SETENTA E OITO

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A chegada até a Ordem ocorreu tranquilamente. Rebecca, Jay e Ynadrá desembarcaram sem nenhum problema. Foram recebidos por Ricky, que não lhes poupou do mau humor habitual. Acabaram acomodados, os três, em quartos vagos na ala dos pesquisadores.

Com o passar dos dias Rebecca foi se ajustando ao local, que a princípio parecera extremamente ameaçador. Pela primeira vez, desde que partira de Boston, sentia-se anônima em meio a uma multidão. Ao menos estavam seguros.

A ideia que mais lhe agradou foi a de receber um robô. Ouviu dizer que, para sua permanência, teria que se tornar uma aluna – Jay a tinha descrito como uma pesquisadora em potencial, mas jamais um soldado. Sentiu-se um pouco ofendida, a princípio, mas se os últimos tempos haviam indicado algo, era que não tinha talento para combates.

Dedicou a maior parte de seus primeiros dias para cuidar de Ynadrá. Ainda estava fraca, mas não tinha nada além de desidratação severa, desnutrição e muito cansaço. A mulher passou a maior parte do tempo dormindo, para recuperar as forças. Rebecca havia se apegado a ela mais do que imaginara e só conseguiu perceber isso naqueles dias.

Demorou uma semana para que Ynadrá se sentisse forte o suficiente para se levantar e conseguir falar. Rebecca acordara cedo, naquele dia, e estava pronta para sair do dormitório antes do toque de despertar. Matou o tempo organizando o quarto – estava com saudade de ter um lugar com sua cara.

Após o primeiro sinal, não demorou até que Jay batesse na porta.

- Sou eu, Becca.

Ela sorriu. Ainda adorava quando ele a chamava de Becca. Abriu a porta e o deixou entrar.

- Eu não tenho certeza, mas acho que devo dizer bom dia, certo¿ - ela perguntou.

Como a Ordem se comportava como um satélite ao redor da Terra, se guiava por seu calendário e sua medida de tempo. Apesar disso, soava bastante artificial dizer bom dia num lugar em que dia e noite não existiam, realmente.

- Não sei, mas bom dia, de qualquer forma.

Eles riram e sentaram-se na cama.

- Os quartos são legais, né¿ - ele perguntou.

- São sim.

- Pena que a gente não vai ficar perto um do outro.

- Como assim¿ - Rebecca ficou surpresa.

- Eu vou ser nomeado professor. A ala dos professores é meio longe daqui, então ...

Ela ponderou.

- Mas a gente ainda vai se ver, né¿ - corou ao perceber que soara desesperada, mesmo sem ter tido a intenção – Quer dizer ... se ver ... se falar ... – ela desistiu de tentar fazer suas palavras parecerem menos embaraçosas.

Jay sorriu.

- É claro que sim. Ynadrá assumirá, sem dúvidas, o seu treino. Mas a gente ainda vai se ver. Muito.

- Acho bom.

- Mas não foi só pra te ver que eu vim.

- Aconteceu alguma coisa¿ - Rebecca se preocupou.

- Nada demais. Ynadrá convocou uma reunião para essa manhã. Acho que ela quer se explicar.

- Ótimo. Estou curiosa.

- É depois da primeira refeição. Ou, como nós costumávamos chamar lá na Terra, café-da-manhã.

Silenciaram. Ainda havia um assunto pendente, entre eles.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora