Capítulo 20

7.3K 407 28
                                    

Após a derrota do fim de semana, decidi que não deixaria ninguém pisar em mim. Andei muito pacífica até aqui, mas se querem fogo no parquinho, terão um incêndio. Logo para início de semana, tem a bendita aula de história, então, que comecem os jogos.

Tomo um banho, visto uma calça jeans rasgada, tênis branco, um top branco e o casaco do time. É a primeira vez que o uso, e pelo que sei, começarei ganhar popularidade, pelo menos é o que eu espero. Faço uma maquiagem bem básica, pego minha mochila e vou para escola.

Chego e me junto a Charlie e outras meninas da equipe que estão conversando logo ali. Fico por pouco tempo e me despeço. Ao passar pela sala dos professores, ouço alto risos e como boa curiosa, entro e vejo que os protagonistas são Rodrigo e Patrícia. Já que eu estava lá, teria agora que inventar uma boa desculpa.

— Bom dia! — ambos dizem.

— Estava bom. — sussurro.

— O que você disse? — Patrícia pergunta.

— Eu disse "bom dia professor Fragoso e futura professora de história!". Cê ouve bem, né? — nesse momento, não temi advertência ou qualquer outra punição.

— Precisa de alguma coisa? — ela pergunta. 

— Sim, vim pegar a documentação necessária para a minha transferência. — respondo.

Consigo ver o espanto de Rodrigo estampado.

— Transferência, Marinho?

— Exatamente, mas volto quando a senhora Liliane estiver aqui. Faloures!

Saio e vejo que o corredor já está quase vazio. Provavelmente todos já estão na sala, apresso os passos, quando uma mão me puxa pela cintura, me fazendo virar para frente.

— Ficou maluco, Rodrigo?

— Como assim você vai ser transferida? — ele pergunta sem entender direito.

— O que não ficou claro? Vou sair desta escola, pois surgiu uma opção melhor. Uma escola mais moderna... e com professores mais gostosos, se é que me entende. — digo com uma cara travessa.

— Você não pode estar falando sério — ele diz.

— Será? — Me viro e vou para aula, mexendo em meus cabelos.

Chego lá e fico a aula inteira arquitetando meu segundo golpe. Quando a professora que antecede Rodrigo sai, vou para o lado de Raian, para que quando esse querido chegue, me veja aos papos, igual o vi mais cedo.

— Raian, posso falar com você? 

— Claro. — ele diz gentilmente. 

— Na verdade, só quero saber se está tudo bem entre nós. Gostaria que continuássemos sendo amigos. Tudo bem?

— Você sabe que não era assim que eu queria, mas é melhor que nada. — ele diz dando um sorriso, ao qual retribuo.

Nesse momento, Rodrigo e sua sombra entram na sala.

—Um abraço, então? — proponho ardilosa. 

— Claro.

Ele me abraça intensamente e Rodrigo capta esse momento. Como sei? Ele fez uma cara que qualquer um teria medo e pôs todo seu ódio na aula. Não teve bom dia, não teve conversa. Apenas a forma ríspida de dar aula. Quando eu percebia seu olhar sobre mim, lançava o meu para Raian, para perturbá-lo mais ainda. Quase no fim da aula, ele devolve a prova que fizemos semana passada. Como eu já imaginava, fechei. Havia um pequeno "parabéns" no canto da prova, com algo rasurado pelo corretivo. Logo a aula termina.

— Vocês estão dispensados, exceto Jhulyane Marinho. — ele anuncia. 

Meu coração começa a bombear que nem louco. Charlie passa e me deseja boa sorte, apenas lanço uma piscadela. As meninas passam no meu lado dizendo coisas do tipo "ai, queria eu ser chamada por ele depois da aula". Oferecidas! Ele pede para que Patrícia vá resolver alguma situação em seu nome. Todos saem e ficamos a sós.

— O que deseja? — pergunto. 

— Primeiramente, parabéns pela sua nota. Eu sabia que era capaz.

— Por isso que fez questão de me dar a argumentativa?

— Sim, foi por isso. — ele assume. 

— Então, muito obrigada, tenho que ir! — digo me dirigindo a porta.

— Eu não terminei, Jhuly. Você está mesmo saindo da escola?

— Estou sim. — minto descaradamente.

— Por que? — ele pergunta

— Porque eu quero estar em um lugar onde as pessoas tenham orgulho de me ter, não apenas se aproveitarem de minha bondade.

— Se refere à mim? 

— O mundo não gira ao seu redor, professor, sinto em lhe dizer.

— Toda essa arrumação só por ter voltado com aquele moleque?

— É... pode ser.

—Jhuly, você não pode...

— Não posso o que? — o interrompo — Não posso ser amada?

— Não é isso, Jhuly.

— Que seja! Você não tem motivo para se meter na minha vida. Você não tem compromissos comigo, ou tem?

Ele fica em silêncio. 

— Foi o que pensei. — respondo e saio da sala.

Novamente me pego com os olhos cheio d'água por esse homem. Talvez isso seja um sinal me dizendo para não insistir mais e é o que irei fazer. Já disse que o amo e já disse as minhas intenções com ele, já fiz demais, é melhor deixar de lado. Vou para casa descansar, mais tarde tem ensaio e quem sabe eu saio dessa tensão.

Meu querido professorOnde histórias criam vida. Descubra agora