36- Calm down

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Assim que Joel saiu, Alicia suspirou e ficou encarando a janela, e eu a encarava, era estranho, eu conseguia ver nitidamente a marca dos ossos da sua bochecha, seu maxilar estava mais fino, olheiras profundas e seu pescoço cortado, pelo pouco que pude ver, sua clavícula estava arranhada e haviam marcas escuras.

Eu não conseguia tirar meus olhos dela, era surreal como seu jeito havia mudado, eu conseguia sentir sua insegurança. Mas mesmo com tudo aquilo, eu ainda a amava.

— Ellie, pode parar de me encarar assim? — ela falou baixo.

— Alicia, me desculpa, eu não sei pelo que você passou, eu não consigo imaginar, eu só quero que saiba que eu te amo, que você pode falar comigo se quiser, eu acho que isso pode te ajudar — suspirei — Por favor, Ali, fala comigo.

— Eu não consigo, Ellie, eu simplesmente não consigo, eu não tenho como descrever o que estou sentindo, Ellie. Eu estou destruída, tudo isso por culpa daqueles homens, eles não tinham esse direito. Isso é injusto — sua voz saiu rouca.

— Eu sei, mas você está segura agora, eu vou cuidar de você, nosso grupo está bem, nem todos voltaram mas...

— Ellie, não está bem. Que bom que você reencontrou ele, mas as coisas não estão bem.

— Para você não estão, mas vai passar...

— Ellie. Você tem alguma ideia, do que é ficar isolada por dias. Ninguém. Eu estava sozinha. Todos os dias. Várias e várias vezes, eu não tinha como impedir, você não faz ideia do que é te segurarem, tirar sua roupa a força e te violarem. O meu rosto não é nada comprado ao resto do meu corpo, eu nunca me imaginei assim. Eu perdi a conta de quantas vezes foram, e isso não importa, mas eu nunca. Nunca vou me esquecer. Aconteceu, eu não tenho como apagar isso. É claro que estou contente por te ver, você era a única coisa em que eu pensava naquela cela, mas pelo visto nada aconteceu com você — seus olhos encheram de lágrimas, quando acabou de falar ela rapidamente tampou seus olhos com a mão.

— Eu sinto muito — foi a única coisa que consegui dizer, parecia que ela tinha esquecido de mim, era como se eu fosse apenas uma pessoa que estava a incomodando, eu não sabia como ajudá-la.

Eu falei pouco, ela menos ainda. Eu não fazia a mínima ideia de como reconquistar a confiança dela. Tentei falar sobre coisas boas, e depois de algumas horas finalmente consegui arrancar um sorriso de seu rosto, ela sorriu para mim, nem lembro exatamente o que fez aquele lindo sorriso sair tão puramente, mas eu consegui. Depois de mais algumas horas finalmente ela havia me pedido um abraço, eu tomei muito cuidado para não machuca-la, coloquei a mão na sua nuca e abracei suas costas com muita delicadeza, ela apenas se aconchegou em mim, fechei meus olhos e respirei fundo, podia ouvir seu coração batendo. Ela me agradeceu e se desculpou, por mais quê não tivesse acontecido comigo, eu a entendia, eu sabia que era difícil. Perguntei a ela se poderia chamar Joel, no começo ela não gostou muito da ideia, mas depois aceitou.

Ele entrou e se sentou na cadeira na frente do sofá, depois de minutos nós já estávamos rindo, eu não perdi a oportunidade de apreciar cada sorriso de Alicia dava, aquilo me fazia um bem muito grande. Parece que ela já tinha se esquecido, uma coisa de que me agoniava era Lydia, eu não sabia como perguntar para Alicia sobre ela, mas não podia voltar e decepcionar Carl. Então interrompi toda aquela conversa.

— Ah... e também teve aquela vez que fomos pegar alguns doces e Ellie caiu, ela subiu em uma caixa de papelão — Alicia ria enquanto me zoava com Joel.

— Eu não quero estragar esse clima, mas, Alicia, você sabe para onde Lydia foi?

— Não, ela simplesmente sumiu, não deu satisfação.

— Você acha que ela pode voltar?

— Talvez... ela pode ter saído, e se perdido.

— Melhor passarmos a noite aqui? Esperar por ela? — Joel sugeriu.

— Sim, seria péssimo se ela voltasse e tivéssemos ido embora.

Decidimos ficar até de manhã, comemos alguns enlatados que provavelmente estavam vencidos, ficamos conversando até Alicia cair no sono, Joel e eu continuamos conversando, ele adorou ela. Fiquei feliz quando ele me disse que achou ela incrível, assim como eu contei. E até onde eu pude notar, Alicia também gostou dele.

More than just surviving • twdOnde histórias criam vida. Descubra agora