Capítulo 6.1 - Cabana

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Agatha...

- Acorda Doutor. – o chamo, mas ele não se move.

- Acorda. – digo um pouco mais alto e nada. Já chega, dou um tapa no seu rosto, ele resmunga um pouco, mas não acorda.

- Que raio. – levo a mão para bater de volta, um pouco mais forte, se não acorda por bem, vai acordar no tapa. Não consigo chegar em seu rosto, ele segura meu pulso, ainda de olhos fechados sorri.

- Seu desgraçado. Por que não abre esses olhos e diz que ta acordado.

- Queria ver sua reação.

- Você me irrita. – puxo meu braço, ele não solta. – Me solte, se não eu vou...

- Você ameaça demais. – ele me interrompe e solta meu pulso.

- Deixe eu ver seu pé. – digo já sentando aos pés da cama.

- Para que?

- Para beijar que não é. – digo e pego sua perna com cuidado.

- Está um pouco inchado e fora do lugar.. isso vai doer um pouquinho.

- O que você... AAAA... – ele grita de dor. – Sua...

- Olha a boca, eu só coloquei ele no lugar.. não se mexa, vou imobilizar. – pego uma tala em forma de L, passo sobre a sola do pé e a perna, começo a enfaixar.

- Da onde esses materiais?

- Tenho um quite de primeiros socorros sempre junto.

- Mas como você...

- Sou um anjo de alto escalão e tenho uma boa noção na parte ortopédica. – acabo de enfaixar o pé. – Pronto, só vai ter que ficar com isso por alguns dias.

- Não tem nenhum remédio para melhorar logo?

- Quer mesmo um remédio feito por um anjo? –  ele encarar.

- Não.. de jeito nenhum. – diz negando com a cabeça. Como o remédio não pode fazer mal, pode queimá-lo, a segunda opção é mais provável.

- Como esta sua asa? - pergunto.

- Doe um pouco?

- Senta, quero vê-la. – ele se senta e me levanto indo ver suas asas.

- Só perdeu algumas penas e tem um corte aqui. Acho que se eu der uns pontos possa sarar mais rápido.

- Estou achando que você não é um anjo de alto escalão.

- Por que?

- Tá com cara de anjo de cura.

- Eu já fui um anjo de cura.

- Mas tem asas?

- Fui um anjo de oração antes.

- Mas como pode ser tantos tipos de anjos?

- Longa história.. – acabo de passar a linha na agulha. – Isso vai doer.

- Não me importo, dor é algo prazeroso sabia? – Demônios e seu gostos. Ele resmunga de dor da mesma maneira, ó demônio escandaloso e choram, mas até que estou gostando de ouvir ele resmungar de dor, isso é estranho, muito estranho.

- Pronto. – digo cortando a linha. Fico de pé e ele se deita.

- Obrigado. – escuto bem baixinho e paro de guardar as coisas para o encarar.

- Não se acostume, não sou de ficar agradecendo. – reviro os olhos e acabo de guardar os materiais que havia usado.

Coloco minhas coisas sobre a cômoda, sento no sofá com o meu caderninho nas mãos, estico as pernas sobre ele, o demônio se senta na cama e procura algo em sua bolsa. Retira o que parece ser maças verdes.

- Quer? – ele diz vendo eu o observar pelo canto do olho.

- Não... Obrigada. – Já comi, enquanto ele tomava banho. Volto a prestar atenção no meu caderno, mas sinto que seus olhos estão me observando.

- O que foi? – digo fechando o caderno.

- Quem é você?

- Como?

- Seu nome? – ele diz revirando os olhos e acaba de comer a maçã.

- Agatha. – ele para de mastigar. – O que foi?

-Não acredito, achei que você fosse uma velha, é verdade que é tão velha quanto o céu.

- Exagerado... eu não vou velha, olhe para mim, tenho cara de 23 anos.

- Mas diz a verdade, quantos anos tem? – ele diz com um olhar brincalhão.

- Sou muito mais velha que você, várias décadas. – ele ri, parece não acreditar.

- E você?

- Eu o que? - ele me encara.

- Nome.

- Príncipe do Inferno Dorian ao seu dispor e dor. – ele diz fazendo reverência com a mão.

- Mentiroso.

- Quem? eu? – ele aponta para si.

- Sim.. até parece que você é o príncipe Dorian. – caio em uma risada forte.

- Por que diz isso, já o viu por acaso? – paro de rir.

- Nunca o vi.. mas dizem que ele é bonito. – Dorian me olha irritado, mas não parece bravo com o que disse, era mais um fingimento.

- Me acha feio então?

- Vejamos.. – fico de pé e me aproximo. Olho de um lado para o outro e analiso seu rosto, um pouquinho de barba para fazer, mas da forma que tá dá até um charme, olhos marcantes, rosto um pouco fino, é bonito sim, bem bonito.

- É até que é um pouco bonito, é bonitinho. – solto uma risadinha.

- O que você tem de bonita, tem de chata, mas sabe que gosto. – paro de rir.

- O que? – digo e ele passa a mão na minha cintura, me jogando na cama, pula em cima de mim e segura meus braços no alto da minha cabeça.

- Me solte?

- Só se admitir que achou eu bonito, é feio um anjo mentir.

- Eu não meti. – ele se aproxima do meu ouvido.

- Seus olhos disseram ao contrário. – sinto que minha respiração acelera e aquele perfume amadeirado toma conta de minhas narinas.

- É verdade.

- O que é verdade? – ele diz com um sorriso de lado.

- Você é o príncipe?

- Sim, é.. por que duvida?

- Por que eu achei que o príncipe fosse um velho feio. – ele ri.

- Já viu alguma vez príncipe velho? – nego com a cabeça, ele me solta e se senta ao meu lado, na verdade se deita e começa a rir muito.

- O que foi?

- Nós pensamos a mesma coisa um do outro. – sorrio, ele tem razão e começo a gargalhar com ele.

- Estou com sono. – Dorian boceja e estica os braços, sento na cama, a fim de sair dela, mas sinto algo segurar minha mão.

- Onde vai?

- Vou dormir no sofá.

- Não mesmo, dorme aqui.

- Não vou dormir do seu lado.

- Eu prometo não encostar em você.

- Você já está me encostando. – digo e olho sua mão na minha, ele a tira.

- Vamos, se dormir no sofá vai acordar toda dolorida amanhã. Eu não vou fazer nada, eu prometo, sou um demônio de palavra.

- Um demônio de palavra. – gargalho alto, mas ele está sério, me encarando como se isso fosse verdade, engulo em seco.

- Tá.. vou aceitar, mas só por que sei que se dormir no sofá, vou acordar dolorida. – ele não sorri, só dá espaço para eu me acomodar na cama.

Deito de costas para ele e Dorian deita de costas para mim, nossas asas se encostam, mas não me incomodo muito, sinto o sonho chegar e adormeço.  

2Almas 1Coração (5/Romance/fantasia)Onde histórias criam vida. Descubra agora