A Pessoa Certa No Momento errado

Me da dois minutos

Ana Júlia gritou meu nome e olhei para Rafael assustada, ele riu e eu tampei sua boca. 

  — Parem de serem bobos, essa sorveteria não é tão grande, sabem? é meio óbvio que vocês dois estão ai dentro 

Ele me ajudou a sair de cima, se recompomos se dizer uma só palavra e sai daquele banheiro como um foguete. 

—  Vamos embora, Ana. 

— Agora está envergonhada, né? 

Eu ri e puxei o braço dela, em direção a rua quando Rafael correu até mim

— Eu acho que precisamos conversar, me diz que aquele beijo significou algo...  — Seus olhos denunciavam a apreensão em sua voz, ele exigia uma explicação. 

Engoli a saliva... Eu não sabia o que dizer, meu coração estava batendo tão forte quanto no dia em que o beijei pela primeira vez. 

— Preciso de um tempo. 

— Só me diz que ai dentro ainda tem uma faísca acessa de amor por mim, me diz que talvez eu possa lutar de novo por isso? 

Caminhei a poucos centímetros dele e o olhei no fundo dos olhos

─ Chega de lutas Rafael. Não quero que lute por mim, o amor não é isso. Estamos fazendo errado. O amor é leve, tranquilo, não machuca. Por favor, me de um tempo e quem sabe voltamos a tocar neste assunto. 

Ele engoliu em seco e concordou com a cabeça, seus olhos brilhavam, tentava segurar as lágrimas 

─ Vem cara, vamos nessa ─ Mathias o puxou pelos ombros e o arrastou para longe 

─ Que merda foi essa?! ─ Ana Júlia xingou 

─ Vamos embora também Ana, já deu por hoje.

─ Por que vocês não conseguem ser a porra de um casal normal, hein? por que simplesmente não ficam juntos e deixam tudo que houve para trás? pra que esse orgulho todo Vitória?! 

─ Porque eu não quero e nem vou ser a segunda opção de ninguém, Júlia, eu precisava ter certeza de que o que ele sentia por mim era verdadeiro. Eu não vou tapar buracos. Eu não mereço um amor pela metade, eu mereço alguém que seja completamente meu, sem vírgulas, sem mas... sem ir embora! 

─ Tá falando da ex dele né? 

─ Sim. Acho que você não tem noção de como me senti, você não tem noção de como dói se entregar inteiramente alguém e depois ser rejeitado, depois ter todas suas esperanças jogadas na lama como se você não valesse nada. Eu abri meu coração, eu me joguei de cabeça mas ele não estava lá nesse momento, ele não pulou comigo e eu me machuquei sozinha e até hoje eu não superei, até hoje arde. 

─  Mas ele se arrependeu, você não consegue enxergar? 

─  Sim. Desde o dia em que eu o vi parado na frente da escola com flores nas mãos. Ninguém cruza o oceano atoa... Mas meu amor próprio gritou mais forte. Eu concordo que eu e o Rafael fomos por um caminho muito mais difícil e complicado, que poderia ter sido mais fácil e menos dolorido mas se não fosse assim eu não teria amadurecido tanto e ele também. Eu o beijei hoje, é verdade, porque eu ainda o amo muito e vou continuar amando-o por um bom tempo mas eu não quero mais me machucar. Eu não vou me magoar atoa. Ana... Se eu passar nesse vestibular eu não vou pensar duas vezes em ir embora viver meus sonhos. Talvez eu esteja sendo muito egoísta mas eu aprendi que se não nos cuidarmos, quem vai? uma vez eu ouvi de Elizabeth que somente o amor não é o suficiente e eu concordo e aceito o que tiver que ser. 

─  Eu tenho muito orgulho dessa mulher que você está se tornando,  muito orgulho mesmo mas por favor, eu sei que ai dentro tem um coração e não um iceberg amiga, as vezes seguir nossos sentimentos é importante. Não se feche para o amor, até porque você também sabe que ele te ama, sua boba. 

Sorri e ela me deu um abraço forte, enroscou em meu braço e voltamos para minha casa que ficava somente a dois quarteirões da sorveteria. Corremos para o quarto, eu estava nervosa com tudo que já havia acontecido e mais nervosa ainda por não saber se tinha passado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, se isso tivesse acontecido eu iria viver com meu pai, em outro estado e faria o curso dos meus sonhos em uma boa Universidade. Não poderia perder essa oportunidade. 

Já havia passado das 21:30 e eu não conseguia por nada ver o resultado, Ana Júlia que sempre fora uma preguiçosa começou a bocejar e a reclamar de sono então eu logo a despachei para casa e fui deitar. 

Minha vida havia mudado tanto em um ano, eu já não era mais aquela Vitória inocente e frágil, eu havia amadurecido tanto e de certa forma isso era sim, muito assustador, eu sentia tanta falta de meu pai, da minha irmã... eu me sentia tão... Sei lá... é estranho ver a vida passando em frente aos seus olhos e não poder fazer nada a respeito, esse é ciclo normal, as coisas mudam mas eu nunca me dei muito bem com mudanças, eu nunca gostei de novos desafios e talvez eu entraria em um novo...

Meu celular começou a chamar, era um número estranho e estava muito tarde para ligarem pros outros assim, do nada. 

─  Alô? 

─  Alô?  tudo bem? sei que tá tarde mas precisava te ligar...

Reconheci a voz de imediato e então engoli a saliva, meu coração começou a bater mais rápido

─  Como conseguiu meu número? 

─  Bem, você nunca trocou de número, pequena 

─  Por que está me ligando? 

─  Porque quero conversar, quero colocar tudo em pratos limpos, eu quero dar continuação a essa história ou colocar um ponto final de uma vez por todas.

─  Isso não pode ser feito por telefone Rafael...

─  E é exatamente por isso que eu estou aqui em frente a sua casa, Vitória, não consegui esperar você pensar, já tivemos um ano para você pensar, já se passou um aniversário seu, conquistas pessoais e em tudo eu não estive presente, eu passei por momentos difícies também e você não estava do meu lado... vamos dar uma reviravolta nessa história? 

Respirei fundo sem acreditar... da última vez em que ele esteve aqui foi quando eu despejei todo meu ódio em suas costas e o expulsei de minha vida, eu não conseguia entender porque ele ainda insistia e para ser sincera, o iceberg que Ana Júlia disse que eu era estava derretendo naquele exato momento. 

─ Vitória? ─ Perguntou do outro lado da linha, com  voz cheia de preocupação

─ Me da dois minutos.