CINQUENTA E NOVE

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As portas do elevador se abriram, revelando o já tão conhecido corredor onde a sala das mentes – assim Eric e Desligado haviam batizado a sala onde as aulas de mentalidades aconteciam – ficava. Geralmente ansiava pelas tardes reservadas àquela disciplina: tornara-se sua favorita.

Naquela tarde, contudo, Eric estava à procura de uma desculpa plausível para evitá-la. Saiu do elevador e parou, ansioso.

- Algum problema, senhor¿ - Desligado perguntou.

- Um bem grande – Eric respondeu, sem prestar muita atenção ao robô.

O robô fez alguns barulhos com os quais o jovem já havia se familiarizado: ou estava revistando seu banco de dados ou fazendo algum tipo de cálculo.

- Perdoe-me, senhor. Depois de extensos cálculos eu não consegui descobrir qual é o problema.

Eric suspirou, tentando manter-se paciente.

- É o tipo de problema que não se descobre com cálculos, Ligs.

O robô silenciou. Por motivos óbvios, Eric sabia que aquela conversa não estava encerrada. E não havia encontrado qualquer motivo para não comparecer à aula – já estava atrasado, na verdade.

Tomou o caminho da sala com passos lentos. Queria evitar o encontro com Brad a todo custo e, ao mesmo tempo, não queria. Seria a primeira aula depois da Bolha. Ainda que não quisesse ficar trancado com ele por uma tarde inteira, Eric sentia falta de vê-lo com mais frequência.

Diante da porta, respirou fundo e a abriu. O professor estava sentado à sua mesa, concentrado em algo que lia. Fez uma cara de susto ao vê-lo. Eric sentiu-se aliviado ao perceber que ele estava igualmente desconcertado com a situação.

- Desculpe pelo atraso – O jovem falou.

- Não se preocupe.

Eric tomou seu destino habitual. Sentou-se ao fundo da sala, seguido por Desligado, e começou a prestar atenção. Brad guardou o livro e se levantou.

- Bem, hoje o assunto da aula é sobre a descoberta de Rilvro acerca dos mecanismos da mente dos Nesqr. Alguns dos últimos sobreviventes dos Nesqr vivem conosco, na Ordem, então preste atenção.

Eric fez que sim, com um aceno.

- Os Nesqr sempre foram uma civilização profundamente avançada, detentora de tecnologia de pont ...

- É sua paixão por Sr. Turner! – Bradou Desligado, interrompendo o professor.

Brad e Eric voltaram sua atenção ao robô.

- Ligs – O jovem sussurrou – você está interrompendo a aula!

- Eu me lembro que nunca chegamos a conversar sobre isso.

- Ligs! Chega!

Brad começou a rir, diante da situação inusitada. O robô tentou falar mais alguma coisa, mas seu dono interrompeu.

- Já chega. É melhor você voltar para o quarto. Agora!

Desligado seguiu a ordem de seu dono, embora não conseguisse compreender o que fizera de errado. Tinha falado a verdade. Ao fechar a porta, deixou-os sozinhos na sala. O sorriso do professor desvaneceu, ao se dar conta disso.

- Você tem um robô esperto. Antigo e ultrapassado, mas esperto.

Eric assentiu, envergonhado.

- Me desculpe. Na próxima aula não vai haver esse tipo de intrusão.

O homem ficou em silêncio. Voltou ao livro que usava para extrair dados precisos.

- Como eu ia dizendo, os Nesqr foram os primeiros a descobrir os usos da energia nuclear, há muito tempo. A partir daí eles ... – O professor ficou em silêncio, encarando Eric.

- Algum problema¿ - Eric perguntou.

O homem fechou o livro.

- Na verdade, tem sim. Você sabe perfeitamente qual é.

Brad largou o livro sobre a mesa e seguiu na direção do jovem. Sentou-se em uma cadeira ao seu lado. Ficaram em silêncio por algum tempo, em busca das palavras apropriadas para uma conversa que, claramente, seria definitiva.

- Você teve um bom tempo para pensar.

O outro suspirou.

- Eu sei.

- Eu gostaria de ouvir uma resposta. Qualquer que seja. Não acho legal continuar nessa situação incômoda.

Eric se levantou. Começou a andar de um lado para o outro, tomado pela ansiedade. Por que era tão ruim para tomar decisões¿ Só precisava dizer uma palavra – sim ou não. Mesmo assim, continuava avaliando centenas de prós e contras, sem saber, ao fim, qual decisão tomar.

- Como nós lidaríamos com isso¿ - O jovem perguntou.

Brad deu de ombros.

- A gente descobre. Eu já te disse, não quero que ninguém saiba, por enquanto. Por nós dois. Eu sei que seria estranho, mas quando a gente deixar de ser professor e aluno as coisas mudam.

O jovem começou a roer uma das unhas.

- O que você viu em mim, afinal¿ Você pode ter qualquer um!

Era verdade - Brad era um homem muito bonito. Não que Eric fosse feio, mas não parecia a primeira escolha de ninguém.

- Eu sei que poderia te dizer mil coisas sobre como você é incrível, doce, inteligente, agradável. Não que não seja tudo verdade, mas a verdade é que eu não sei. Acho que não existe razão para gostar de alguém – ao menos não uma razão que nós possamos compreender.

Ficaram em silêncio. Eric queria ser convencido. O professor havia dito todas as coisas certas para conseguir um sim, mas ainda faltava algo.

- Me promete uma coisa¿

- O quê¿

- Se isso não der certo nós continuamos amigos, tá¿ Sem ódio.

Brad sorriu.

- Prometo.

O professor se levantou e foi até Eric. Segurou suas mãos e olhou no fundo de seus olhos. O coração do jovem estava disparado.

- Isso quer dizer que sua resposta é sim¿ - Brad perguntou.

Eric sorriu e se aproximou, inseguro. Ainda se olhavam nos olhos, embora Eric não sentisse vergonha – pelo contrário, sentia que haviam se conectado. Sem demora, puxou Brad para mais perto e o beijou.

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