O fim de um ciclo.

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Pais separados definitivamente, uma irmã morando em outro país, o coração ainda machucado e para completar a sequência de tristezas sob minha vida chegava o dia de partir, o dia em que eu teria que me despedir das amizades que cultivei durante o um ano em que estive nos Estados Unidos da América, da família maravilhosa que havia me acolhido com muito carinho e daquele lugar incrível que Manhattan era. 

Enxuguei minhas lágrimas pela trigésima  vez em um pano que já estava encharcado, nunca fui muito boa com fins de ciclos. No entanto, apesar de estar triste por deixar tudo aquilo para trás eu também estava feliz, voltaria para minha casa, para minha família e amigos, voltaria a dormir na minha cama e a tomar banho no meu chuveiro e por último mas não menos importante, eu voltaria a comer meu precioso arroz e feijão. Sorri ao imaginar um bom almoço e assim terminei de fazer minhas malas, todos me levariam ao aeroporto internacional John F. Kennedy. Seria uma viagem de mais ou menos 36 minutos e iríamos dividos em dois carros, um com a família Jones e outro com a mãe de Emma, que levaria Ethan e meu professor. A vontade de Tarzicio era permanecer em Manhattan com sua namorada Beatrice mas infelizmente isso não seria possível, ao chegar ao aeroporto era nítido a tristeza em seu olhar.

— Isso não é uma despedida— O abracei tentando conforta-lo de alguma maneira e então ele desmoronou.

Eu o apertei mais forte e não disse nada, eu não era a melhor pessoa para dar conselhos sobre o amor e então ela apareceu correndo, sabia que não deixaria ele partir sem um último beijo. Beatrice me olhou com os olhos cheios de lágrimas e eu soltei meu professor que assim que a viu correu para seus braços.

Tínhamos duas horas até que chegasse o momento de partir e a cada minuto que se passava eu ia sentindo mais forte a dor da despedida bater na porta do meu coração.

Abracei cada um e conversei particularmente com cada uma das pessoas que fizeram parte daquela etapa de minha vida. Ethan e Emma me abraçaram juntos e trocamos promessas de que aquela não seria a última vez que eu os veria, seria muito difícil imaginar como minha vida seguiria agora sem a companhia desses dois que já tinham ganhado meu coração.

Em seguida Megan que estava mais quieta que o normal caminhou até a minha direção calada e me envolveu em um abraço calmo mas cheio de sentimento.

— Não queria que você fosse Vick

—Infelizmente o dia chegou mas muito, muito obrigada por me ajudar nessa caminhada, tenho certeza que se não fosse você eu não teria aproveitado tanto esse intercâmbio, eu te adoro Mag.

O choro que eu tentava segurar desde o momento que sai de casa ali se manifestou, ah como doía ter que se despedir de pessoas tão maravilhosas...

Peguei Sussie no colo e agradeci Elisabeth por tudo, ela realmente foi como uma mãe para mim nesse tempo e também não pude deixar de agradecer a John pela maravilhosa hospedagem.

Pudemos ouvir saindo de um auto falante a voz de uma mulher comunicando a última chamada para o nosso vôo. Abracei todos que agora choravam junto comigo e Tarcísio correu para agradecer e por fim deu um beijo cinematográfico em sua querida namorada e gritou: "Essa distância não será capaz de diminuir o que sinto por você, eu volto!".

E então embarcarmos.

        

                              ****
A viagem fora longa e meu professor não pronunciou se quer uma palavra durante 6 horas dentro do avião, estávamos muito tristes mas tentei puxar assunto:

— Tá tudo bem? Você não aceitou os lanchinhos que a aeromoça te ofereceu. Não está com fome?

— Estou bem, Vick. Obrigada por perguntar ... — Ele folheava um livro de inglês qualquer mas então o fechou e o deixou sobre o colo — E você, como se sente? Foi um intercâmbio muito intenso, não?

— Estou meio para baixo, já sinto saudades de todo mundo mas ao mesmo tempo estou feliz por retornar, minha família fez uma grande falta durante essa temporada que eu estive fora, eu te agradeço também por me auxiliar com o inglês, agora ninguém me segura — Rimos e ele limpou uma lágrima do canto de seu olho

— Missão cumprida então! Você foi uma excelente aluna e obteve notas maravilhosas no colégio e no curso, com toda a certeza se destacará no futuro!

— Tudo isso graças a você e a família Jones

Ele me abraçou e seguimos o final da viagem conversando sobre nossos sonhos e então pousamos em solo brasileiro.

Ao chegar ao Brasil não somente nossa família nos aguardava ansiosamente como também o diretor e coordenador da minha escola de inglês.
Tarcísio e eu corremos para os abraços, minha mãe chorava muito e assim que me viu correu em minha direção, ela sofrerá muito com o distanciamento.

—De volta para a minha asa!— Me agarrou e beijou minha testa.

—Pois é mamãe— Ri em seus abraços e então pulei em Matheus.

— E aí? Sentiu minha falta pirralho?— Baguncei seu cabelo e ele protestou mas me abraçou mais forte e concordou com a cabeça.

Depois de toda a parte burocrática ter sido resolvida finalmente voltamos para casa.

Eu sentia meu coração se partir um pouquinho a cada quilômetro percorrido até minha casa, em um ano aconteceram tantas coisas!

Matheus e mamãe me ajudaram a colocar as malas no meu quarto, ele logo foi para seu vídeo game e ela me perguntou como tudo havia sido, conversamos por horas mas não consegui tocar no assunto do novo namorado, mesmo que estivesse intalado em minha garganta, preferi deixar essa discussão para outro momento.

Meu celular começou a tocar e o nome de meu pai apareceu na tela e então ela se retirou do quarto

— Alô, pai?

— Filha! Já chegou né meu bebê? — Seria novidade se eu dissesse que a sua voz denunciava toda a sua tristeza?

— Cheguei, por que o senhor não foi até o aeroporto? Eu fiquei te esperando... — Precisava confessar que não ver meu pai me esperando junto com os outros partiu meu coração mais um pouquinho porém tentei não pensar nisso mas agora, eu precisava perguntar... O que de mais importante ele estaria fazendo que não foi me buscar?

— Filha... A história é longa mas eu imagino que você já saiba. Depois de tudo que passei eu decidi ir embora, estou morando em Minas Gerais agora, junto com seus avós e só por isso não fui te ver minha pequena mas eu estou muito triste por isso...

— Pai... — Minha voz falhou, eu não podia acreditar que ele havia mudado de estado, como seria os meus finais de semana sem meu herói agora? Enxuguei as lágrimas com as costas da minha mão e tentei seguir falando — Não acredito que o senhor me deixou...

— Amor, eu amo vocês demais mas tô num momento que preciso pensar entende? Nunca superei e nunca vou superar... Ver a Cláudia com outro pra mim é devastador, não quero sofrer mais não filha...

Em todos esses anos meu pai não havia sido tão sincero comigo como agora. Seu Rodrigo sempre foi muito amigo e carinhoso, sempre perguntava de mamãe e de como as coisas iam mas ver esse marmanjo chorando ao telefone por declarar seu eterno amor a minha mãe, ah, essa era a primeira vez... Ele nunca deixou as coisas assim, tão escancaradas.

Depois de meia hora no telefone desligamos, com a promessa de que ele logo viria me visitar.

A Pessoa Certa No Momento erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora