DEZOITO

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Warna-San conseguira, finalmente, uma noite de sono decente. Havia se deitado depois de um dia enfadonho – não tivera nada o que fazer senão esperar que o tempo passasse. Fazia dois dias que os soldados estavam à porta de seu quarto, e, desde então, tudo permanecia da mesma maneira.

Tentara estabelecer alguma comunicação, sem qualquer sucesso. Aos seus cumprimentos, responderam com silêncio. Fizera-o mais pela necessidade de contato humano que por qualquer regra de educação. Depois de passar dias em um silêncio quase total, ansiava por alguma forma de relacionamento.

Imergira num sono tranquilo e profundo, sem sonhos, quando uma voz começou a reverberar, insistentemente, em sua mente.

- Warna-San ... Warna ...

Recusou-se a acordar. Não seria nada importante, afinal.

- Warna-San ... acorde!

Ela despertou, irritada. Finalmente conseguira um descanso, mas acabou interrompida. Sentou-se na cama, esfregando os olhos e bocejando. O quarto estava tomado pela escuridão, de forma que não conseguia enxergar um palmo diante seus olhos.

- Quem é¿ - Ela perguntou.

- Sou eu! Zoggi!

Ela cerrou os olhos, na direção da parede de vidro.

- Não consigo te enxergar!

Ouviu-se um barulho na água, fora do complexo. Por um momento, ela pensou que o amigo houvesse partido. Segundos depois, no entanto, uma luz se acendeu na ponta de sua cauda. Havia feito uma pirueta na água para iluminar o ambiente.

- Isso é esquisito – Pensou Warna, arrependendo-se imediatamente, ao se lembrar de que ele podia ouvir seus pensamentos.

- Eu ouvi isso – Disse, fingindo-se magoado.

Deram risadas por alguns instantes.

- Warna, vim aqui para te alertar. É sobre o seu julgamento.

Ficou séria. Aquele era um assunto que definiria seu futuro.

- Fale!

- A análise chegou ao fim. O rei já tem um veredito.

Ela ficou ansiosa. Quando foi informada sobre o julgamento, preferiu encarar aquele como um assunto futuro. A notícia trazida por Zoggi, no entanto, tornara-o uma realidade inadiável. Independente do que o rei houvesse decidido, seu destino já estava selado. O fato de não saber o que seria feito de sua vida tirou-lhe a paz, pelo restante daquela noite. Perder a sensação de comandar o próprio destino deixava-a sem rumo.

- Alguma chance de você saber o que decidiram¿ - Warna perguntou, mesmo sabendo a resposta.

- Infelizmente, não.

Ela suspirou. Precisava se acalmar.

- Eu também vim para me despedir. Você deve ser levada para a capital bem cedo. Não sei quando voltaremos ... ou se voltaremos a nos ver.

Warna-San entristeceu - sentiria falta de Zoggi. Queria poder abraçá-lo, ainda que, por motivos óbvios, aquilo não fosse possível.

- Sentirei a sua falta! – Ela disse, começando a chorar.

- Eu também. Conhecê-la foi uma adorável surpresa, senhorita Warna.

Ficaram em silêncio, por algum tempo, adiando a despedida.

- Bem ... eu devo ir, antes que alguém me descubra por aqui. Fique bem. E o que quer que aconteça, mantenha suas esperanças. Sempre há jeito para tudo.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora