TRINTA E SEIS

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Bem... é hoje.

Hoje, é o dia de minha execução e nada poderei fazer para impedir, mas não estou tão apavorada, como pensei que ficaria. Acho que passei da fase de aflição para a fase da aceitação. E agora só me resta esperar...

Termino de colocar o brinco dourado com pingentes azuis e me sento no banco de metal ao lado das grades, para calçar a sapatilha.

Creio eu, que os guardas já devem estar vindo para me buscar, então preciso ficar pronta o mais rápido possível.

Encosto na parede e ajeito meu vestido vermelho com detalhes em dourado, e com os dedos começo a pentear o meu cabelo. Talvez eu faça um penteado simples, já que isso me ajudará a passar o tempo.

Se vou morrer, pelo menos morrerei com dignidade.

Hoje pela manhã, um guarda me tirou da cela e me levou até um cômodo, onde eu pude fazer minha higiene pessoal, tomar um banho rápido, vestir roupas limpas e ainda, ao sair ele me deu comida e bebida. O mais estranho nisso tudo, não é o fato de que o vestido e as jóias que estou usando, são luxos demasiados para uma pessoa que está prestes a morrer, mas sim, por que eles teriam essa gentileza comigo? Por que teriam esse resquício de preocupação?

Talvez, e apenas talvez, tenha sido Matthew que mandou este guarda até mim.

Não sei, mas talvez seja por pena ou para aliviar um pouco do meu sofrimento. Simplesmente, não sei.

Olho para a escuridão além de minha cela e fico ali, esperando pelo momento em que virão me buscar.

Passei a noite inteira pensando em como irão fazer para me matar. Será com uma seringa, como da outra vez? Ou para que não haja erros, vão usar algo mais certeiro, como uma espada ou uma arma?

Suspiro e meus pés involuntariamente começam a se mexer, devido a uma carga de ansiedade que eu não estou conseguindo controlar.

Impulsiono meu corpo para frente e apoio os cotovelos em minha perna.

Que demora...

Eu já consegui aceitar que o meu fim está próximo, agora o ruim é essa espera, que parece interminável. Minha mente se enche de pensamentos e a coisa que eu menos quero agora, é relembrar, pois eu sei que isso apenas me faria ficar mais triste do que já estou.

É por isso que não quero pensar em absolutamente nada. NADA. Nem em minha família, nem em Matthew, muito menos em Adam...

Ouço o mesmo barulho que ouvi no dia anterior, parecido com algo de ferro sendo arrastado e de imediato, já sei que alguém está vindo.

Me levanto rapidamente do banco, tentando parecer inabalável, mas por dentro, só eu sei o quanto estou destruída.

Mordo o lábio inferior ao ver uma luz branca se aproximando de minha cela e baixo o olhar, esperando.

Ouço quando os passos vão ficando cada vez mais próximos, e o meu estômago vai embrulhando na mesma intensidade.

Queria pelo menos ter escrito uma carta de despedida, mas nem sequer pude fazer isso.

Ainda de cabeça baixa e tentando não esmorecer, meus ouvidos captam a parada brusca dos pés, da pessoa que veio me buscar.

Ergo lentamente a cabeça.

- Oh...

Arquejo com a mão na boca, sem conseguir acreditar no que estou vendo.

- Julie- ele fala. E eu mal posso acreditar que estou ouvindo novamente sua voz a me chamar.

Em Busca da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora