28- Fear

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— O Joel... ele ainda está vivo? — perguntei.

— Ellie, eu não sei, é provável. Vou explicar, desde que tudo isso começou, nós dois estávamos do outro lado da cidade, e Joel estava desesperado para te salvar, mas não te encontramos onde você disse que estava.

— Uma merda de base militar me parou antes, depois de uns dias presa lá eu fugia de noite, eu procurei vocês por tudo quanto é canto, depois de muito tempo eu pensei que vocês haviam se esquecido.

— Não, não mesmo. Joel ainda te procura, se ele ainda estiver por aí, ah, eu preciso procurar por ele.

— Mas como vocês vieram para cá?

— Passamos um tempo rondando, sobrevivendo por ai. Eu, Joel e Tess. Tivemos vários grupos, mas a maioria enlouqueceu e se matou, ou fugiu. Nós fomos pegos por esses homens, eles iam nós matar, mas Joel entendeu o jeito deles, disse que era louco por morte e mentiu para o líder, eles nós aceitaram como membros daqui.

— Tess... ela ainda está viva? Para onde Joel foi?

— Sim, eu vi ela ontem a noite, ela trabalha com a parte dos alimentos, Joel saiu, ele  fugiu faz alguns dias, disse que ia atras de ajuda. Ellie, eu posso te tirar daqui, antes que qualquer coisa ruim aconteça com você, amanhã mesmo. Eu quase surtei quando te vi no chão... e eu quase não te reconheci.

— Não... eu não posso simplesmente sair assim, eu tenho pessoas importantes que estão aqui também.

— Eu não posso tirar muitos... Ellie, eles irão notar — ele sussurrou a última parte, e eu travei.

— É claro que eu quero ir embora. Mas eu não posso.

— É algum menino? Certo, você pode levar seu namorado.

— Não... não. Eu tenho uma namorada, mas não é só ela. Esse pessoal é uma família para mim, eu não posso.

— Namorada? Ok. Família? Joel, eu e Tess somos sua família.

— Tommy, você não pode me deixar nessa situação, eu amo vocês e eu nem consigo acreditar que você... vocês estão vivos, mas eu não posso abandonar eles, eu passeanos sozinha com Alicia, e depois encontramos eles, esse grupo cuidou de nos duas, você não tem noção do quanto já...

— Eu estou de dando a oportunidade, tudo bem, pode levar sua namorada, mas eu não tenho nem como pensar em tirar todos daqui, nós três já tiramos muitos daqui, porque sempre chegavam em pequenos grupos. Ellie, seu pessoal é um número muito grande, seria impossível.

Tentei convencer ele a todo custo, eu não poderia pensar nisso, seria egoísmo e eu não conseguiria, ao mesmo tempo que o ouvia falar, não conseguia acreditar naquilo, se Joel estivesse por aí, eu faria de tudo para vê-lo, menos deixar eles. Eu nunca fui muito próxima de Tommy, as vezes quando Joel me levava para algum lugar, ele ia junto, era divertido, provavelmente a única coisa que eu realmente sintentia falta antes disso tudo. Conversamos por muito tempo, ele começou a olhar para um relógio na parede.

— Você precisa voltar... Ellie, se alguém perguntar o que houve aqui, você precisa me prometer que não vai contar sobre nada, mas diga que eu te estuprei.

— O que? Como... é... é para isso que aqueles caras chamaram algumas mulheres — meu coração começou a disparar assim que me toquei que Alicia tinha ido para outro local.

— Sim, eu sinto muito — assim que ele confirmou minha hipótese, comecei a chorar — Isso... isso chore, eles vão acreditar assim.

— Eu preciso salvar ela. Tommy, me leve até lá.

— Já acabou, o tempo acabou, eu realmente sinto muito, mas já aconteceu.

Ele segurou minhas mãos atrás da minha costa e me levou, ainda era escuro, eu passei por um corredor gigante cheio de celas, vi alguns do meu grupo pesos nelas, ele abriu a porta de uma e me empurrou dentro, só Tara e Rick estavam lá, assim que Tommy se afastou, Tara veio me acolher, pensei muito antes de falar algo, confiei no que ele me falou, apenas disse que havia sido violada.

[Alicia]

Destruída, machucada e com certeza traumatizada, aquele animal havia feito algo pelo qual nunca me imaginei passando desde o incêndio no chalé. Fechei meus olhos e não abri mais, eu só sentia dor, uma dor física insuportável, mas aquilo me feriu de todas as maneiras possíveis. Ele soltou meu pescoço e se levantou do chão, me deixando nua e jogada lá mesmo.

— Não se preocupe, não gozei dentro — sua voz grosseira ecoou pela sala — não vai me agradecer? — fiquei em silêncio — Me agradeça — ele gritou.

— Obrigada — falar aquela pequena palavra foi como o golpe final para mim, meu corpo todo doía.

— Vou te dar... cinco minutos, depois alguém te leva de volta — ele falou fechando a porta.

Apaguei, eu não aguentava mais tremer no chão, sentir aquele cheiro de sangue misturado com ferrugem das paredes. Não sei quanto tempo se passou, acordei com alguma coisa molhada deixando meu pescoço úmido. Me remexi abrindo os olhos, uma mulher estava me limpando.

— Ei... calma — ela falou baixinho — eu só quero te ajudar, não precisa falar nada se não quiser.

Eu estava encostada na parede, minha costa colada nela e minhas pernas esticadas no chão, ela havia me cobrido com um lençol, eu puxei ele até meu pescoço, afinal ainda estava nua.

— Não precisa ter vergonha, eu já passei por isso. O homem que te deixou aqui, ele acabou dormindo, passei para ver se ainda tinha alguém nas salas e te achei, eu só quero te ajudar. Você estava muito suja, ele provavelmente te bateu, mas já está melhor.

Ela se levantou e foi até um armário pendurado na parede, pegou uma caixa de remédios e tirou uma garrafa de água de uma cesta, veio até mim e me ofereceu um remédio para dor de cabeça e muscular, não pensei duas vezes antes de aceitar, acabei bebendo toda a água, não sabia quando teria essa oportunidade de novo.

— Meu nome é Lauren, quer falar o seu?

— Alicia.

— É um lindo nome — ela esperou uma resposta — Certo... não se preocupe, eles não vem te pegar, pelo menos não hoje. Eu... trabalho aqui, assim que o sol nascer eu te levo de volta para cela... me avise quando ver alguém do seu grupo, vou tentar te deixar junto deles. Mas não conte a ninguém sobre mim, se eles descobrirem irão me mata, e provavelmente você também. Eu sinto muito.

Eu não conseguia escutar e assimilar o que ela falava, passei o tempo todo pensando em outras coisas, sem prestar atenção no que ela fala, até que me espantei quando imaginei que todas que foram levadas provavelmente estavam na mesma situação que eu.

— É... não é fácil...

— Elas também, as outras, levadas, aconteceu o mesmo com todas? — a interrompi totalmente.

— Ah... sim — sua voz entristeceu.

Comecei a respirar mais rápido, um nervosismos tomou conta de tudo, parecia o fim.

More than just surviving • twdOnde histórias criam vida. Descubra agora