Capítulo 12

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Mais um dia se inicia. Acordo, mais uma vez, com vontade de ir pra escola, apenas para ver Rodrigo. Não que eu não gostasse de ir ao colégio antes, pelo contrário, sempre foi o lugar que eu mais gostei de estar, mas sabe quando passa a existir uma motivação bem maior? É tipo isso.

Me arrumo no mesmo estilo casual, mas não largada, desço para o café e, então, sigo para o colégio. Ao chegar, direciono meu olhar ao estacionamento, que fica em anexo com a escola, e procuro pelo carro de Rodrigo, que deixa habitualmente no mesmo local, mas não encontro.

Vou para sala e entra a professora de educação física, Natália. Apesar de não ser muito amante dos esportes, tento, mas o que mais gosto é a liberdade que a professora nos dá em manifestarmos o movimento de diversas formas, inclusive através da dança, que tem o meu amor todinho.

— Meus queridos, bom dia! — sempre muito alegre — Estamos na segunda semana de aula e precisamos retomar nossas atividades físicas. Manteremos nosso mesmo padrão dos anos anteriores, pois sempre foi muito proveitoso. Porém, trago algumas novidades. — Nesse momento, a turma fica em polvorosa — Calma, gente! Vou explicar. Os meninos podem ir preparando seus times para as diversas atividades intercolegiais e campeonatos. Com isso, meninas, a novidade para vocês é que precisaremos montar um grupo das líderes de torcida. Os testes começarão na próxima semana e vocês podem pegar a ficha de inscrição comigo. As aprovadas, deverão comparecer assiduamente em todos os ensaios, pois equivalerá às aulas de educação física, as quais serão dispensadas. Aos demais, nossos encontros serão às quintas-feiras. Obrigada pela atenção de todos!

Ela sai e começa a conversa paralela dentro da sala. Fico muito feliz com a notícia, pois dançar é simplesmente vida. Lembro que quando tinha mais tempo, ficava de bobeira com a Charlie ensaiando todas as coreografias do fit dance (isso não é uma propaganda, mas já sendo...). Saio dali e minha maior motivação é ver se Rodrigo já chegou. Com meu papel impecável de atriz global, vou discretamente até a sala dos professores e fico do lado de fora procurando como quem não quer nada.

— Buuhh!

— Menina do céu, quer me matar do coração? — pergunto palpitante.

Era Charlie. Ela aproveitou o meu momento de distração e me deu um susto.

— Está devendo ao agiota, é? — solta sua gargalhada e continua —  E ai? Procurando o gatão?

— Ora, mas que gatão?

— Ás vezes você esquece que te conheço melhor do que você mesma. — e realmente ela tem razão.

— Sim, estou. — confesso — Mas, também estou procurando a professora para me inscrever para o teste.

— Tá falando de ser líder?

— Sim, é o meu talento nato, você sabe. — sorrio.

— Ah, vou ter que me inscrever também. — ela diz empolgada.

— Eu te obrigaria caso cogitasse a possibilidade de não participar.

— Já imaginou, Marinho? Participar do time, viajar com eles, competir com outras líderes e o mais prestigiado: o casaco do time. — ela diz com os olhos brilhando.

— Nossa, não tinha pensado em tudo isso. Temos que dar o nosso melhor.

— Claro que vamos dar, aqui a parada é de sucesso. — rimos e vamos até lá fazer a inscrição.

Entramos na sala dos professores para falarmos com a professora Natália e aproveito para averiguar se Rodrigo estaria ali. Vejo que não. Nos inscrevemos e saímos pensando em umas ideias para nossa performance. Faremos em dupla.

Assistimos a todas as aulas e combino com Charlie para que ela vá até minha casa para juntarmos mais ideias. Sigo andando pelo meu caminho habitual e rotineiro e quando chego na esquina do colégio, vejo um carro conhecido. Não podia ser, mas era. Quando passo ao lado, o vidro abaixa e escuto meu nome ser chamado.

— Jhuly!

