A Pessoa Certa No Momento errado

Nada a ser dito

Não sei quanto tempo durou mas pareceu uma eternidade. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, enquanto minha boca se abria, pessoas batiam palmas achando que era só mais uma declaração de amor com flores... se elas soubessem.

— Me desculpa. — Disse num sorriso triste. 

Ele achava mesmo que um pedido de desculpas com algumas rosas apagaria os machucados que ele deixou em meu coração? Será que ele achava que eu era uma trouxa?

Meus olhos vacilaram, lágrimas queriam cair mas eu não deixei. Olhei para baixo e depois para cima, respirei fundo e então olhei nos olhos dele.

— Fala alguma coisa, por favor — Uma lágrima escorreu do seu olho esquerdo, suas mãos tremiam, ele não estava mais confiante.

— Não há nada a ser dito.

Engoli o choro, estava quase me afogando por dentro, porém aguentei até me virar de costas e caminhar para longe daquilo tudo. Não dava, não dava! Eu estava indo bem, que droga! Estava tentando arrancá-lo do meu coração, fui para o outro lado do oceano para me distanciar. Tudo em mim gritava que aquilo estava errado, que era injusto!

Corri o mais rápido que pude, já não conseguia mais segurar e então deixei-me ser inundada; doía, rasgava, queimava, eu não queria perdoá-lo, eu não queria mais sentir aquela dor. Mas ele veio atrás, corria gritando meu nome, eu sabia que era mais rápido, mas por algum motivo se deixava para trás. 

Perdi o fôlego, meu fígado doía, afinal eu tinha comido muito, não podia correr assim. Parei em uma praça e me sentei em um banco chorando mais do que gostaria, era dramático.

Sentei em posição fetal e levei as mãos ao rosto, eu não o queria ali, só queria que tudo isso acabasse logo, ele me destruiu, partiu meu coração e ainda doía, ainda sangrava.

— Sai daqui, por favor! — Eu disse entre um soluço e outro.

— Por favor... me escuta Vi. — Se ajoelhando na minha frente — Olha pra mim Vitória... 

Continuava a chorar, não queria que ele me visse naquela situação humilhante, ele não merecia! Eu não devia chorar por um babaca como o Rafael!

— Ok! Mesmo que você não queira, eu vim até aqui pra falar contigo, e é isso que eu vou fazer. — Colocou as mãos em meu joelho e tentou tirar minhas mãos do rosto mas eu não deixei — Tudo bem... Vitória, eu sei que agi como um babaca, e é por isso que eu estou aqui. Alguém como você não deve sofrer, me perdoa por tudo o que eu fiz, você não tem noção de como estou arrependido, de como tem sido difícil para eu ficar sem te ver e sem saber como você está. Sim, eu fiquei confuso e acabei agindo por impulso e tive medo do que poderíamos dar... terminei tudo com a Juliana porque sabia que não era isso que eu precisava, sabia que a minha outra metade estava bem aqui, nos Estados Unidos e agora chorando por minha culpa! — Sua voz embargou — Eu sinto tanto! Se pudesse voltar no tempo eu não a tinha deixado, eu não tinha... 

— Mas deixou! — Benjamin disse sério — Você viu como essa garota é perfeita, cara? Depois de tudo você ainda tem coragem de vir até aqui faze-la sofrer mais? Colocar esperanças na sua cabeça para depois ir embora novamente? Vi, — Disse olhando para mim— Você não merece isso.

Levantei a cabeça e observei a cena que se desenrolava na minha frente, não sabia o porquê de ele estar ali naquele momento, de ele ter nos seguido, mas era bom vê-lo, eu precisava de alguém. Podia sentir meu rosto completamente inchado. Rafael olhava para Benjamin sem entender nada e o outro o encarava seriamente.

— Vamos embora Vick? - Disse Ben em um tom acolhedor.

— Quem é você? — Os olhos de Rafa metralhavam-no. 

Ben não respondeu, puxou minha mão mas eu não sai do lugar. Aquele era um dos momentos em que eu realmente não sabia o que fazer.

— Vi, vocês não estão?.... — Em seu olhar continha desespero, o mesmo que eu senti no dia em que ele despejou na minha cara que tinha voltado com ela.

— Vem, vamos embora — Benjamin pegou minha mão e me levou para fora de toda aquela confusão. Rafael correu até mim e segurou em meus ombros. 

— Não posso deixar que você vá, por favor! — Agora chorava, e eu senti sua dor... é claro que o amava, mas não aceitaria de maneira alguma toda a humilhação que me fizera passar. Olhei aqueles olhos castanhos - os mesmos que sempre foram a minha perdição - observei os lábios carnudos que o deixavam muito mais bonito; em sua bochecha escorriam lágrimas. Guardei em minha memória seu rosto, nunca esqueceria dessa imagem.

Virei as costas e segui Ben. 

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Paramos em frente a porta dos Jones e Benjamin me abraçou - o que me deixou sem reação - e então chorei tudo que havia segurado até o momento, molhando toda a sua camisa azul marinho.

— Desculpa! — Funguei.

— Não tem problema, espero que você fique bem.

— Por que nos seguiu?

— Porque eu vi nos seus olhos desde o primeiro dia que te conheci que você estava perdida, que algo dentro de você pedia socorro; depois me disse que o amor era para os trouxas e quando vi seu olhar de incredulidade ao ver aquele cara eu saquei tudo. Você estava sofrendo mas fingia estar bem. E então, eu sabia que seria difícil para você, não pensei duas vezes em ir atrás de vocês dois, saiba que estarei aqui sempre que precisar...

— Obrigada Ben — Estava com vergonha mas me sentia grata, ele era um menino incrível.

Depois que mais um abraço entrei e corri para o banho, lá era o meu refugiu, eu podia chorar até sair toda a dor... mas talvez esse fosse o problema, as lágrimas estavam acabando e a dor no meu coração não se esvairava.