Eric abriu a porta do quarto. Louis estava pior do que jamais o vira. Seu cabelo estava desarrumado, sua roupa suja e seu olhar transtornado. Trazia um tablet na mão. Entrou no quarto com um andar violento – comportava-se como se o mundo houvesse caído sobre seus ombros.
- O que houve, Louis¿ - o jovem perguntou, assustado.
O homem levou a mão à cabeça, num gesto de desespero.
- Aconteceu outra vez.
Eric franziu o cenho, confuso. Demorou algum tempo até que entendesse do que o amigo estava falando.
- Saíram do hangar sem autorização¿ - ele perguntou.
O outro assentiu, com um aceno desesperado. Ele se sentou na cama do amigo, sem pedir permissão, e começou a chorar desesperadamente, parecendo mais desnorteado do que nunca.
- O que está acontecendo¿ - Osh-Al-Im perguntou, perdido.
Louis notou a presença do Guardião pela primeira vez. Olhou para Eric, como se perguntasse se Osh-Al-Im era confiável. O jovem entendeu e confirmou.
- Aconteceu há algum tempo, pela primeira vez – o jovem começou a explicar - Uma nave deixou a Ordem sem a permissão de Louis. Ele tem um posto importante na torre de controle.
- Como isso é possível¿ - Perguntou Osh.
- Não é. Esse é o problema. Não tem como isso acontecer.
- Vocês descobriram quem fez¿
Louis negou.
- Conseguimos uma filmagem muito estranha. Quem saiu estava usando uma capa parecida com a dos Sombras. Não dava pra ver nenhum detalhe do corpo. Ele sabia exatamente onde estavam as câmeras do hangar e evitou ser filmado o máximo possível. Quando não teve como evitar uma delas, tudo o que nós conseguimos ver é que ele estava levando uns livros numa das mãos.
- Livros¿ Quais livros¿ - Osh-Al-Im ficou desconfiado.
- Não deu para ver.
O Guardião ficou pensativo.
- Tem mais, desta vez – Louis quebrou o silêncio, depois de alguns segundos.
- Mais¿ - Perguntou Eric – O que você quer dizer¿
- Acho melhor vocês verem.
O francês entregou-lhes o tablet. Eric e Osh se aproximaram, procurando a nova filmagem nos arquivos. Estava junto à primeira em uma pasta denominada Hangar. Abriu-a, para se deparar com uma imagem inusitada.
Louis, astutamente, havia redesenhado o esquema de estacionamento das naves, de forma a tornar difícil escapar das câmeras. Havia funcionado. Repentinamente, uma figura sem a capa que usara da primeira vez aparecia caminhando, cercado de livros idênticos aos da outra gravação.
Eric não precisou aproximar a imagem para reconhecer Brad Turner. O detalhe insólito ficava por conta dos livros, que flutuavam atrás dele, como se o seguissem numa fila indiana, até entrarem na mesma nave da última vez, ligá-la, fazer o portão abrir e ir embora.
Aquilo fazia sentido, afinal. Brad tinha poderes mais do que suficientes para abrir e fechar aquele portão quando quisesse. Até mesmo para desligar as câmeras – o que provavelmente não fizera para ser um pouco mais discreto e evitar chamar a atenção de Ricky. Seu único erro fora se registrar na volta e deixar Louis atento à brecha no sistema.
- Ele estava com pressa – concluiu Osh – não estava utilizando nenhuma capa para se esconder.
- Não havia qualquer razão pra isso, a essa altura. Ele sabia que nós juntaríamos os pontos e não demoraríamos a chegar à verdade.
- Você conseguiu identificar os livros¿ - O Guardião perguntou.
Eric franziu o cenho.
- Não.
- Aproxime a imagem e assista novamente.
Eric o fez. As câmeras conseguiram uma imagem mais próxima, daquela vez. Não houve dúvidas sobre o que Brad estava levando.
De repente, tudo fez sentido.
O jovem não havia sido apenas enganado - ele havia sido usado. Os livros que seguiam o homem eram velhos conhecidos: capa de couro, com números dourados na capa. Brad havia roubado os diários de James Porter.
Eric se agachou, levantou o lençol que cobria a cama e puxou a caixa em que os diários ficavam guardados. Encontrou-a completamente vazia. Sentiu-se culpado - não abrira aquela caixa desde que pegara o único diário que havia lido e, agora, não restava mais nenhum. Nem mesmo o diário que vinha lendo fora deixado para trás.
Uma ira cresceu dentro do jovem. Chutou o que encontrou em sua frente.
- Maldito! – Berrou.
Louis observava tudo sem compreender. Sentiu-se vingado, ao menos, por descobrir quem estava por trás do mistério. Tudo aquilo, porém, pareceu mesquinho diante do sofrimento do amigo. Não imaginou que ele seria afetado quando descobrisse a verdade.
Depois de algum tempo, todos se sentaram e ficaram em silencio. Era preciso calma para lidar com as novas descobertas. Parecia o momento certo para refletir cuidadosamente sobre o próximo passo. Foi Osh-Al-Im o primeiro a sugerir algo.
- Nós temos que levar essas filmagens ao conhecimento de Ricky.
Eric não sabia como responder. Concordava com o Guardião, mas não queria prejudicar o amigo.
- Eu também – disse Louis.
O jovem ficou surpreso.
- Tem certeza¿ Isso significa que, pelo menos, você perde seu emprego.
- Será uma demissão merecida. Eu já deveria ter mostrado isso a algum superior há muito tempo.
Olharam-se, os três. O quarto estava tomado por um ar pesado – um misto de surpresa, indignação e incompreensão. Brad havia traído todos ali dentro. Havia prejudicado Eric e Louis. Mas qual por qual razão¿
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Todas as Estrelas Cairão do Céu
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