sua cadeirinha e partimos em direção ao hospital.

— O que está acontecendo?

— Você precisa ficar calma agora

Ela me olhou e senti o desespero correr pelo seu corpo, tudo bem, eu também estava com medo.

Engoli em seco e soltei

— O pai sofreu um acidente

Ela não conseguiu dizer uma só palavra e por um momento pensei que ela fosse ter um treco

— Mãe, por favor, diz algo— Minha voz embargou

— Diz que está brincando— lágrimas que começaram a escorrer timidamente de seu rosto agora escorria como se fosse uma grande cachoeira

— Vai dar tudo certo— tentei tranqüiliza-la — Não me deram nenhuma informação, só pediram para eu ir até o hospital

Em todo o caminho ela orava a Deus e pedia para proteger o amor de sua vida, eu queria um abraço mas sabia que naquele momento eu deveria colocar minha dor no bolso e ir cuidar da dor dela. Era preciso ser forte.

Era preciso ser forte, era preciso ser forte.

Esse era o mantra que eu repetia para mim mesmo sentado em uma cadeira desconfortável com Miguel nos braços dentro daquela sala de espera.
Meu pequeno irmão dormia tranqüilamente, absorto de tudo que acontecia em sua volta, naquele momento senti inveja dele e senti saudades quando eu também não precisava me preocupar com nada.

Meu pai havia sofrido um acidente de carro quando seguia em direção a nossa empresa, um caminhão perderá o controle e bateu no carro em que meu velho dirigia, este capotou três vezes e deu tempo apenas de meu pai sair do carro antes de ele explodir. Os médicos não sabiam dizer como ele conseguirá ter forças para sair dali, mas seu estado era crítico. O motorista do caminhão nada sofreu e fugiu sem prestar socorro. Assim que meu pai deu entrada na emergência sofreu uma parada cardíaca e foi diretamente para a UTI

— Vamos tentar ao máximo salvar a vida de seu marido mas o estado dele é gravíssimo— Um médico com aparência cansada comunicou a minha mãe — Precisamos transferi-lo, não temos recursos aqui.

E então contatamos o hospital particular que freqüentávamos e o mesmo deu o suporte necessário para meu pai. Minha mãe só chorava e eu tentava consola-la mas estava difícil.

— Ele sempre foi um homem forte mae, não tema, tudo vai dar certo.

3 dias depois

Apenas pessoas autorizadas podiam visita-lo e aquele era o meu dia

Entrei no leito com o coração nas mãos. O quarto era totalmente branco, havia uma cama, aparelhos que mediam seus batimentos, uma TV e uma poltrona que até parecia confortável, à direita da cama ficava o banheiro.

Ele estava irreconhecível, em seu rosto havia machucados, sua perna direita estava engessada e ele respirava com ajuda de aparelhos. Sentei-me ao seu lado e segurei em suas mãos.

— Pai, se puder me ouvir, eu te peço, por favor, seja forte pela nossa família, como sempre foi, não podemos perder você, eu o amo

O aparelho que média seus batimentos cardíacos começou a apitar, um som forte, do qual eu só vira em filmes, em questão de segundos seus batimentos foram caindo e médicos e enfermeiros entraram na sala, todos correndo com coisas nas mãos, até que alguém me tirou de lá, totalmente em choque.

— Sinto muito— Uma enfermeira disse.

A Pessoa Certa No Momento erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora