SETENTA E UM

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Jay pegara no sono fazia tempo. Rebecca havia tentado, mas não conseguiu pregar os olhos. Sentia-se como se fora ligada a uma tomada. Não estava exatamente eufórica – ou somente eufórica. Sentia-se incomodada naquele carro, como se estivesse presa. Não ousaria, é óbvio, sair dali – certamente muitos pumas famintos ainda estavam à procura de uma presa.

O homem não havia facilitado. Depois de pegar no sono, se esticou de lado a lado no banco traseiro, espremendo Rebecca num canto. Não conseguia se mexer, mas não tinha coragem de acordar Jay – ficara exausto depois de tanto esforço. Decidiu continuar observando as estrelas pela janela e deixou-se tomar por seus pensamentos.

Sem que esperasse, seu colar começou a emitir um brilho fraco. Era a joia que Ynadrá lhe dera meses antes - já tinha se esquecido dela, tão corridos vinham sendo os dias. O brilho foi aumentando, até se tornar intenso. Na última vez em que aquilo ocorrera a Guardiã estava tentando se comunicar. Rebecca sabia o que tinha que fazer.

Tocou o colar, sendo imediatamente levada para algo que parecia outra dimensão. Sentia-se flutuando, em meio à escuridão assustadora. A voz de Ynadrá logo se impôs, ensurdecedoramente.

- É bom revê-la, Rebecca, ainda que as circunstâncias não sejam as melhores.

- Obrigada.

- Eu consigo senti-la. Você e Jay. Vocês avançaram em sua busca.

- Sim.

A escuridão se foi, sem aviso. No lugar dela, o deserto de Sonora surgiu, com uma perfeição assustadora. Rebecca olhou para os lados e, para sua surpresa, descobriu um jipe idêntico ao que haviam usado na viagem. Aproximou-se e observou, no banco traseiro, ela e Jay em sono profundo.

Ynadrá se materializou a seu lado.

- É melhor fazermos isso o mais rápido possível.

- Fazer o quê, exatamente¿ - Rebecca estava perdida.

- Eu vou te guiar até a entrada da prisão. Vocês estão próximos, mas demorarão dias explorando as possibilidades se não souberem o caminho certo.

A mulher concordou. Ynadrá projetou uma luz vermelha intensa, a partir suas mãos – parecia-se com um laser. Apontou-as para o chão, marcando-o à medida que andava.

- Vocês só precisarão seguir as marcas e chegarão.

Não demorou para que alcançassem a discreta entrada. Ainda era guardada por dois Sombras que, como da última vez em que estivera ali, não podiam vê-la.

- Não hesite quando chegar aqui. Mate os dois – a Guardiã afirmou.

- Como nós te encontraremos¿ - a mulher estava preocupada.

- Nossa ligação te guiará.

Rebecca despertou, assustada. Olhou pela janela – à primeira vista tudo parecia normal, mas logo notou, próximas ao carro, marcas avermelhadas reluzindo no solo. Não havia tempo a perder.

Cutucou Jay, tentando despertá-lo. As primeiras tentativas foram inúteis – ele parecia um urso hibernando. Demorou até que o homem acordasse, mas quando o fez, saíram sem procrastinação.

***

Não houve dificuldade para chegar à entrada da prisão, com a ajuda fornecida pela Guardiã. O lugar continuava como estivera no primeiro sonho de Rebecca: várias tochas presas ao solo, delimitando uma espécie de estrada na direção de uma elevação, onde se via uma entrada tosca e improvisada. Esconderam-se atrás de um arbusto próximo, para decidir como prosseguir.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora