Em torno da primeira classe, houve certa discussão. A polêmica, entretanto, terminou quando Rebecca ficou com os olhos cheios d'água e jogou seu passado como órfã pobre na cara de Jay. Ele amoleceu, mesmo sabendo que não passava de encenação.
Haviam optado por um voo para a noite seguinte. Deveriam chegar à Escócia pela manhã. Escolheram o horário para dormir durante o voo: aterrissariam descansados e aptos a começar sua busca com disposição total.
Embarcaram sem grandes dificuldades. Quando entraram na aeronave, uma educada aeromoça os conduziu aos assentos. Os olhos de Rebecca saltaram: As poltronas eram imensas e redobravam-se como uma cama para que pudessem dormir. As opções de entretenimento eram tantas que até Jay ficou impressionado.
Quando a primeira taça de champagne chegou, a mulher se empolgou.
- Uau ... champagne de graça!
- Becca, não se esqueça que nós temos o que fazer quando o avião pousar. Tudo o que não precisamos é de uma ressaca.
Rebecca ficou desapontada. Sabia que ele estava certo.
- Ok, ok! Mas pelo menos essa eu posso tomar, né?
Jay pegou a taça que haviam lhe servido e a ergueu num brinde.
- Ao que o futuro nos reserva!
Rebecca ergueu sua taça.
- Que as surpresas sejam agradáveis e os obstáculos sejam superados.
Em poucos tempo os passageiros estavam a bordo. O avião começou a manobrar, ainda em baixa velocidade. Pela primeira vez desde que haviam descoberto o castelo no Reino Unido, Rebecca se deu conta de que a aeronave abandonaria o chão. Não considerara o fato de que nunca havia voado, e só então percebeu como aquilo era assustador.
Começou a suar frio. Como sou estúpida, pensou. Devia ter sugerido ir de navio. Não que tivesse justificativa para escolher uma viagem de navio – a não ser, é claro, o fato de que adorava Titanic. Mas usar o Titanic como explicação era razão para esquecer qualquer viagem de navio.
A velocidade aumentou – o avião decolaria a qualquer segundo. Seu coração parecia ter parado, tamanho era seu medo. Jay notara o silêncio repentino – algo anormal, como ele aprendera ao longo dos anos – mas não havia adivinhado a razão. Não até aquele momento.
Ela nunca havia voado! Era óbvio, na verdade. A aeronave já começava a empinar o bico, e a única coisa que lhe veio à mente foi segurar a sua mão. E segurou. Rebecca não soube se foi a sensação de deixar o chão firme ou o fato de estar apertando a mão de Jay, mas gelou dos pés à cabeça. Provavelmente fora a combinação.
Já no ar, o avião começou manobrar de um lado para o outro. Seu ouvido ficou abafado pela pressão.
- Devia ter escolhido o navio – Pensou alto, sentindo-se nauseada.
- Como é? – Jay a ouviu resmungar.
- Nada não. – Retrucou.
Pouco a pouco, a aeronave estabilizou. Rebecca respirou fundo, desejando não ter bebido aquela taça de champagne - não poderia, depois dela, tomar uma pílula para dormir. Jay a encarava, desconfiado.
- Tá tudo bem, Becca?
Ela respirou fundo.
- Mais ou menos. Isso tudo foi meio assustador.
Ele sorriu.
- Tá enjoada? Tem um saquinho em algum lugar, aqui.
Ele recebeu um olhar cortante, em resposta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todas as Estrelas Cairão do Céu
Science Fiction"Aquele era, sem dúvida, o sujeito mais esquisito que havia visto até então. Era sinistro, na verdade. Vestia-se com uma imensa capa, que o cobria até os pés. Seu corpo não parecia sólido - era feito de um gás preto, que de alguma forma permanecia d...