SEIS

206 54 39
                                    

- Vou te levar em um lugar especial para mim!

- Mas Adam você disse que ia me levar para conhecer o palácio- digo, confusa.

- Vamos deixar o palácio para outro dia, venha, me acompanhe!

Ele pega em minha mão e eu o acompanho, passamos por algumas salas e entramos escondidos na cozinha.

- Pegue isso! - Adam me diz sorrindo, jogando para mim uma garrafa de suco de laranja.

Então ele se dirige até uma porta e abre e eu o sigo, ainda sem entender.

Só quando coloco meus pés para fora e dou uma olhada ao redor, é que entendo o motivo de tanta animação. Um jardim imenso e magnífico está à minha frente. Adam me puxa pela mão e me leva por um caminho de pedras cercado por rosas vermelhas, quando estamos no final do caminho ele  corre à minha frente e eu faço o mesmo sentindo a grama roçar carinhosamente nos meus pés, até que paramos diante de uma grande árvore. Avisto dois balanços que se remexem brandamente no ritmo do vento e me sento em um deles.

- Que lugar maravilhoso!- digo com a respiração um pouco ofegante.

Adam se senta ao meu lado e sorri olhando ao redor.

- Eu costumava vir sempre aqui quando era menor. Matthew e eu costumávamos brincar muito nesse lugar- ele diz, seus olhos desfocados revivendo uma lembrança.

 - Você e Matthew parecem ser grandes amigos mesmo- falo, tentando iniciar uma conversa.

- Somos, mas agora em circunstâncias diferentes.

Pego minha garrafa de suco e abro dando um pequeno gole.

- Adam, qual a sua idade?- pergunto, desviando um pouco do assunto.

- Tenho exatos vinte e três anos.

Quase me afogo com o suco ao ouvir sua resposta.

- E como é governar um Reino tendo tão pouca idade?- pergunto pasma.

- É complicado, penso que a maioria dos jovens da minha idade não tem um terço da responsabilidade que eu tenho. Mas eu gosto disso, afinal eu nasci para governar Oryon e eu não tive escolhas.

Ele suspira e de repente assume um ar triste.

- Meus pais morreram quando eu tinha apenas nove anos, devido a um acidente e eu fui mandado as pressas para um colégio interno- ele balança a cabeça afastando alguns pensamentos dolorosos- Lá eu aprendi tudo o que alguém precisa saber para governar, enquanto Oryon era governada por regentes. Visto que eu era muito novo para ser rei, eu tive que permanecer no colégio até meus dezoito anos, que foi quando eu tomei posse do trono.

- Adam eu sinto muito pelos seus pais, me perdoe por ter feito você entrar em um assunto tão delicado- falo um pouco envergonhada e ao mesmo tempo sentindo uma admiração crescer em meu peito. Ele foi forte apesar de tudo o que passou e ainda assumiu o que já estava de fato programado para sua vida. Imagino o quanto deve ter sido difícil para ele não ter tido a presença dos pais, nos momentos em que mais precisou.

Ele suspira novamente e me olha.

- Não tem problema Julie- e dá um pequeno sorriso- e você, qual sua idade? Espera, não me fala, eu vou adivinhar.

Adam fecha os olhos e faz uma cara de quem está tendo uma visão.

- Hum, você tem... exatamente... é... dezessete anos- então abre os olhos, bem a tempo de me ver com uma cara de boba- acertei?

- Sim- falo sorrindo.

Então ele se aproxima de mim e fala em um sussurro:

- Não conte para ninguém, mas além de ser rei eu também sou vidente nas horas vagas.

Eu rio e dou um soco leve em seu braço.

- Se fosse vidente mesmo, você teria previsto isso- falo rindo mais ainda.

- Hey, isso não valeu- Adam fala fazendo uma careta e massageando o braço.

 - E Matthew, quantos anos ele tem?

- Ah, ele tem vinte e um.

- Sinceramente não gostei do jeito que ele me olhou durante o café da manhã. E confesso que fiquei bem aliviada ao ver que ele não compareceu no almoço.

- Matt e sua personalidade forte- Adam sorri- acho que ele nunca vai mudar esse jeito de garanhão. Posso até afirmar que deve estar se aventurando com alguém agora.

Faço uma anotação mental para lembrar de me manter bem longe desse príncipe Matthew, o garanhão.

- Como é Oryon Adam? Ouvi dizer que é um dos reinos maiores e mais ricos- falo, tentando mudar o assunto.

- Não tanto quanto Cancordion, mas sim, pode-se dizer que ele se destaca perante os demais- Adam exibe um sorriso orgulhoso em seu rosto.

A brisa bagunça meus cabelos e aproveitando que estou em um balanço, começo a me balançar levemente.

- Airmont existe de verdade?- pergunto.

- Existe, só que é um reino muito distante. Meu tio realmente morou lá, até o dia em que faleceu e não deixou nenhum herdeiro.

 - Pensei que você havia inventado essa história- digo.

- Julie, aprenda uma coisa, as melhores mentiras são feitas de meias verdades.

Talvez ele esteja certo. Mas mesmo assim, considero que não há melhores mentiras, porque a verdade sempre irá aparecer; de uma maneira ou de outra.

-Adam- o chamo e paro de balançar- eu observei uma coisa- falo olhando fixamente em seus olhos verdes- você e o rei Ignatius são muito próximos, ele te trata como a um filho, como pode ter alguma desconfiança dele?

- Julie- ele balança um pouco a cabeça- uma coisa essencial para governar que eu aprendi no colégio, foi que nunca devemos confiar plenamente em alguém, e que as pessoas próximas a nós são as que conhecem as nossas maiores fraquezas, por isso sempre temos que ter um pé atrás.

- Mas você já parou pra pensar que isso pode ser apenas coisa da sua cabeça? Que o rei de Cancordion pode não estar por trás dos ataques a Oryon?-pergunto.

- É por isso que você está aqui Julie, para me ajudar a descobrir.

- Mas, por que você me escolheu? Sei lá, entre tantas outras pessoas, nobres de verdade, por que escolheu a mim?

- Pela minha intuição, ela não costuma falhar- Adam fala, convicto- ah, e antes que eu me esqueça, um mensageiro me avisou que seus pais chegaram em segurança a Oryon e já estão bem acomodados em sua nova casa.

Meus olhos chegam a brilhar com essa notícia e abro um sorriso enorme.

- Que bom vê-la feliz- ele sorri- acho bom nós irmos não?

-Sim. Mas o caminho é um pouco grande não é? Que tal apostarmos uma corrida?- pergunto querendo aliviar a tensão e a ansiedade acumulada em mim.

- Sério?- Adam questiona, debochado.

- É claro, está com medo de perder?

- Não- ele sorri de lado- eu nunca perco.

- Vamos ver então!- e saio correndo.

Adam até me dá alguma vantagem me deixando passar a sua frente, mas em poucos segundos ele já está ao meu lado e ao perceber a minha indignação puxa minha cintura, fazendo com que eu me atrapalhe e diminua a velocidade  e assim ele dispara veloz e sorridente. Quando chego ao final ofegante, ele já está lá me esperando com um sorrisinho sarcástico no rosto.

- O que eu disse?

Apenas bufo contrariada, antes de entrar emburrada no palácio.

Em Busca da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora