VINTE E SETE

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O palácio está em um completo silêncio, creio que todos estão dormindo. Consigo ouvir até o som dos meus pés descalços pisando nos degraus da escada. Não é um horário propício para conversas; mas Adam me pediu para que o encontrasse na biblioteca, pois queria tratar de alguns assuntos pendentes comigo e supôs que lá seria um local adequado para isso. Então, agora estou indo sorrateiramente ao seu encontro.

Avisto um guarda rondando o saguão e me escondo rapidamente atrás de uma pilastra.

Só neste pequeno percurso do meu quarto até aqui, já me deparei com quatro guardas fazendo a ronda, felizmente fui ágil o bastante para me esconder antes que eles pudessem me avistar, pois caso eles me encontrassem certamente iriam me encher de perguntas, sobre o motivo para eu estar acordada à esta hora da noite.

Respiro fundo, com as costas encostadas na pilastra esperando que o guarda se distancie para que eu finalmente possa prosseguir.

Tudo está tão estranho...

O clima do palácio, logo após o ocorrido de ontem, se tornou pesado e sombrio. Rei Ignatius mandou reforçar a segurança e agora estamos cercados por milhares de guardas. E se antes eu já me sentia sufocada, agora me sinto em uma prisão. O que me deixa ainda mais atordoada, é não saber o que está acontecendo lá fora ou qual a atual situação do reino. A única coisa que eu sei, é o que vi ontem pela janela. Apenas aquela imagem assustadora e eu não faço a mínima ideia do que isso gerou, ou qual foi o impacto que isso causou. Tentei buscar informações; tentei sair do palácio, mas fui impedida de diversas maneiras. O único que poderia me informar era Matthew, mas ele passou praticamente o dia inteiro fora, só o vi algumas vezes e ele não me revelou absolutamente nada, apenas consegui perceber que havia algo de errado pelos seus olhos... seus olhos me disseram. Nem rei Ignatius, nem a rainha Angelique deram o ar da graça de sua presença.

Eu não sei o que é, mas deduzo que algo de muito grave está para acontecer.

O palácio ficou tão movimentado durante o dia que parecia haver uma festa, pessoas andando para cima e para baixo, guardas chegando e saindo, mas o clima era perceptivelmente contrário a isso. Adam foi o único que me fez companhia e que conseguiu dissipar um pouco da minha tensão. A sua pose calma e confiante me trazia uma paz momentânea e a sua fala doce e divertida me distraía dessa atmosfera conturbada do palácio.

Ele parece indiferente a tudo isso, com uma calma estranhamente adversa a realidade do que estamos vivendo.

Assim que o guarda se vai, sigo rumo a biblioteca, antes que mais alguém possa aparecer. E enquanto estou andando, olho para todos os lados e permaneço com os meus ouvidos atentos; tão atentos que ouviriam até o som de uma agulha caindo no chão.

Sinto a adrenalina pulsando em minhas veias, assim que seguro a maçaneta da porta.

- Adam- sussurro ao entrar.

A biblioteca está completamente escura, o que de fato é muito estranho. Acho que ele não está aqui...

- Oi- ele fala como um sopro em meus ouvidos.

Dou um pequeno pulo para o lado, assustada com a sua presença repentina.

- Por que estamos mergulhados nesta escuridão? Quase não consigo enxerga-lo.

- Os guardas estão atentos a tudo e certamente viriam verificar caso a luz estivesse acesa. E isso não pode acontecer; já que não podemos dar uma justificativa concreta para eles- sussurra, muito próximo a mim.

- Entendo- devolvo, em um sussurro.

A nossa conversa se baseará nisto. Sussurros. Não podemos correr o risco de que nos escutem, pois do jeito que o palácio se encontra, com certeza seríamos apontados como suspeitos de algo; por estarmos conversando escondidos na calada da noite.

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