TRINTA

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- Isso não me parece a coisa certa a se fazer!- sussurro, externando meus próprios pensamentos, enquanto olho para o anel com o selo real e a carta em minhas mãos.

Eu tenho aqui, tudo o que Adam quer.

E o ambiente é extremamente propício para o furto: não encontrei rei Ignatius, talvez tenha saído ou esteja em algum outro canto do palácio, Matthew ainda dorme profundamente e eu me encontro sozinha no gabinete a portas trancadas. O que devo fazer agora que já tenho tudo em mãos; é sair daqui o mais rápido possível, esconder tudo embaixo do colchão no meu quarto e aguardar pacientemente pela chegada de Adam. Simples. Ou pelo menos, deveria ser.

Mas a minha consciência está pesada, e eu não consigo controlar meus pensamentos.

Isso é errado!

É um roubo!

Estou traindo meus valores!

E principalmente estou traindo a confiança de Matthew!

Eu não me importo com os motivos que levaram Adam a me mandar fazer isto, simplesmente dentro de mim, sinto que é errado. E que nada pode justificar este roubo.

Respiro fundo e em um ímpeto de coragem; devolvo para dentro do cofre, o anel e a carta. Meus dedos se atrapalham na hora de colocar a senha, mas não é necessário recorrer ao caderninho que peguei anteriormente na gaveta.

Por sorte, ou não, quando estava bisbilhotando no gabinete esta manhã, me deparei com um caderninho em meio a bagunça de papéis na última gaveta e ao folhea-lo, percebi um conjunto de números pairando solitários escritos na capa. Achei aquilo muito estranho, então de imediato me lembrei que a um tempo atrás, um quadro peculiar havia me chamado a atenção. Juntei os fatos e afim de não ficar na dúvida, corri até ele, o tirei da parede e... ali estava a confirmação das minhas suspeitas.

O cofre.

Tudo pareceu tão favorável, que me sinto impelida a cometer o ato de furtar o anel e a carta, e enquanto coloco o quadro de volta ao seu lugar, me questiono intimamente se não é o que eu deveria fazer, pois sei que a partir do momento em que eu colocar os pés para fora do gabinete, não poderei voltar atrás e nem terei outra oportunidade como esta.

Olho furtivamente para trás enquanto aperto minhas mãos, indecisa.

Se eu não fizer o que Adam me ordenou, não sei o que poderá acontecer comigo. Certamente ele ficará muito bravo, ou me punirá de alguma maneira.

Posso estar colocando tudo em risco, se eu optar por tal coisa.

Mas se eu o fizer, estarei traindo meus próprios conceitos. E será que conseguirei conviver para sempre com isto, pesando em minha consciência?

Colocando essas condições em uma balança imaginária, posso nitidamente ver a resposta que  procuro.

Sinto muito Adam!

Mas não posso fazer algo que considero extremamente errado.

Me viro decidida e rumo em direção a porta. Espero que Adam me compreenda, caso contrário, terei de lidar com as consequências.

Saio com cautela, olhando para todos os lados e aperto o passo, para me distanciar o mais rápido possível do gabinete. Estava prestes a virar o corredor para ir ao meu quarto, quando ao longe vejo Brenda que aparenta um estranho nervosismo. Decido mudar minha rota e segui-la, ficando a apenas alguns metros de distância atrás.

Suponho, que por ela não ter me notado e por ter errado duas portas antes de enfim entrar em seu quarto, que está muito perturbada. Nunca a tinha visto tão distraída assim.

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