Capítulo 38

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Mais uma semana de provas se inicia. Minha mãe me deixa na escola e vou direto para sala. Chego e vejo Charlie mergulhada nos cadernos.

— Estudando na última hora? — pergunto e me sento.

— Tipo, sá comé né? — ela diz e rimos.

Me acomodo, coloco os fones de ouvido, tento relaxar e espero as provas começarem. A professora Soraia é quem ficará monitorando, enquanto fazemos provas de ciências humanas. 
Prova super tranquila, termino, entrego, me retiro e vou para biblioteca, está muito cedo para ir pra casa. Coloco os fones de ouvido outra vez, e saio pelos imensos corredores, recheados de livros, quando de repente, no final de um desses corredores, encontro um certo professor que sempre me deixa abalada.

— Jhuly, você por aqui? — Rodrigo pergunta.

— Incomum, não é? — debocho, pois sempre estou por aqui.

— Precisa de ajuda para escolher? — ele se dispõe.

— Talvez.

Ele me acompanha por imensos corredores e vai explicando as sessões, como se eu não as conhecesse tão bem.

 — Você está bem? — pergunta.

— Na medida do possível e o senhor?

— Bem...

— E o bebê? — pergunto para saber se ele continua sendo trouxa.

— Ele está bem. — responde sem jeito.

— E já sabem o sexo?

— Não, ainda é cedo para saber.

— Ah, sim, mas com certeza será um bebê de sorte... muito amado. — digo olhando para os livros.

— Com certeza vai, e protegido também, Patrícia não deixa eu nem tocar na sua barriga. — de repente ele para — Mas acho que não deveria estar falando disso com você, afinal... — o interrompo.

— Imagina, estou até interessada, mas como assim? Não deixa tocar? Isso é estranho, hein?!

— Só é cuidado.

— Rodrigo.

— Sim? — ele responde.

— E se ela não estiver grávida? — pergunto na intenção de plantar uma dúvida.

— Como pode dizer isso?

— Das vezes que você me levou para a cama, você teve o cuidado de não deixar nada acontecer, e quando esteve com ela, você não pensou nisso? Tem certeza que não há nada de estranho nessa história? — pergunto.

— Você está ficando louca ou apenas tentando chamar atenção?

— O quê? — fico indignada com a audácia desse homem.

— A barriga dela já dá sinais de desenvolvimento do bebê. Apesar de entender sua revolta, eu não posso fazer nada, é meu filho, não tenta eu fazer sentir nada de ruim por alguém que não tem culpa.

— Quer saber? Enfia um rojão no c* e sai voando. Continua sendo trouxa! — me viro para me retirar e ele segura o meu braço. Olho para sua mão e vejo uma aliança.

— Você vai casar? — pergunto com raiva e frustração.

— É minha obrigação moral.

Lágrimas começam a rolar pelo meu rosto e ele parece aflito.

— Você é um idiota sem tamanho. — saio dali rapidamente e vou para o banheiro terminar o choro que comecei. Depois que me senti satisfeita em choro, saio e me sento em um dos bancos do pátio. Fico por longos minutos olhando pro nada e sinto a presença de alguém no meu lado.

— Jhuly, eu só vou fazer isso pelo meu filho. — ele diz, tentando acompanhar meu olhar.

— Seu filho... — digo.

— É, Jhuly.

— Cara, você é muito mais trouxa do que eu. — falo como se estivesse em anestesia. Lágrimas invisíveis rolam por todo o meu rosto.

— Jhuly, eu quis você, mas você me empurrou para longe, então achei que o melhor a se fazer era dar suporte a essa criança.

Olho pra ele e digo:

— Sim, eu te afastei justamente por achar que você fosse ser pai.

— Por que eu sinto que você está insinuando que essa gravidez é falsa? — pergunta.

— Descubra sozinho... — me levanto e vou em direção ao portão.

— Jhuly. — ele me chama.

— Sim?

Ele chega perto e diz:

— Me espere na esquina.

Me viro e saio. Não tenho certeza do que fazer, só vou indo. Ao chegar na esquina do colégio, decido não esperar e seguir. Quando estou me aproximando da próxima, Rodrigo me alcança em seu carro. Ele abaixa o vidro e diz:

— Entra!

Continuo andando como se ninguém estivesse falando comigo. Ele me segue.

— Jhuly, entra, se não te coloco a força!

— Experimenta! — respondo no impulso.

Ele sai do carro, me carrega sem o menor pudor e me coloca no carro. Ele acelera e vai.

— Jhuly, você não sabe o quanto tudo isso me machuca e o quanto estou confuso. Mais uma vez, o destino me atribui uma carga que não é minha.

Agora pronto, coitadinho dele, o destino é cruel apenas com ele, fala sério!

Não respondo nada, vou muda durante toda a viagem. Quando chego na esquina de casa, apenas digo "obrigada" e saio. Entro e me ponho a pensar.

— Ele vai casar. — digo sozinha. — Não há mais o que fazer, até ele descobrir, ela vai estar grávida de verdade. O jeito é torcer para que o ano acabe logo e eu me livre de tudo.

Meu querido professorOnde histórias criam vida. Descubra agora