Capítulo 23

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Hoje é segunda-feira, tenho aula de história. Recomeça o meu drama. Confesso que tem sido muito doloroso ver Rodrigo sempre acompanhado e levando bem a vida, enquanto eu fico nessa situação.
T-shirt preta, calça preta, tênis branco e óculos escuro. Estou pronta para o funeral. Arrumo meus agora loiros cabelos e vou rumo a escola.

— Toda no pretinho nada básico. Bom dia, amiga! — Charlie me encontra com seu abraço de todos os dias. — Realmente você ficou muito bem de loiro.

Trocamos algumas ideias e vamos para a sala. Muitos olhavam surpresos, talvez não tivessem me reconhecido na apresentação. As aulas começam e estou muito focada, pois é semana de revisão, as avaliações estão se aproximando.
Passam-se as primeiras aulas e eu vou beber um pouco de água, pois sabia que vinha pedrada pela frente. Quando vou me aproximando, ao regressar, escuto a voz de Rodrigo vindo da sala. Paro, dou uma arrumada no cabelo e entro como se fosse indiferente.

— Com licença, professor. — digo ao passar por ele.

Percebo sua surpresa, mas finjo que não me dou conta e volto para o meu assento. Rapidamente ele retorna o que estava dizendo antes de eu ter interrompido com a minha entrada.

— Bom, como ia dizendo, nossa estagiária está se despedindo hoje e em nome de toda turma, quero agradecê-la por ter contribuído com o aprendizado.

— Só se a lição fosse como roubar o macho alheio — digo olhando para as minhas unhas.

— Você disse alguma coisa? — Patrícia, que pensei que não teria ouvido, se dirige a mim e todos também olham.

— Eu disse que você não fez nada mais do que observar, o que isso pode ter acrescentado em nossas vidas? — digo olhando diretamente nos seus olhos.

A turma, que gostava sempre de colocar lenha na fogueira, solta seu tão famigerado "aaaahhh".

— Você tem muito o que mudar em seu comportamento, mocinha, caso contrário, não irá chegar a lugar algum. — ela rebate.

— Quer dizer que agora o meu mérito é mensurado a partir do seu achismo? Faça-me o favor. — agora eu tinha certeza que era uma briga comprada e declarada.

— Marinho, é melhor você se conter, ou vai levar advertência. — Rodrigo se dirige a mim. Está defendendo a piranha.

— De quem, de você? — pergunto e alguns arregalam os olhos ou levam as mãos a boca.

— Já está bom, Jhuly. — Charlie fala baixinho, tentando me controlar.

— Ninguém está vendo o abuso que está acontecendo nessa sala de aula? — pergunto a todos em alto e bom som.

— Para a direção, Marinho. — Rodrigo fala com a voz grossa. Eu olho nos seus olhos com minha fúria evidente, mas obedeço.

— É melhor do que ficar aqui, muito obrigada pelo favor! — pego minhas coisas e me retiro.

A fofoquinha começa na sala e já do lado de fora eu escuto sua ordem de silêncio. Sigo para a diretoria, me encosto na parede, cruzo os calcanhares e espero.

— Você por aqui, Jhuly? Algum problema? — pergunta a senhora diretora, ela nem espera que seja um mal comportamento de minha parte, pois sempre tive uma conduta exemplar.

— O professor de história quer dar uma palavrinha comigo, acredito que seja sobre o programa de monitoria. — minto com a cara mais lavada possível.

Pouco depois, Rodrigo entra na sala e já enganada por mim, a diretora se retira.

— Vou a coordenação fazer a checagem do processamento das provas, enquanto isso, pode usar a sala para conversar com a nossa aluna brilhante. — diz Velma para Rodrigo.

— O que pensa que está fazendo me provocando desse jeito? — ele pergunta raivoso, assim que ela vira as costas.

— Já lhe disse uma vez e repito: o universo não gira em torno de você.

— Jhulyane, você tem que se lembrar que dentro de sala, você é apenas a minha aluna e você me deve respeito.

— Dentro e fora, você quis dizer. Agora, não venha me pedir que eu aceite, que eu adore e que eu tenha admiração por uma mulherzinha sem vergonha que só veio aqui na busca por um homem. Educação nunca foi o ponto forte dela.

— Jhuly, se você soubesse o quanto essa rebeldia me faz ficar louco por você. — ele diz se aproximando de mim — E fica ainda mais linda com esse novo visual, não consigo tirar os olhos de você.

— Só não mais linda que a estagiária e futura professora de história e agora namorada. — digo e ele solta um suspiro.

— Jhuly, se você soubesse que...

— Se eu soubesse o que? Vai ficar se explicando através dessa fala? Eu não quero saber de nada, aliás, eu só queria saber o que foi que eu fiz de errado nesse mundo pra merecer isso. — digo.

— O errado sou eu, Jhuly, por deixar você escapar das minhas mãos assim.

Sem perceber, já estávamos há pouquinhos centímetros de distância. Ele apenas olha para trás, vê que a sala permanece vazia e me arranca um beijo. Como aquilo era bom. Não era aquele beijo com a necessidade de sempre. Foi carinhoso, suave. Se não soubesse a real, diria que foi com amor.

— Eu estava morrendo de saudades de você, Jhu, minha princesa. — ele diz olhando nos meus olhos, ainda com as mãos na minha nuca. O momento me deixou enfraquecida.

— Apesar disso, você sempre esteve bem e não sentiu nada do que eu senti. Aliás, você está nesse exato momento fazendo uma pobre coitada, que está lá na sala, de boba. — me refiro a Patrícia.

— Ai, sempre a minha Jhu. — ele diz com um sorriso no rosto, que me confunde completamente. Será ele um cachorro nível master elevado? — Volte para sala, não quero que perca os dias de revisão, mas depois teremos que conversar.

Perdida, como estava, apenas assenti e voltei para aula. A mocreia me olhando quando voltei me fez querer entrar em outra discussão, mas mantive a calma. Charlie me olha preocupada, depois a conto o que aconteceu. De um modo ou de outro, eu senti um pouco mais de calma. Por mais que não tivesse nada claro, por mais que ele estivesse ao lado de alguém, sabia que haveria uma trégua. Acho que é o momento de aceitar que seremos apenas isso, professor e aluna, e quem sabe, futuramente, bons amigos.

Meu querido professorOnde histórias criam vida. Descubra agora