TRINTA E DOIS

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Não esboço nenhum tipo de reação, apenas encaro seus olhos verdes, tão profundamente que consigo ver meu próprio reflexo em suas pupilas.

As palavras proferidas por sua boca foram tão fortes e inesperadas, que me levam a crer que tudo não passou de uma brincadeira.

- Pare com isso Adam- sorrio- não brinque com algo assim.

Dou um leve soquinho em seu ombro esperando uma gargalhada e um okay, você me pegou! Mas ao invés disso ele franze a testa e inclina levemente a cabeça, sem entender.

- Não estou brincando!- afirma em um tom sério- você e eu voltaremos hoje para Oryon!- repete, enfatizando cada palavra para não que não me reste nenhuma dúvida quanto a sua veracidade.

É como um choque de realidade! Meu coração instantaneamente dispara e minha garganta seca. Olho ao redor, procurando algo, alguém. Não sei ao certo! Eu apenas sinto que devo correr, fugir. É como se fosse um pressentimento, mas decido ignora-lo. 

- O que? Mas como... eu não...- me enrolo com as palavras. Não consigo organizar o turbilhão de pensamentos presentes em minha cabeça.

Adam olha disfarçadamente para trás com um sorrisinho no rosto, certamente com receio de que algum nobre esteja nos observando.

- Julie, é melhor conversarmos em outro lugar- diz, razoavelmente baixo.

Assinto, atordoada demais para contraria-lo e o sigo, de cabeça baixa me guiando pelos seus pés.
Nem sequer me dou ao trabalho de cumprimentar os nobres que encontramos pelo caminho. Parece que algo dentro de mim está despedaçado, não sei explicar. E isso é estranho. Ao invés de estar pulando de alegria, sinto como se tivessem me dado um soco no estômago.

E não adianta tentar ignorar a realidade, agora é hora de encara-la.

Terei que partir!

E ao mesmo tempo em que me sinto feliz porque poderei ficar com a minha família, também me sinto absurdamente triste, por ter que abandonar Matthew.

Eu prometi a ele que não o abandonaria, e agora... terei que quebrar minha promessa. E eu sei que algum dia isso teria que acontecer, só não pensei que tivesse que ser hoje.

Não há saída!

Não há escolhas!

Logo eu, que fiquei decepcionada e brava por ele ter quebrado sua promessa e me deixado sozinha, aquela vez.

Ah, que ironia do destino! Agora serei eu a fazer isso. Só que não serão por algumas horas, ou por alguns dias, eu terei que abandona-lo para sempre.

Estava tão absorta em pensamentos que quase colido com as costas de Adam, que parou bruscamente a minha frente, ainda bem que meus pés foram rápidos e frearam, antes que isso pudesse acontecer. Olho ao redor, enquanto ajeito meu vestido preto. Nem tinha percebido que já havíamos nos afastado tanto do salão, para estar na ala dos quartos de hóspedes.

Ele abre uma porta e entra, e não precisa me dizer absolutamente nada para saber que devo fazer o mesmo.

Relutante, mas sem alternativas, entro e fecho vagarosamente a porta atrás de mim.

A primeira coisa que avisto, é uma mala aberta em cima da cama, quase desfeita, e isso me desperta estranheza. Se Adam me disse que iremos partir hoje de Cancordion, porque ele começou a desfazer a mala?

- Não fique tão longe! Venha aqui.

Sua voz aveludada me surpreende e eu desvio meu olhar da mala, para encara-lo. Ele está de costas para mim, tirando seu terno cinza enquanto me fita pelo espelho na parede.

Em Busca da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora