SESSENTA E CINCO

108 30 3
                                    

A noite já estava próxima do fim quando o comunicador gritou, na mesa ao lado da cama. Stagower despertou assustado, demorando alguns segundos para compreender o que estava acontecendo. Pegou o objeto e aceitou a chamada – o que projetou um pequeno holograma do busto de Ervasqt.

- Chegou a hora – ele afirmou, lacônico, do outro lado.

- O tal esfumaçado não está no escritório¿

- Sim, mas está completamente sozinho. Todos os que costumam ficar com ele saíram em uma missão.

- Qual o plano¿

- A gente entra e domina a criatura, depois você vasculha os documentos. Mas essa é a última oportunidade, Stagower. Depois disso eu estou queimado.

O rei ficou preocupado. Respirou fundo e acabou assentindo.

- Onde nos encontramos¿ - o monarca perguntou.

- No portão de entrada da ilha. Sabe chegar até lá¿

- Sim.

- Quanto tempo até estar pronto¿

- Não preciso de tempo. Vou agora.

Stagower colocou o comunicador de lado e se preparou. Vinha dormindo com roupas apropriadas para ser visto em público, caso uma situação como aquela se apresentasse. Fechou os olhos e, em poucos instantes, se teletransportou para a ilha Fes.

***

Não demorou para que Ervasqt chegasse ao portão. Stagower observou que já não havia rastro dos guardas que ficavam ali. Provavelmente estavam mortos. A passos largos, se adiantaram pelas ruas íngremes, tomadas por sujeira e um musgo escorregadio.

As ruínas da cidade pareciam mais sinistras do que nunca. O rei tinha a impressão de que, a qualquer momento, centenas de Sombras sairiam delas e os emboscaria. Devia ser o medo. Depois de um bom tempo caminhando, chegaram ao prédio em que ficava o escritório que procuravam.

- Me siga – Ervasqt falou – vou entrar e dizer que trouxe alguém que queria vê-lo, ou algo dessa natureza. Vamos usar a surpresa pra submeter a criatura sem grandes dificuldades, ok¿

O rei assentiu. Entraram e percorreram os corredores labirínticos do prédio. Stagower nunca imaginou que fosse possível habitar um lugar tão sujo – insetos, detritos, lixo e entulho resultante de algo que parecia um desabamento predominavam, deixando Stagower nauseado. O pior, contudo, era o frio. Gelo crescia sobre as paredes e uma névoa constante atrapalhava a visão – resultado, provavelmente, da presença dos esfumaçados.

Sem aviso, pararam. Ervasqt virou-se para o monarca e fez um sinal de silêncio. Deu mais dois passos e bateu à porta.

- Entre – uma voz sibilante respondeu.

Ervasqt abriu a porta e entrou.

- Perdoe a interrupção, mas tem alguém aqui querendo te ver. Parece ser urgente.

Fizeram silêncio por um breve momento.

- Mande entrar – a criatura respondeu.

O rei se aproximou, ficando sob o portal. Notou que a neblina vinda do corredor impossibilitava que fosse notado – era sua oportunidade. Sem que o esfumaçado esperasse, atacou. Levantou-o no ar e jogou-o contra uma das paredes. Criou uma corrente de fogo e envolveu a criatura. Por muito pouco ela não tocava a capa, o que imobilizou o esfumaçado.

- Mexa-se e você está morto – exclamou Stagower, saindo da proteção da neblina.

- Maldito! – A criatura gritou, e se voltou para o outro – Eu sempre soube que você era um traidor.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora