DEZESSETE

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Angústia, coração acelerado, árvores altas que impedem minha visão e um cavalo que me leva... Galopando rapidamente, sem direção. Olho para os lados buscando uma saída, mas de repente tudo começa a girar e a ganhar formas estranhamente assustadoras. Tento me controlar mas o redemoinho que se forma na floresta parece querer me engolir, então grito com todas as forças mas não escuto som algum.
Minha voz... O que está acontecendo?
Tudo parece tão surreal. Me sinto presa naquele cenário sem cor e então sem ao menos esperar, sou arremessada ao chão com força, só que inexplicavelmente não sinto dor alguma.
Me levanto cambaleante e tento correr, mas os meus pés parecem estar grudados no chão e não consigo me mover nem um centímetro.
Tudo se torna retorcido e um grande par de olhos azuis surge a minha frente. Me abaixo assustada, mas ele começa a me rodear, me encurralando. Olho atordoada para o céu que se mantém estagnado e então nuvens escuras começam a surgir de todos os cantos cobrindo lentamente a copa das árvores, sei que em instantes elas irão me encobrir também e começo a entrar em desespero...

Abro meus olhos vagarosamente e enxergo tudo embaçado, pisco várias vezes até que a minha visão finalmente se estabiliza.
Passo a língua entre os lábios e sinto que eles estão secos assim como a minha garganta.

Preciso de água.

Mas primeiramente, onde estou? O que aconteceu? Viro a minha cabeça para o lado e sinto uma pequena pontada de dor. E junto com essa pontada uma enxurrada de pensamentos adentra em minha cabeça. O acidente. Sim, é por isso que eu tive esse pesadelo horrível, foram como flashbacks...

- Julie, se você pudesse sentir como estou arrependido agora e se eu pudesse voltar no tempo, eu mudaria muitas coisas.

Olho para o meu lado direito e vejo Matthew sentado em uma cadeira com a cabeça abaixada e apoiada na cama segurando a minha mão enfaixada. Não o tinha percebido antes e ele parece estar arrasado. Aperto levemente a sua mão e ele rapidamente levanta a cabeça surpreso e me olha como se não estivesse acreditando no que vê.

- Julie, você... Você acordou- ele se levanta e me abraça.

Seus cabelos loiros e macios roçam em meu rosto e eu permaneço imóvel. Eu realmente achei que esse acidente custaria a minha vida. E sinceramente eu não sei o que pensar neste momento, não consigo esquecer o que Matthew me disse e tudo o que ele me fez passar. Posso ter uma parcela de culpa nisso, já que não deveria ter aceitado cavalgar tendo pouca experiência, mas foi ele quem me deixou sozinha, foi ele que me magoou de uma forma que eu acho que nunca irei esquecer.

Ele se afasta rapidamente percebendo o meu desconforto.

- Me diga, você está bem?

- Estou com muita sede- falo e encaro a parede. Agora reconheço, eu estou em meu quarto.

- Eu vou trazer água e chamarei o doutor para te examinar.

Fixo meu olhar nele e vejo que está com olheiras enormes e nitidamente cansado, mas o sentimento de alívio é o mais perceptível em sua face.

Ouço a porta se abrir e um homem idoso com uma maleta em suas mãos adentra a passos largos em meu quarto.

- Oh, que ótimo que já acordou! Como se sente?

- Ela está com sede doutor!- Matthew responde por mim.

- Sim, busque um pouco de água para ela então- ele fala e deposita a sua maleta em cima da penteadeira e se aproxima de mim.

Matthew assente um pouco desnorteado e se retira.

Ajeito a minha camisola e tento me sentar na cama, mas assim que me ergo uma tontura repentina me impede de prosseguir.

Em Busca da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora