Fazia um dia desde que Eric ouvira as revelações do presidente. Desde então, vinha se comportando como um morto vivo: sua mente estava tão distraída que, volta e meia, tropeçava e caía. Não conseguia se alimentar corretamente e nem mesmo se concentrar em suas aulas.
O fim do dia chegara e, mais pelo ritual do que pela própria vontade, ele se dirigiu para o Salão de Refeições. Encheu o prato de forma mecânica e,quando finalizou, se dirigiu a uma mesa próxima e sentou-se no primeiro assento que encontrou vago. Em silêncio, encarou a comida, sem realmente vê-la. Sua mente estava tomada pelas palavras de Ricky, que voltavam para assombrá-lo quando ele menos esperava.
- O senhor deve comer. Não é saudável passar o dia sem uma refeição apropriada – afirmou Desligado.
O robô não recebeu resposta. Ainda tentou estabelecer um diálogo, mas foi em vão. À medida que os minutos passavam, Eric permanecia da mesma maneira: calado, com o olhar vazio, sem dar atenção ao mundo ao seu redor.
A situação mudou assim que Brad Turner, o professor de Mentalidades, sentou-se à sua frente. Ele parecia ansioso. Quando notou o jovem, chamou sua atenção.
- Eric¿
Ao reconhecer aquela voz, ele levantou a cabeça.
- Sim¿
O outro percebeu que algo estava errado.
- Você não parece bem.
Eric enxugou uma lágrima que caiu.
- Não é nada.
- Não é verdade! Você estava chorando!
- Foi só uma lágrima. Não se preocupe.
O professor o encarou com o olhar de quem estava investigando suas expressões.
- Você está com saudades de casa, não é¿
Aquilo era verdade. Eric sentia uma imensa saudade de sua vida fora da Ordem. Da estabilidade, de seu avô, da simplicidade do mundo em que vivia.
- Sim. Muitas saudades.
Brad assumiu uma expressão de piedade.
- Eu sinto muito. É uma adaptação difícil. Você veio do Brasil, não foi¿
O jovem assentiu.
- Aposto que aquelas praias fazem falta!
Eric sorriu pela primeira vez naquele dia.
- Muita falta. E o calor, também. Aqui é tudo tão artificial. Às vezes me sinto sufocado.
- Eu imagino. Do que mais tem saudade¿
O jovem deu de ombros.
- Da convivência com minha família, de tocar violino, dos amigos, dos meus jogos de tabuleiro ... até dos meus vizinhos gritando!
Riram.
- Não fique assim. Logo você vai se sentir mais confortável. Não vou mentir: esse lugar nunca será parecido com um lar. Sempre vai ser um lugar estranho e frio. Mas é possível encontrar formas de fazê-lo mais agradável.
Eric ficou feliz com aquela breve conversa. Brad fizera o que nem mesmo Desligado havia conseguido: distraí-lo. Por aqueles poucos instantes, seus problemas ficaram em segundo plano, mesmo que o professor não houvesse acertado o verdadeiro motivo de sua tristeza.
- Acho que eu não sou o único incomodado, por aqui. Por que você não está sentado na mesa dos professores¿
Brad arregalou os olhos, surpreso com a pergunta.
- Você continua demonstrando que será um ótimo aluno em minha disciplina.
- E você continua evitando minhas perguntas.
O professor sorriu.
- Muito bem. Se você quer uma resposta, a verdade é que estou aqui porque me sinto um peixe fora d'água naquela mesa. Todos lá se conhecem há muito tempo e eu sou o novato. Me sinto desconfortável.
- Eu entendo. Mas uma hora ou outra você vai ter que se adaptar. Se continuar se sentando aqui, não importa quanto tempo você passe como professor, não vai ter qualquer intimidade com eles.
Novamente, o professor ficou surpreso.
- Você é realmente uma caixinha de surpresas.
O jovem corou.
- Espero que não esteja tentando me expulsar daqui – Brad provocou.
- Não! De forma alguma.
Conversaram pelo resto do jantar. Eric não tocou em seu prato e, por mais de uma vez, se pegou distraído. Apesar disso, embora sua mente continuasse perturbada, a presença de Turner se provou um anestésico eficiente.
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Todas as Estrelas Cairão do Céu
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