VINTE E UM

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Fazia horas, Eric estava trancado. Já havia perdido a noção do tempo. Olhou seu reflexo na parede envidraçada: estava descabelado e com um olhar que misturava raiva e frustração. Sentia-se humilhado. Que tipo de lunático espera que uma pessoa normal acenda um fósforo sem tocá-lo¿

Um barulho cortou seus pensamentos. Era seu estômago, roncando. Provavelmente estava na hora da segunda refeição, e ele perdera toda a manhã de aulas. Talvez fosse uma boa ideia usar seu tempo trancado inventando uma desculpa para os professores.

Evitara chegar perto da mesa. Não queria dar a nenhum dos possíveis espectadores, do outro lado do vidro, a impressão de que estivesse tentando executar a tarefa. Era orgulhoso o suficiente para privá-los desse prazer.

Em sua mente, uma voz tentava se insinuar ao longo das últimas horas, mas Eric evitou dar ouvidos - queria evitar qualquer tipo de preocupação. Apesar disso, não estava funcionando. A angústia e o ódio em seu peito se acumulavam, à medida que continuava trancado, e a certo ponto uma pergunta ecoou em sua cabeça.

"O que James estava pensando quando fundou essa porcaria¿"

Chegou a praguejar o avô, arrependendo-se em seguida. Ele tivera, sem dúvida, seus motivos – por mais obscuros e ininteligíveis que parecessem. A lembrança do avô trouxe lágrimas a seus olhos. Não queria chorar. Não queria sentir tristeza – não naquele momento. Levantou-se, andando de um lado para o outro.

- Me tirem daqui! – Berrou, enraivecido.

Não houve resposta. Cerrou o punho e fechou os olhos, tentando não perder o controle.

- Me tirem daqui – tentou falar calmamente – por favor.

Eric não pensou que fosse haver resposta. Os alto falantes, no entanto, se encheram com a voz de Rick.

- Tiro, sim. Quando você completar a sua tarefa.

Eric respirou fundo.

- Santo Deus ... vocês são loucos¿ Porque isso aqui tá cada vez mais parecido com um hospício.

Rick gargalhou, do outro lado.

- Concentre-se, Eric. Tudo o que você precisa, para sua tarefa, está dentro de você.

O homem encerrou a comunicação.

- Ótimo – sussurou Eric, irônico.

Apoiou-se sobre a mesa, depois de algum tempo chutando a parede. Encarou o palito de fósforo como se fosse a própria esfinge. Decifra-me ou devoro-te. Acreditava que Rick estava tentando, de fato, ensinar-lhe algo. Talvez tudo não passasse de uma metáfora para uma lição maior.

Quanto mais próximo do fósforo, mais tinha vontade de pegá-lo em suas mãos, parti-lo em mil pedaços e atirá-los na parede envidraçada. Não iria fazê-lo - sabia que Rick, com sua pose superior e seu olhar arrogante, devia estar torcendo por isso.

Seu coração disparou. Sua mente ficou zonza. Precisava se acalmar, antes que tivesse um ataque cardíaco. Lágrimas caíam de seus olhos – um misto de humilhação, tristeza, raiva, orgulho ...

Inesperadamente, uma explosão lançou Eric longe. Havia batido com a cabeça, levando algum tempo para se levantar e recompor. Quando o fez, no entanto, seus olhos não conseguiam acreditar no que viam: o fósforo que encarara alguns minutos antes estava completamente queimado.

Sentiu algo quente no lado direito de seu rosto. Passou a mão para descobrir uma significativa quantidade de sangue escorrendo. O corte, onde quer que fosse, devia ter sido feio. Não acreditava no que via. Não queria acreditar. A pancada estava causando alucinações¿ Esperava que sim. De que outra forma haveria uma explicação racional¿

Perdeu o equilíbrio e tombou sobre os joelhos. Rick entrou na sala com um sorriso no rosto.

- Eu não disse que você conseguiria¿

Eric sentia-se fraco.

- Conseguir o quê¿

Rick rolou os olhos.

- Executar sua tarefa.

Aquelas palavras sugaram as últimas forças do jovem. Tombou de lado, sendo amparado por Rick, habilidosamente.

- Vamos pra enfermaria, ok¿ A gente conversa sobre isso num momento mais oportuno.

Foram as últimas palavras que Eric escutou antes de desmaiar.

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