SETENTA E SETE

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Quando os pés de Rebecca, Jay e Ynadrá tocaram solo firme, viram-se ao lado do jipe em que haviam passado a noite. Escoraram-se, os três, na lateral do veículo, sem forças. Ao longe, um grande estrondo foi ouvido, como se algo houvesse desabado, seguindo-se a formação de uma nuvem de poeira. Souberam, naquele instante, que a prisão subterrânea não resistira. Com sorte, alguns dos prisioneiros teriam escapado com vida.

Não houve sinal de que os Sombras ainda estivessem por ali. A luz do sol começava a tomar o céu.

- Precisamos sair daqui – balbuciou Ynadrá.

- Eu concordo, mas estou fraco para outro teletransporte.

Avaliaram a situação: Ynadrá estava ainda mais fraca e Rebecca estava longe daquele nível de aprendizado. Não parecia haver muitas opções. Entraram no carro, deixando Ynadrá deitada no banco de trás.

Em seu assento, Rebecca estava calada. Não conseguia lidar com o que acontecera. Recusara-se a executar um exército de sombras e agora era responsável não apenas pela morte deles, mas também pela de milhares de prisioneiros.

- Não se torture – Jay dirigiu-lhe a palavra – você não tinha como se controlar.

- Mas eu tinha uma opção.

- Não, não tinha. Eu sempre soube que você nunca quis matar os Sombras. Se há algum culpado sou eu. Não deveria ter te colocado naquela posição.

Ela se calou. Queria, desesperadamente, acreditar naquilo, mas estava tão abalada que não conseguia pensar.

- O que vamos fazer¿

- Não sei. Depois a gente pensa nisso. Por hora eu estou feliz por termos conseguido tirar ela dali.

Rebecca observou Ynadrá, pelo retrovisor.

- Ela parece tão fraca.

- Verdade – Jay afirmou – mas é forte o suficiente para se recuperar.

- Ela tem que comer alguma coisa. E beber água.

- Comida e água: duas coisas que nós não temos aqui.

- Como vamos deixar esse lugar, Jay¿ E se nenhum de vocês estiver forte o suficiente para que a gente saia até o fim da tarde¿

Ele ficou em silencio. Não tinha pensado naquilo. Mais uma noite no deserto, sem comida e água à disposição, não era uma boa perspectiva.

- O ...s – Ynadrá balbuciou.

Jay e Rebecca se voltaram à mulher.

- O que você disse¿

- Os ... alim – ela balbuciou novamente. Parecia mais fraca a cada minuto.

- Osh-Al-Im¿ - Jay perguntou.

- Na ... ve. P ...de ajdar.

Ele levou uma das mãos à cabeça, com uma expressão de alívio. Como se esquecera daquilo¿ Osh-Al-Im tinha uma nave! Poderia vir socorrê-los rapidamente.

- Como podemos chamá-lo¿ - perguntou Jay

- C ...lar.

- Colar¿ - Rebecca perguntou – Esse colar¿ - Ela tocou a joia que Ynadrá lhe dera de presente.

A mulher assentiu. Obviamente, não seria Rebecca a fazer contato. Nunca soubera como usar o objeto – havia sido, verdade seja dita, usada por ele. Desatou-o e colocou-o nas mãos de Ynadrá.

Ela o segurou com força, mas não parecia fazer nada especial. Nenhuma palavra, nenhum gesto. Em pouco, a pedra do pingente começou a brilhar, como ocorria quando ela entrava em contato. Súbito, devolveu o colar para a outra, sem qualquer explicação.

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