Chapter Twenty Nine

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Capítulo narrado por Dominic.

Eu estava sentado na cama encarando as paredes enquanto a garota ao meu lado dormia como um anjo, tranquila e com um sorriso satisfeito no rosto. Eu queria fazer o mesmo que ela, fechar os olhos e dormir, mas um dos pontos ruins de ser um demônio é que eu não cansava, estava sempre bem disposto e cheio de energia, eu poderia fazer aquilo de novo e de novo e nunca cansaria, assim como eu poderia beber sem parar e não ficaria bêbado, assim como poderia levar um soco e uma facada__ coisas que já haviam acontecido__ e não sentiria absolutamente nada. 

ㅤㅤㅤㅤIsso era bom, significava que era mais difícil me matar, mas em alguns momentos, como agora por exemplo, ser uma criatura infernal tinha seu lado ruim. Gostaria de simplesmente estalar os dedos e acabar de uma vez com esse maldito ritual, conseguir de uma vez minha liberdade e minha vida humana. Os encantos da vida humana se tornavam cada vez mais tentadores. 

ㅤㅤㅤㅤLevantei-me da cama devagar, sem fazer barulho algum e sai do quarto, descendo as escadas em direção a cozinha. Sem muita pressa preparei duas bandejas de café da manhã, peguei uma delas e ao invés de subir eu desci. Estava na hora de ver a minha hóspede.

Destranquei a porta e a avistei. Sentada bem lá no canto, encolhida. Ela fez uma careta quando a luminosidade entrou, ferindo seus olhos.

ㅤㅤㅤㅤ- Trouxe seu café da manhã. - Murmurei entrando no quarto.

ㅤㅤㅤㅤ- Não quero sua comida. - Ela disse dando uma rápida olhada em mim e depois encarando apenas o chão.

ㅤㅤㅤㅤ- Vai morrer de fome se não comer. - Eu avisei.

ㅤㅤㅤㅤ- Como se você se importasse. - Ela deu uma risada amargurada e revirou os olhos.

ㅤㅤㅤㅤ- É, eu não me importo. - Dei de ombros despreocupadamente e coloquei a bandeja no chão perto dela. 

ㅤㅤㅤㅤSilêncio, a observei enquanto ela respirava fundo, parecendo tentar conter a raiva. Ela encarava a bandeja que eu trouxera, ela estava morta de fome, eu podia ver isso, mas era orgulhosa demais. Talvez isso mudasse quando eu saísse e ela ficasse sozinha. Não que importasse. 

ㅤㅤㅤㅤ- Quem esta lá em cima?

ㅤㅤㅤㅤ- Isso importa? - Eu perguntei e o olhar dela me fez perceber que importava sim. - Chloe.

ㅤㅤㅤㅤOutro longo momento de silencio. Aquilo era frustrante.

ㅤㅤㅤㅤ- Me deixe ir. - Ela pediu fazendo uma careta, ela estava com vontade de chorar. - Por favor.

ㅤㅤㅤㅤ- Eu não posso. - Respondi simplesmente.

ㅤㅤㅤㅤ- Eu não vou atrapalhar você, só me deixe ir embora daqui. Por favor. - Ela implorou agoniada.

ㅤㅤㅤㅤ- Te conheço bem demais pra saber que vai tentar interferir Dalila, e não tenho mais tempo pra joguinhos com você. Falta pouco pra eu conseguir minha liberdade, e não vou deixar que você me atrapalhe. 

ㅤㅤㅤㅤ- EU NÃO QUERO FICAR AQUI! - ela gritou perdendo o controle. - Não pode me deixar trancada aqui enquanto seduz e mata meninas inocentes, eu não sou seu brinquedinho. Se não vai me matar me deixe ir embora. Porque ainda estou aqui droga? Porque ainda estou respirando? 

ㅤㅤㅤㅤAli estavam, a raiva e o desespero que eu queria ver, a reação normal de uma pessoa normal. Não que Dalila fosse uma garota comum, longe disso. 

ㅤㅤㅤㅤ- Você ainda vai me agradecer por isso. - Eu garanti a ela.

ㅤㅤㅤㅤ- Vai pro inferno! - Ela gritou exaltada, pegando o copo de suco que eu colocara pra ela e tacando em minha direção, o copo bateu na parede perto de mim então se estilhaçou, espalhando suco e vidro pra todos os lados. 

ㅤㅤㅤㅤ- Eu já estive lá. -Respondi simplesmente então lhe dei as costas, saindo dali e trancando a porta. 

ㅤㅤㅤㅤVoltei à cozinha e peguei a outra bandeja que deixara em cima da bancada. Quando entrei no quarto de novo Chloe já estava acordada, vestindo a minha camisa, se espreguiçando. Eu sorri pra ela embora não estivesse muito contente.

ㅤㅤㅤㅤ- Trouxe seu café da manhã. - Disse me sentando ao lado dela na cama. 

ㅤㅤㅤㅤPor um momento, me lembrei da primeira noite que Dalila passou aqui, como ela me olhara quando trouxe o café da manhã, toda desconfiada. Me lembrei também de nossa noite juntos, de como ela tentara resistir de mim, de como sempre resistia. Chloe nem piscou duas vezes antes de dormir comigo. Eu gostava da resistência, dos joguinhos, da conquista, não tinha graça quando era fácil demais.

ㅤㅤㅤㅤDepois que ela terminou de comer, em meio a alguns beijos e carinhos, joguei pra cima dela aquela mesma história de “amor verdadeiro” e “juntos pra sempre” que eu usava com todas, disse que pra ficarmos juntos ela precisaria fazer algo por mim, somente se ela me amasse de verdade e ela facilmente aceitou. Novamente sem nenhuma resistência. Fácil demais. 

ㅤㅤㅤㅤ- Então. Vejo você à noite? - Perguntei sorrindo pra ela.

ㅤㅤㅤㅤ- Com certeza. - Ela concordou. 

ㅤㅤㅤㅤEsperei pacientemente enquanto se vestia e depois a acompanhei até a porta da mansão. Assim que ela saiu eu tomei um banho, troquei novamente de roupa e fui resolver um pequeno problema. Ninguém podia saber que Dalila estava desaparecida. Seria melhor se os tios dela não sentissem sua falta, me causaria menos transtorno. 

Passado...

Uma manche em minha vida que eu nunca conseguira apagar.

Gostaria de ser como os outros demônios e simplesmente esquecer.

Mas aquilo sempre voltaria pra me atormentar.

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