Era Rodrigo.

— Rodrigo, que boa surpresa.

— Vim lhe dar uma carona. — diz com um sorriso malicioso nos lábios.

— Fico lisonjeada com tamanha consideração. — também sorrio e entro no carro.

— Por que não apareceu na escola? — pergunto após lhe dar um selinho.

— Hoje é minha folga, princesa. —lembro então que na quarta-feira passada, não o tinha visto também. — Estava me procurando? Sentiu saudades?

— Você nem sabe o quanto.

— Queria te levar pra algum lugar, mas está tarde, são quase meio dia. — ele diz. — Imagino que não dê para você.

— É verdade... — digo fazendo cara de chateada.

— Mas, podemos passar a tarde juntos. — ele propõe — Usei a manhã para colocar em dia grande parte das obrigações.

— Adoraria — respondo —, mas combinei com minha amiga para acertarmos algumas coisas para um projeto.

— Entendo. Mas, e que tal a noite? — ele tenta outra vez e fico feliz por ver seu interesse.

— Por mim, tudo ótimo!  — digo com um imenso sorriso estampado na cara. 

— Te pego às 19h30, tudo bem? — Me pega? Gosto disso.

— Tudo sim. — Confirmo.

— Agora você poderia fazer a gentileza de me passar o seu contato, senhorita? Que indelicadeza de sua parte falar comigo só em horário de trabalho. — ele sorri e é impossível não sorrir junto.

Chegamos em casa, me despeço dele com um beijo suave. É claro que quando digo "chegamos em casa", tomamos todo o cuidado do mundo para que nada escape de nosso controle. Por sorte, o vidro do carro é fumê, o que nos garante maior tranquilidade.

Subo para meu quarto, troco de roupa, desço, almoço e subo novamente. Hoje eu teria um encontro de verdade. Estava muito mais do que ansiosa para isso. Pensei no que ia vestir, que make usar, acessórios, sapatos, tudo. Dessa vez não queria me parecer em nada com uma menina, mas sim, uma mulher da qual ele podia fazer tudo o que pensasse. No entanto, o sono me rouba e acabo dormindo por alguns minutos.

Acordo com batidas na porta do meu quarto. Atendo, era Charlie.

— Já falei que você tem um sono de pedra? — ela vai entrando.

— Só umas 769 vezes.

— Bem específica você, hein?! Pois bem, vá lavar seu rosto e se esperta, porque eu estou cheia de boas ideias.

Obedeço-a.
Conversamos, vimos inúmeras coreografias, ideias de vestimentas no pinterest e decidimos que o melhor a se fazer, era contar com a ajuda de um profissional para nos instruir. Assim, era quase certeza que seríamos aprovadas, pois tínhamos o gingado, só precisávamos casar isso com uma boa técnica. Foi então que percebi o quanto isso era importante para nós e mais uma vez, estávamos lado a lado para uma nova história.

— Então está decidido. Amanhã depois da educação física, iremos atrás de um coreógrafo. — Charlie afirma.

— Tudo bem amiga, fechado.

— Agora tenho que ir, tenho um encontro com o boy magia. — ela fala toda feliz.

— Não é só você, meu bem. — dou beijinho no ombro e rio.

— É com o gatão? — ela pergunta.

— Sim — assinto —, mas não conta pra ninguém amiga, por favor.

— Você sabe que eu não faria isso, Jhu!

— Eu sei que não, Charlie! Força do hábito! — a abraço e a acompanho até a porta. Vamos rindo e perturbando uma a outra. Eu não sou do tipo que não sabe guardar segredo, mas a Charlie era leal a mim, como eu a ela, e sei que no pior das hipóteses, se algo desse errado, ela iria juntar meus caquinhos, embora eu acredite fortemente que dessa vez não será preciso.

Volto para o quarto e olho no espelho. Começo a ficar nervosa. Tenho que me arrumar dentro de três horas e conseguir ir mais longe do que nosso último encontro.

Meu querido professorOnde histórias criam vida. Descubra agora