VINTE E DOIS

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Engulo em seco e paro de andar. Nervosa é a palavra que me define neste exato momento.

Estou no saguão e já consigo ouvir claramente uma música suave, advinda do salão em que estou prestes a entrar. Repasso mentalmente o meu plano antes de prosseguir, e devo admitir que de fato é um pouco arriscado, mas eu não podia simplesmente ficar de braços cruzados perante tantas injustiças com a minha classe; a classe Baixa. Eu tenho que fazer alguma coisa! E como eu já disse, tenho vários motivos para estar aqui no palácio- me passando por uma falsa condessa- e um dos; é fazer algo para ajudar essas pessoas desfavorecidas. E eu sinto que agora chegou o momento adequado para isto, visto que, Edward o futuro rei de Magnest, também possui uma vontade inusitada de poder ajudar essas pessoas que pertencem a escória do reino; segundo rainha Angelique. Mas para que o meu plano dê certo, é necessário que eu tenha o seu apoio e para isso, usarei as melhores palavras para convence-lo. Então, me encontro nervosa, pelo simples fato de que esta é a melhor, senão a única, oportunidade que terei para realizar meu propósito mais digno.

Respiro fundo e analiso pela décima vez o meu vestido, vermelho- uma das cores que simboliza o reino de Cancordion- com um decote simples e discreto, justo na cintura e solto até a altura dos joelhos. Não me dei ao luxo de me arrumar tanto hoje, pois pretendo passar despercebida em meio às pessoas que estiverem no salão. Calço simples saltos pretos e meu cabelo está ondulado e solto, sem nenhum penteado. Só passei uma maquiagem leve, porque cedi a insistência de Brenda, senão nem o teria feito. Ajeito minhas luvas pretas e avanço em direção a porta. Ao me aproximar, aceno com a cabeça, como um sinal para que os guardas possam abri-las.

A vontade que tenho é de voltar para meu quarto, no exato momento em que meus olhos identificam ao fundo; rei Ignatius conversando com ninguém mais e ninguém menos do que, Charles. Meu estômago se contrai e demoro alguns segundos para me recompor e enfim, entrar no salão.

O que ele está fazendo aqui?

Desde que escutei aquela conversa no gabinete, tenho ficado apreensiva e agora encontrar os dois juntos novamente, me deixa completamente angustiada.

- Tudo bem. Você está certo. Mas quando pretende realizar tal feito?
- Daqui a duas semanas.

A voz grossa de rei Ignatius soa nitidamente em meus ouvidos e nem parece que se trata de uma simples lembrança, pois é como se eu estivesse vivenciando novamente aquela cena.

Cortina, esconderijo, medo, confusão.

Congelo instantaneamente no lugar. Os músicos continuam tocando e a melodia continua fluindo. As pessoas: o rei, a rainha, Matthew, Edward, Charles e uma mulher que suponho ser a sua esposa; compõe o cenário e conversam distraidamente, espalhados pelo enorme salão. Os criados continuam em um zigue zague servindo e repondo os alimentos na mesa ao centro. Tudo tão perfeitamente normal, que nem sequer reparam no pavor que acaba de se instalar dentro de mim. As semanas já se passaram...

Charles está aqui. Rei Ignatius está comemorando algo. Matthew não sabe do que se trata. Tudo indica que...

- Vai mesmo continuar parada na entrada?

Balanço a cabeça, surpresa com a pergunta repentina. Não posso demonstrar qualquer sentimento agora. Tenho que me conter, pois ainda tenho que convencer Edward a me ajudar, então, não posso nem sequer pensar no que rei Ignatius e Charles pretendem fazer, isso geraria uma grande preocupação e me impediria de me concentrar.

Encaro Matthew, que está vestido com um terno preto aberto, camisa branca, calças jeans escuras e sapatos sociais. Seus cabelos loiros estão penteados para trás e ele me olha, confuso, esperando minha resposta.

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