VINTE E SETE

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Em torno da primeira classe, houve certa discussão. A polêmica, entretanto, terminou quando Rebecca ficou com os olhos cheios d'água e jogou seu passado como órfã pobre na cara de Jay. Ele amoleceu, mesmo sabendo que não passava de encenação.

Haviam optado por um voo para a noite seguinte. Deveriam chegar à Escócia pela manhã. Escolheram o horário para dormir durante o voo: aterrissariam descansados e aptos a começar sua busca com disposição total.

Embarcaram sem grandes dificuldades. Quando entraram na aeronave, uma educada aeromoça os conduziu aos assentos. Os olhos de Rebecca saltaram: As poltronas eram imensas e redobravam-se como uma cama para que pudessem dormir. As opções de entretenimento eram tantas que até Jay ficou impressionado.

Quando a primeira taça de champagne chegou, a mulher se empolgou.

- Uau ... champagne de graça!

- Becca, não se esqueça que nós temos o que fazer quando o avião pousar. Tudo o que não precisamos é de uma ressaca.

Rebecca ficou desapontada. Sabia que ele estava certo.

- Ok, ok! Mas pelo menos essa eu posso tomar, né?

Jay pegou a taça que haviam lhe servido e a ergueu num brinde.

- Ao que o futuro nos reserva!

Rebecca ergueu sua taça.

- Que as surpresas sejam agradáveis e os obstáculos sejam superados.

Em poucos tempo os passageiros estavam a bordo. O avião começou a manobrar, ainda em baixa velocidade. Pela primeira vez desde que haviam descoberto o castelo no Reino Unido, Rebecca se deu conta de que a aeronave abandonaria o chão. Não considerara o fato de que nunca havia voado, e só então percebeu como aquilo era assustador.

Começou a suar frio. Como sou estúpida, pensou. Devia ter sugerido ir de navio. Não que tivesse justificativa para escolher uma viagem de navio – a não ser, é claro, o fato de que adorava Titanic. Mas usar o Titanic como explicação era razão para esquecer qualquer viagem de navio.

A velocidade aumentou – o avião decolaria a qualquer segundo. Seu coração parecia ter parado, tamanho era seu medo. Jay notara o silêncio repentino – algo anormal, como ele aprendera ao longo dos anos – mas não havia adivinhado a razão. Não até aquele momento.

Ela nunca havia voado! Era óbvio, na verdade. A aeronave já começava a empinar o bico, e a única coisa que lhe veio à mente foi segurar a sua mão. E segurou. Rebecca não soube se foi a sensação de deixar o chão firme ou o fato de estar apertando a mão de Jay, mas gelou dos pés à cabeça. Provavelmente fora a combinação.

Já no ar, o avião começou manobrar de um lado para o outro. Seu ouvido ficou abafado pela pressão.

- Devia ter escolhido o navio – Pensou alto, sentindo-se nauseada.

- Como é? – Jay a ouviu resmungar.

- Nada não. – Retrucou.

Pouco a pouco, a aeronave estabilizou. Rebecca respirou fundo, desejando não ter bebido aquela taça de champagne - não poderia, depois dela, tomar uma pílula para dormir. Jay a encarava, desconfiado.

- Tá tudo bem, Becca?

Ela respirou fundo.

- Mais ou menos. Isso tudo foi meio assustador.

Ele sorriu.

- Tá enjoada? Tem um saquinho em algum lugar, aqui.

Ele recebeu um olhar cortante, em resposta.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora