Capítulo 9 - Terceiro dia

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Dorian...

- Ai.

- Fica quieto Dorian, quanto mais se mexer, mais vai doer... pronto.

- Como está.. vai ficar marca?

- Não as penas iram esconder. – Agatha se levanta, ela estava removendo os pontos da asa.

- Seu rosto esta melhor.

- Um beijo ajudaria.

- Nem nos seus sonhos. – ela diz se afastando.

- Não posso nem sonhar?

- Não.

Agatha guarda as coisas e se arruma, acho que vai sair.

- Agatha.

- Diga. – ela olha para mim.

- Por que você veio até a floresta.

- Por causa do livro preto. Achei que soubesse?

- Eu sei.. mas ele está aqui?

- Acredito que não, mas foi aqui que encontraram o livro branco.

- Aonde? – ela suspira. – Não encontrei o local, eu quero ver se acho alguma relação com os lugares. – ela para de falar.

- Relação?

- Nada... esquece. – diz colocando sua bolsa contra o corpo. – Vou sair.

- Vai me abandonar?

- Eu volto, só preciso buscar mantimentos, você come demais. – Agatha diz saindo da cabana. – Até depois.

Então o livro branco estava aqui, bom saber, mas aonde?, ela não completou a frase, mas eu entendi, ela vai atrás do local onde estava os outros livro e ver se tem relação.

Bem que Agatha poderia aceitar minha proposta, posso fazer um bom acordo com ela.

❧❧ ❧❧ ❧❧

Agatha...

Acho que falei demais.

- Porcaria, agora foi, tenho que cuidar com o que digo a ele, não posso esquecer que ele também quer o livro preto.

Chego ao pequeno vilarejo, preciso comprar mantimentos, Dorian com mais um dia ou dois, pode tirar a tala e já consegue voar, então ele vai seguir o caminho dele e eu o meu, se ele não me seguir.

Paro na barraca de frutas e compro várias, maçã, pêra, pêssego, manga, banana. Alguns grãos, como arroz e claro macarrão, não posso esquecer dos temperos, muito menos de canela e café.

- Acho que comprei tudo. – digo pegando a última sacola. Agradeço, por ter um meio de conseguir dinheiro na terra, ter amigos humanos ajuda muito.

Me deparo com uma barraca de vinhos e lembro dos vinhos Perovani, aqueles que Kaliel, ou melhor, seu nome de humano, Bento produz. Não tem dele aqui, mas já provei e sei que provavelmente muito em breve aquela delícia estará espalhada pelo mundo.

- Vejam seu futuro aqui. – olho para o lado e uma cigana se aproxima.

- Moça.. quer que lei seu futuro? veja seu grande amor?– ela diz já pegando em minha mão.

- Não... eu não. – mas ela segura firme e olha a palma de minha mão.

- Pelos céus. – ela diz me soltando e me encara. – Um demônio.

- O que? – digo confusa.

- Ele é um demônio.

- Ele quem senhora? Do que você está falando.

- Do seu amor. – as sacolas que estava segurando caem.

- Isso é impossível, demônios não existem.

- Seu futuro é claro como água, eu vi um demônio. – ela diz assustada, tento encostar em seu ombro, mas ela recua.

- Demônios não tem coração.. como poderia amar um?

- Não sei. – ela balança a cabeça e sai correndo.

Pego as sacolas meio atordoada. Ela deve ter visto errado, primeiro eu não tenho um amor, segundo, mesmo que tivesse, não seria um demônio.

❧❧ ❧❧ ❧❧

Dorian...

- Tudo bem Agatha? Parece pálida. – digo ao ver ela abrir a porta.

- Eu sou branca por natureza Dorian. – reviro os olhos.

- Não tão branca como está agora, parece leite.

- Que droga, queria ter comprado queijo. – ela diz colocando as sacolas sobre a mesa.

- Então... diz o que aconteceu? – insisto em saber.

- Uma cigana doida me abordou.

- E...

- Resolveu ler minha mão... eu disse que não queria, mas sabe como alguns são... quando vi já tinha lido.

- E o que ela disse?

- Isso é realmente necessário, quer saber mesmo? – ela me olha.

- Gostaria. – estou me divertindo. Adoro quando eles fazem isso comigo, eles se assustam com o que vêem, só uma vez que eu não gostei, a mulher disse que eu encontraria alguém que amaria mais do que minha vida. Até parece que vou gostar de alguém, mais do que de mim.

- Ela viu "amor". – ela faz aspas com a mão quando diz amor.

- Agatha... vamos... desenrola isso logo. – ela está me deixando mais curioso.

- Ela viu um demônio. - Agatha ri, mas é uma risada forçada.

- Um demônio é? – levanto uma das sobrancelhas. – O que mais?

- Mais nada.. ela ficou tão assustada que saio correndo. – caio na risada.

- Por que está rindo?

- Estou imaginando a cara da mulher. – Agatha sorri de lado e começa a gargalhar

- Ela estava apavorada, parecia que havia visto um fantasma. – rimos mais ainda, ela parece mais relaxada agora.

Me deito na cama, ainda rindo e Agatha se joga ao meu lado, esta com lágrimas nos olhos de tanto rir.

- Você está chorando?

- Culpa sua.. me vez rir da coitada.

- Mas vai dizer que não foi engraçado, eu adoro ver a cara deles quando lêem minha mão.

- Você faz isso? – ela olha para mim.

- Às vezes.. quando estou de tédio. – ela movimenta os braços e sem se dar conta pousa sua mão encima da minha. Ela percebe e faz menção de tirar envergonhada, mas entrelaço nossos dedos. Não sei por que, mas gosto de tocá-la, sua pele é tão lisa e macia.

Ela arregala os olhos, levanto nossas mãos e a examino, a marca dos socos que ela deu na árvore estão quase invisíveis. Acaricio como o polegar e levo sua mão a boca, dando um beijo demorado.

- Por que fez isso? – ela diz assustada, se soltando de mim.

- Não sei. – digo mais perdido do que ela, realmente eu não sei por que fiz aquilo, queria sentir sua pele nos meus lábios e foi isso que fiz.

Ela se levanta e vai acabar de guardar as coisas que trouxe, a observo sem dizer mais nada, afinal ficou um clima estranho no ar.  

2Almas 1Coração (5/Romance/fantasia)Onde histórias criam vida. Descubra agora