VINTE E NOVE

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As próximas horas serão decisivas.

Foi o que ele me disse, antes de me trancar novamente no quarto.

E me deixou aqui, confusa. Nem se comoveu com as minhas súplicas para que me deixasse permanecer ao seu lado. Mas não o chamo de impiedoso; sei que estava apenas pensando em minha segurança.

Ah Matthew... se soubesse que enfrentaria qualquer perigo só para estar contigo.

Frustrada, viro vagarosamente a cabeça para o lado, para conferir pela milésima vez, se já amanheceu. Percebo pelas frestas das cortinas- que balançam levemente no ritmo do vento- um solitário raio de sol, que preguiçosamente ilumina uma parte do quarto. Mordo meu lábio inferior e suspiro, ansiosa.

Creio que daqui a pouco, Brenda virá até aqui e enfim poderei sair. É o que espero. Na verdade, para não entrar em pânico, fixei em minha mente que ao amanhecer alguém viria "me socorrer". Digo isso, porque só eu sei o que passei essa noite. Aqui; trancada. Não consegui dormir nem por um mísero minuto, pois cada vez que fechava meus olhos, pensamentos horríveis se passavam em minha cabeça.

Não tenha medo.

Lembro perfeitamente desta frase, apesar de estar mergulhada e distraída na imensidão dos teus olhos azuis.

Lembro também, que balancei negativamente minha cabeça. Eu estava tão assustada... eu não queria te perder novamente, ou ao menos pensar que te perdi...

E o que você fez Matthew? Apenas me abraçou e sussurrou em meu ouvido "vai ficar tudo bem". Logo depois, saiu a passos largos do meu quarto. Sem nem olhar para trás.

Aperto com força o lençol que me cobre e viro meu corpo, encostando minhas costas por completo no colchão. Lentamente, encho meus pulmões de ar e prendo a respiração, enquanto fito o teto.

  Aquela imagem ainda está tão vívida em minha mente, que é como se eu a estivesse vivenciando agora.

Solto todo o ar que segurava e fecho meus olhos.

Confesso que fui irracional. E que me preocupei demasiadamente com Matthew.
Mas ainda consigo sentir o alívio pulsando em minhas veias ao lembrar de quando o vi passar pelo portão principal. Eu quase não acreditei.

Ontem, já estava no auge da noite e eu me encontrava sozinha, sentada nos degraus do palácio. O frio era intenso e eu ainda nem tinha cuidado dos machucados que ganhei, devido ao incidente com o guarda. Lembro de apertar os braços contra o corpo, para tentar me aquecer, quando senti meus lábios tremulando involuntariamente.
O clima estava tão tenso e pesado, que talvez isso tenha influenciado os pensamentos ruins. Eu não conseguia parar de pensar que Matthew estava morto. Por isso que tamanha foi a minha felicidade ao vê-lo atravessar aquele portão. Eu corri ao seu encontro e o abracei com todas as minhas forças. E o fiz prometer que não me deixaria sozinha novamente. Ele me prometeu.

Mas não tardou a quebrar a promessa.

Abro meus olhos, mesmo sentindo a minha cabeça pesar e coloco as mãos sobre o rosto. Suponho que mais tarde terei uma imensa dor de cabeça. Mas eu simplesmente não consigo descansar agora. Não consigo.

Impulsiono meu corpo para cima e apoio o antebraço esquerdo no colchão, enquanto afofo o travesseiro com a mão direita. Respiro lenta e profundamente, encarando a porta fechada e bufo, antes de voltar para a minha posição anterior.

Apenas o que me deixa tranquila é saber que não há nada de grave acontecendo. Ou pelo menos, eu deduzo que não há. Notícias ruins chegam rápido. E até agora, nada chegou. Nem notícias boas, nem notícias ruins. Queria ser otimista e pensar que a situação lá fora se normalizou, que o reino já não está em clima de guerra e que todos estamos à salvo. Mas há algo que me impede; algo que borra essa quase perfeita harmonia de pensamentos.

Em Busca da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora