TRÊS

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A noite sempre chegava trazendo um pouco mais de calma à comunidade e, ao coração de Eric, uma tranquilidade inexplicável. O caminho de volta para casa não era exatamente longo. Dez minutos de caminhada e, obviamente, muitas ladeiras para subir. Ele não se importava.

Sempre encontrava prazer em caminhar sozinho depois de suas aulas. Ajudava a saborear o restante do bem-estar que a música lhe trazia, durante todas aquelas horas. Talvez fosse, principalmente, pela noite - Eric amava tudo que ela trazia. Seu silêncio, seu vazio, suas estrelas, seu mistério. Durante aqueles dias em que a comunidade estava reclusa tudo isso ficava ainda mais interessante.

Naquela noite, contudo, algo estava diferente. Não tinha qualquer relação com o isolamento dos moradores, ou mesmo com as nuvens pesadas que impediam as estrelas de brilhar. Voltava com a mente cheia. Havia passado horas entretendo Miguel com seu violino, até que o jovem pediu para voltar para casa. Eric ligou para sua mãe, que logo apareceu, desesperada com o sumiço da criança.

Estava com o coração estava pesado. Sentia-se ameaçado, de alguma maneira. Seria um pressentimento¿ Em sua alma, sabia que algo estava errado. Que algo estava para acontecer. Os dez minutos passaram sem que percebesse. Já próximo de sua casa, começou a ouvir um burburinho incomum. Seus vizinhos estavam aglomerados ao redor de sua casa, espantados.

- Será que devemos entrar¿ - perguntou um deles.

- Está doido¿ Quer perder sua vida, também¿ Não sabemos se eles ainda estão ali dentro. - ele reconheceu Carmem, sua vizinha de frente, pela voz.

Gritos de desespero foram ouvidos, fazendo com que todos se afastassem às pressas. Era a voz de seu avô, em agonia.

- Me deixem em paz - gritava - eu não tenho o que vocês procuram!

As pernas do jovem congelaram. Um misto de medo e desespero o impedia de sair do lugar. Inesperadamente, os gritos de seu avô se foram e as janelas da frente da casa explodiram, abrindo passagem para duas figuras encapuzadas que escaparam dali voando, deixando atrás de si apenas rastros do que parecia ser a fumaça preta que constituía todo o seu corpo.

- Santo Deus ... - Eric murmurava - era tudo verdade!

Ele sabia que deveria avançar. Não importava o quanto suas pernas resistissem, o quanto seu coração pedisse pelo contrário, ele tinha que ir até sua casa. Reuniu as forças que tinha dentro de si e, um passo atrás do outro, uma lágrima atrás da outra, sob os olhares espantados de seus vizinhos, Eric foi ao encontro de seu avô.

Suas mãos estavam trêmulas quando tocaram a maçaneta da porta. O coração disparado fazia à sua mente tantas perguntas que era difícil saber o que o aterrorizava mais. James estava morto¿ Não conseguia imaginar o mundo sem ele. Seu avô era tudo o que tinha, tudo o que fazia sua existência ter algum sentido.

Não adiantava remoer aqueles pensamentos, ele sabia. A única solução seria abrir a porta e lidar com o que encontrasse. Respirou fundo e girou a maçaneta.

- Vô¿ - Eric perguntou, em meio à escuridão.

Ouviu um gemido em resposta. O jovem apertou o interruptor em busca de alguma luminosidade, sem sucesso. Os encapuzados provavelmente haviam destruído toda a casa.

- Eric ... - James murmurou, quase sem forças.

O jovem avançou, ávido, em direção à voz de seu avô, tropeçando na mobília revirada. Encontrou um abajur em funcionamento, deparando-se, ao ligá-lo, com o avô coberto de sangue, deitado no sofá.

- Meu Deus ... - o jovem perdeu as palavras.

James suspirou profundamente, procurando reunir as forças que lhe restavam.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora