Capítulo 4.1 - Hotel

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Dorian...

Acordo com o sol no rosto, porcaria dormi demais, nem tinha percebido que estava tão cansado.

Pulo da cama e pego minhas coisas, visto meu uniforme de volta. Saio dos meus aposentos e me aproximo o quarto número 12, coloco a orelha contra a porta de madeira e esta tudo em silêncio, forço um pouco e a porta abre, pulo para trás, mas não vejo ninguém, deveria estar só encostada. Entro e nenhum sinal dela.

- Droga. – digo e soco a parede. – Perdi o anjo. – saio e vou correndo até a recepção, fecho lá e vou em sentido a porta, talvez ela não tenha ido muito longe.

- Bom dia. – uma voz doce me faz parar no mesmo instante. Olho para o lado e uma porta dupla indica restaurante, dou alguns passos e lá está, sentada em uma mesa próxima a janela, comendo um belo pedaço de bolo de chocolate. Minha barriga ronca, estou com fome, esqueci de comer algo ontem. Fico visível, disfarçando alguns detalhes, tenho um dom, bem mais avançado nessa parte, nem os anjos conseguem ver o que esta escondido nessa situação, mas tem defeitos, se eu estiver totalmente invisível eles podem me ver. Não entendo isso, mas fazer o que né.

- Bom dia. – digo da forma mais gentil possível a moça que está arrumando uma mesa. Encontrei alguém que trabalha aqui, milagre, o hotel não está abandonado.

- Bom dia. - ela me diz e seus olhos indicam que quer me comer vivo, não me matar, não isso, quer me agarrar e fazer eu posse dela. Dou um sorriso matador e lanço meu melhor olhar de conquista, ela se derrete, quase se jogando aos meus pés, tenho vontade de rir da cara da moça, essa é muito fácil para mim. Me distancio devagar dela, mas sinto seu olhar de cobiça sobre mim.

Sirvo-me de pão com muito recheio, pego bolo também, uma boa xícara de café e sendo na mesa atrás do anjo, ela esta de costas para mim, como eu estou para ela. Fiquei muito perto, até posso sentir seu perfume de canela.

- Porque ela precisa cheirar a canela. – resmungo baixinho, eu adoro cheiro de canela.

Como tudo rápido, quase engolindo, mas não desvio meu olhar dela, apesar de estar de costas, consigo ver alguns detalhes.

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Agatha...

Estou no segundo pedaço do bolo de chocolate, chocolate é uma das coisas que me deixa calma, canela é outra. Mas no momento não consigo me acalmar, desde que aquele jovem entrou, eu não consigo me concentrar e relaxar. Cantou a atendente do hotel e ela só faltou cair de joelhos aos seus pés e por fim sentou bem atrás de mim, com o resto do restaurante vazio, por que ele precisou sentar bem atrás de mim?, não consigo vê-lo e nem quero, ou quero?, mas aquele perfume masculino amadeirado está me deixando louca, o pior é que consigo sentir um leve toque de canela no meio desse aroma embriagante. Ele está de costas para mim, mas consigo sentir seus movimentos, empurro a cadeira um pouco para frente, a fim de aumentar nossa distância, mas é inevitável.

Com o gesto bato na mesa e o garfo cai no chão, ouvindo de longe o tilintar do talher. Me abaixo para pegar, mas uma mão já está o segurando, olho para mão e sigo percorrendo com meus olhos toda a extensão até chegar aos seus olhos.

- Obr..Obrigada. – digo gaguejando, por que fui gaguejar logo agora?. Seguro o garfo e encaro seus olhos de um tom quase preto, vejo sua alma através deles, uma nuvem escura, uma alma negra. Ele não soltou o garfo, assim como eu, parece que estamos presos um ao outro.

O barulho de pratos batendo faz ele soltar o garfo e se virar rápido, olho para o lado que veio o som, mas não tem ninguém além da moça, que me fuzila com os olhos, não entendo o porque, afinal não fiz nada de mais, ou fiz?

Fico perdida, nem sei mais o que eu pensava e olho para o garfo, vendo aquela mão de pele clara como a minha, uma mão grande e forte, cheia de veias que seguem pelo restante do braço dele, pelo menos até onde eu vi.

Sinto um arrepio na espinha ao lembrar dos seus olhos, pareciam olhos da morte, ou de alguém que esta ligado direto com ela. Balanço a cabeça, devo estar delirando, sabia que não deveria ter voado tanto ontem debaixo daquele sol quente, estou tendo alucinações.

Levo o suco de laranja a boca, o líquido treme, assim como todo o meu corpo, espio por minhas costas, ele se foi, a cadeira está vazia e nem vi ele partir. Coloco o copo vazio na mesa, como um simples olhar pode dizer tanto?, fecho os olhos e vejo aqueles olhos, realmente acho que estou delirando.

2Almas 1Coração (5/Romance/fantasia)Onde histórias criam vida. Descubra agora