— Ela realmente cansou — Joel riu baixinho se referindo a Alicia que estava dormindo do meu lado.
— É... — suspirei — eu também cansei — ri.
— Quer dormir? Ah... eu já estou cansado.
— Acho melhor.
— Certo, você está com frio? Precisa de um casaco?
— Não... — olhei para Alicia enrolada no cobertor — estou bem.
— Tudo bem então, boa noite, garotinha — ele falou enquanto bagunçou meu cabelo.
Eu estava com frio, bastante frio, mas não iria acordar ela para isso, Joel foi dormir em uma poltrona perto da porta e eu dei um jeito de me deitar no sofá, fiquei olhando para ela, parecia uma ilusão, como se a qualquer segundo ela fosse sumir dali, ela dormia com um minúsculo sorriso, não sei se era impressão, mas ela parecia bem.
A insônia me perseguia desde os meus onze anos, nunca conseguia dormir muito, mas cansaço era algo que nunca me largava. Fiquei olhando para Alicia até que Joel apagou a lamparina que iluminava o local. Me encolhi perto dela e fiquei encarando o escuro. Aquela área era calma, não era possível que escutar ruídos vindos de fora. Peguei no sono por alguns minutos e acordei de novo, aquilo se repetiu várias e várias vezes, tentava me esticar, ou espreguiçar minhas pernas, mas elas estavam dobradas.
Resolvi levantar, me espreguicei e fui até a porta, Joel dormia profundamente, peguei uma faca qualquer e com muito cuidado, abri a porta. Fui para fora e fechei a mesma, respirava fundo, o sol já estava nascendo e a cada dia que se passava, o frio aumentava. Continuei andando até ver alguns sangrentos, mais ou menos meia dúzia, dei meia volta e sentei em um banco quebrado. Cocei meus olhos e mantive eles fechados, inspirava pelo nariz e soltava o ar pela boca, tentando conter as minha emoções. Passei um tempo ali, apenas existindo.
Escutei alguns passos, era um sangrento, magrelo e esburacado. Peguei a lâmina e cravei em sua testa, fazendo ele deitar no chão, e morrer ali.
O sol já havia nascido, dei uma olhada pela mata a procura de Lydia, mas nem sinal da loira. Resolvi voltar, quando cheguei Joel estava comendo numa bancada, Alicia ainda dormia.
— Bom dia — ele sorriu — ela está com febre, dei um remédio assim que acordou, mas já dormiu de novo.
— Merda, fui atrás da garota... nem sinal dela.
— Nós podemos voltar, digo, acho melhor irmos para o acampamento, e podemos voltar aqui depois. Se ela ainda estiver por ai provavelmente vai voltar.
— Ok então, eu confio no seu instinto.
Me sentei junto a ele e procurei alguma coisa para comer, eu estava preocupada ontem, quase não me alimentei, assim que abri o armário da cozinha Alicia me chamou.
— Ei... abre a bolsa, aquela preta, bem ali — ela apontou para uma cômoda.
— Hey... bom dia — sorri.
— Bom dia — ela retribuiu — minha cabeça está fervendo — bom dia, Joel.
— Como você está? — ele perguntou.
— Um pouco melhor — ela pôs sua mão no pescoço — acho que sem febre.
Peguei a bolsa e perguntei o que havia dentro, "apenas abra" foi o que ela disse. Dei uma pequena vasculhada e achei um doce, chocolate com caramelo. Já faziam meses que não via um daqueles, sentei do seu lado na cama, e pedi permissão para abraça-la. Abri a embalagem e dividi aquela barrinha, ela lembrou de guardar para mim, aquilo fez meu coração derreter. Foi um dos melhores que já comi na vida, era pequeno, mas foi um momento especial.
Depois de um tempo, Joel nos chamou para irmos, arrumei algumas coisas para Alicia, guardei alguns remédios e roupas. Ajudamos ela a levantar com cuidado, e fomos andando, passo por passo, com calma. Assim que conseguimos sair da casa, eu senti seu corpo tremer, ela estava apoiada em meu ombro, e estava tensa. Após um tempo ela se soltou, já andava normalmente, e conversava. Demoramos um pouco para chegar, quando sangrentos apareciam apenas eu e Joel lutávamos contra. O frio chegava a ser intenso, mas uma coisa me mantinha feliz, eles dois estavam bem.
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More than just surviving • twd
Fiksi PenggemarO jeito como o tempo passa mudou, os dias, o clima, as pessoas, tudo mudou. E eu tive que me adaptar à essas mudanças, eu mudei. As vezes penso que prefiro o mundo assim, parece que depois desse desastre eu finalmente encontrei uma família, e pensar...