Quando a última sirene soou, parecia mais alta que nos dias anteriores. Eric sabia que não houvera qualquer alteração no volume - a mudança ocorrera em seu espírito. Sua cabeça pulsava de dor, enquanto as palavras de Rick reverberavam em sua mente. Ainda lutava para absorvê-las.
Olhou seu prato. Parecia intocado – como nos últimos dias, havia comido algo aqui ou ali, mas nada que pudesse satisfazer seu estômago. Passaria fome à noite, ele sabia, mas não tinha o menor apetite, àquela altura.
Extraterrestre - como era difícil aceitar aquilo! Algo havia mudado, desde que ouvira o presidente. Olhava-se – suas mãos, seus braços, seu reflexo no vidro da mesa – e alguma coisa parecia fora do lugar. Havia se perdido como o Eric que conhecia. Algo fora deslocado em sua mente e estava à deriva, em busca de um novo espaço para ocupar.
A simples lembrança de suas habilidades dava-lhe vontade de correr. Correr sem destino, como se a velocidade de seu corpo fosse capaz de desacelerar sua mente. Dava-lhe vontade de gritar, como se pudesse exorcizar de seu coração toda a angústia com berros de desespero.
Pouco a pouco os membros da Ordem foram se levantando e rumando para a saída, num ritmo que lembrava uma procissão. A sirene que acabara de soar era a última, determinando o fim da refeição. Depois dela, todos deveriam seguir para seus quartos e sair dali apenas se autorizados.
Aquelas feições intrigavam Eric. Não exatamente as feições, mas o que elas diziam sobre seus donos. Era revoltante pensar que a verdade caíra em seu colo como um presente indesejado, enquanto o resto do mundo continuava num ritmo normal. Todos ali pareciam normais. Nenhum traço de felicidade ou infelicidade.
O que eles carregariam em suas mentes¿ As alegrias, os desesperos, as frustrações. Qual era a sensação de ser normal¿ Sem problemas em exagero, sem alegrias em demasia ... qual era a sensação de nascer, crescer e morrer, simplesmente passando pela vida, alheio à própria finitude, à própria vulnerabilidade, aos próprios limites¿
Eric não se lembrava de ter experimentado nada daquela natureza. Ao menos não até aquele ponto da vida. O salão esvaziou-se em alguns minutos, ainda que ele não houvesse encontrado forças para levantar. Estar sozinho, em silêncio, era agradável. Olhou ao redor e não viu ninguém - finalmente podia desfrutar sua companhia, ainda que, ele sabia, não fosse durar muito tempo.
Logo um exército de robôs domésticos invadiu o salão. Ainda não os tinha visto. Tinham o tamanho de um ser humano. Eram inspirados neles, no fim das contas: cabeça, tronco, dois braços e duas pernas. Moviam-se com agilidade e precisão.
Eric os comparou a Desligado. Não trocaria seu robô por nenhum daqueles – já se afeiçoara a ele. Mas era inegável que pareciam muito superiores em tecnologia e inteligência. Passaram por ele dezenas de vezes, sem se incomodar com sua presença. Melhor assim.
Sua cabeça ainda estava a mil quando se levantou - o coração estava acelerado e seu corpo tomado por uma ansiedade anormal. Sentia que sua mente explodiria se voltasse para o quarto.
Precisava andar. Sentia-se sem ar, e o único alívio que encontrava quando estava daquela maneira era caminhar. Ajudava a esquecer das preocupações.
Andava com o passo acelerado, sem saber exatamente o caminho que estava percorrendo - não havia passado por aqueles corredores, antes. A certa altura percebeu que entrara na Ala dos Soldados. Não tinha permissão para estar ali, mas aquilo não era suficiente para detê-lo.
Perdeu-se num labirinto de corredores - pareciam ainda mais confusos do que imaginara. A aparência era idêntica à da Ala dos Pesquisadores – sóbria e sufocante. Depois de minutos seguidos andando por aquela parte da Ordem, Eric finalmente achou algo capaz de fazê-lo parar.
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Todas as Estrelas Cairão do Céu
Ciencia Ficción"Aquele era, sem dúvida, o sujeito mais esquisito que havia visto até então. Era sinistro, na verdade. Vestia-se com uma imensa capa, que o cobria até os pés. Seu corpo não parecia sólido - era feito de um gás preto, que de alguma forma permanecia d...