OITO

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Warna-San sentou-se ao lado de sua cama, sem conseguir entender o que se passava em seu coração, naquele momento. Finalmente acontecera. Não conseguia compreender o que o mundo sem sua mãe significava. Estava anestesiada.

Enxugou suas lágrimas e se levantou, em busca de algo. Esqueceu-se em poucos segundos do que se tratava. Sua mente estava perturbada, como nunca estivera antes. Seu peito parecia comprimido ... precisava respirar.

Saiu da cabana, que parecia oprimi-la. Precisava de ar fresco. Deixou sua mente esvaziar para, logo em seguida, permitir que se enchesse, novamente ... deixou-se perder em seus pensamentos. Lembranças lhe traziam lágrimas aos olhos - chorava sem perceber. O tempo passou sem que ela se desse conta.

Quando conseguiu estabilizar suas emoções, ela se deu conta de que precisava enterrar a mãe. Era o mínimo de dignidade que devia a quem dedicara a vida a cuidar dela. Achou uma enxada jogada num canto, perto da casa. Um monte de areia após o outro, cavava a última morada da velha. Pouco a pouco, seus pensamentos foram reencontrando a calma. Era o suficiente para que as últimas palavras que ouvira começassem a ecoar em sua cabeça.

"Você deve ir para a capital ... e solicitar uma audiência com o rei ... tudo o que precisa fazer é dizer quem você é ..."

Perguntas começaram a surgir em sua cabeça. Por que, afinal, deveria procurar justamente o homem mais inacessível de todo o planeta¿ O que ele poderia fazer por Warna¿ Não interessava, de qualquer maneira. Havia feito uma promessa, e tinha intenção de cumprir. Quando a cova estava funda o suficiente, foi até a cabana em busca do corpo. Carregou-o sem grandes problemas e, cuidadosamente, depositou-o no buraco. Olhou uma última vez para o rosto. Queria gravá-lo em sua mente. Ela parecia estar em paz.

Fez suas preces pela alma da mãe e, quando estava tudo terminado, devolveu a areia para o lugar de onde viera. Estava cansada. Sentou-se à beira do mar, com os pés na água, novamente.

Sabia que demoraria dias para que alguma embarcação aparecesse por ali e ela pudesse viajar até a Capital. Não tinha intenção de esperar. Não aguentaria passar mais um dia, sequer, naquela ilha. Só havia uma opção.

Arrastou a canoa da família até a água. Costumavam usá-la para pescar, quando a os grãos acabavam. Era, obviamente, algo muito perigoso. Os mares de Esp-Cor eram conhecidos por sua agressividade. Mas quando havia necessidade não restava opção, senão correr o risco.

Na mente de Warna-San, não havia qualquer dúvida de que embarcar na canoa, pequena e rudimentar, era algo muito próximo do suicídio. Nem mesmo sabia em qual direção deveria remar. Mas, àquela altura, quando a vida parecia ter perdido seu brilho, não se preocupava com isso.

Resolveu entregar aos deuses – nos quais muito poucos ainda acreditavam - o seu destino. Entrou na canoa e, remando lentamente, foi ao encontro de sua sorte.


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