Desperto de um sono profundo, mas ainda não consigo abrir os olhos, pois a intensidade de uma luz branca me incomoda.
"Apaga essa luz, John" — sussurro.
"Querida, você acordou! Que bom!" — diz uma voz feminina.
Abro os olhos com uma certa dificuldade e vejo minha mãe ao lado da maca que estou deitada.
"ENFERMEIRA! Por favor, minha filha acordou!" — completa.
Olho em meu redor e percebo que estou em um hospital. Mexo o meu braço com uma certa dificuldade e vejo que estou toda furada, além de perceber vários cortes por ele todo.
Minha perna está engessada e o meu joelho está sangrando um pouco no enorme machucado que tenho.
"Isso é um... Hospital." — falo ainda olhando ao meu redor.
Minha mãe pega minhas mãos e diz:
— Sim, Angel. Você não se lembra?
"Me lembro do que?" — pergunto tentando me sentar na maca.
Logo, entra uma mulher no quarto que presumo ser enfermeira daqui. Ela sorri para mim e diz:
— Senhorita, que bom que acordou. Vamos fazer um curativo nesse joelho?
Assinto com a cabeça e olho pra minha mãe procurando entender o que aconteceu.
Depois de alguns minutos, a enfermeira diz:
— Prontinho. Se precisar, é só me chamar.
Agradeço e ela sai do quarto.
"O que aconteceu, mãe?" — pergunto.
"Você foi atropelada, filha. Você não consegue se lembrar?" — responde parecendo não entender.
Como em filme, imagens começam a passar pela minha cabeça, então me lembro.
"ANGEL, ESPERA!" — grita.
Chorando, olho para trás procurando por Lauren.
Escuto um estrondo.
Um ônibus freiando ao meu lado.
Vejo Lauren se aproximando com as mãos na cabeça.
E então, não vejo mais nada.
"Aí meu Deus, eu fui atropelada por um ônibus..." — digo parecendo não acreditar.
"Sim, mas está tudo bem agora, graças a Deus." — diz minha mãe colocando as mãos para cima.
Olho pra ela e pergunto:
— Cadê o John, mãe?
Minha mãe desvia o olhar, e responde secamente:
— Acabou de sair do hospital. Disse que voltaria mais tarde.
Assinto com a cabeça.
Minha cabeça dói. Parece que um trator passou por cima de mim.
Sinto sono e um cansaço enorme.
"Estou cansada..." — falo bocejando.
"São os remédios que tomou. O médico avisou que você acordaria e provavelmente dormiria de novo. Descanse, querida." — diz.
Sorrio fraco e me deito, tentando dormir novamente.
***
Gritos que parecem vir de uma discussão ao lado do quarto faz com que eu acorde.
"Foi sua culpa! Eu sei que vocês estavam brigando! O que você tem na cabeça? A menina sozinha na rua, e você brigando com ela no celular? Você por acaso é louco? Ah, mas é claro que é. Sempre avisei a Angelina!" — ouço minha mãe dizer.
"Olha aqui, você não tem como provar nada e..." — quem fala agora é John. Eu reconheci a sua voz, mas minha mãe o interrompe, dizendo:
— NÃO ME VENHA COM ESSA DE VOCÊ NÃO TEM COMO PROVAR, JOHN! EU RECONHEÇO GENTE COMO VOCÊ A DISTÂNCIA, ENTÃO CALE A SUA BOCA, PORQUE EU SEI QUE VOCÊS ESTAVAM BRIGANDO.
John ri.
"VOCÊ É LOUCO! PRECISA SE TRATAR." — grita minha mãe.
"Ah é? Não sou eu que estou gritando aqui no hospital senhora... Acho que não sou eu o louco da história toda." — John responde.
Olho para o teto branco desejando não ouvir mais nada, mas infelizmente ouço, e agora é uma terceira voz que intercede:
— Vocês estão ficando malucos? Lá fora está todo mundo reclamando. Vocês estão em um hospital. Dá pra respeitar a minha irmã que está numa maca agora dentro desse quarto onde vocês gritam bem em frente?
É Lauren com seu jeito compreensivo e maduro de sempre.
A discussão parece cessar, e logo, abrem a porta.
Olho e é John.
Ele entra sozinho.
Viro o rosto para a parede e tento fingir que estou dormindo, o que é inútil, já que John começa a falar:
— Eu sei que você não está dormindo. Eu queria fazer as pazes.
Continuo com os olhos fechados.
"Eu sei que não mereço seu perdão, mas a gente se ama, né? E o amor supera tudo, Angel. Até uma briguinha." — diz.
Sua voz está mansa, muito mals calma do que estava no telefone. Eu não sei porque as pessoas são assim. A palavra "perdão" virou uma desculpa para estar sempre errado. A tratam como se fosse "bom dia". Qual é afinal, o problema de John?
"Angel, eu só fiquei nervoso. Pra que você quer trabalhar? Me diz? Não te deixo faltar nada em casa. E além disso, trabalhar é coisa de homem, né? Quem cuidaria da casa?" — diz.
Abro os olhos já revirando-os. Quanta bosta saindo de sua boca...
"E trabalhar com um homem... Se envolver com outro homem.... Você é louca? Isso é um desrespeito com o seu marido. Você ia me trair." — fala.
Viro-me para ele e pergunto:
— Me diz uma coisa, John. Você trabalha com mulheres?
"Sim, mas..." — ele tenta falar, mas logo o interrompo, fazendo-lhe outra pergunta:
— Então, você me trai, John?
"Não. Você está louca?!" — responde.
"Então, o que te faz pensar que só pelo fato de eu trabalhar com um homem, eu trairia você?" — pergunto.
Ele olha para mim e responde com ímpeto:
— Você é mulher, Angelina. É bem diferente.
"Ah, é? Me diz, porquê?" — pergunto me sentando na maca.
"Mulher sempre cai em conversinha de homem. Vocês são frágeis, tem necessidade de serem protegidas demais, e então quando algum homem mostra ser capaz disso com palavrinhas bonitas que parecem mais um monte de 'blábláblá', se derretem. Foi assim que eu te conquistei." — diz sorrindo.
"Aí meu Deus, como pude me casar com você, John?" — falo sentindo meu rosto queimar de raiva.
Sua expressão muda. Ele fica sério e parece não entender o motivo de eu ter falado isso a ele. Para John, tudo o que ele faz é normal. Isso me assusta.
"Sai do meu quarto, John." — peço.
"Por que? O que falei de errado, Angel?!" — pergunta na cara de pau.
"Sai!" — peço novamente.
"Mas Angelina...."
"SAI AGORA, JOHN!" — grito.
Ele se levanta e olha para mim mais uma vez. Posso ver o ódio que ele sente agora em seu olhar. Logo, John sai do quarto e as lágrimas que antes eu segurava, agora rolam por meu rosto sem parar.
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Quem é você?
Mystery / ThrillerEle me chamava de princesa, mas o meu vestido precisou ser substituído por calças, mesmo em dias calorosos. Precisei abrir mão de minhas maquiagens também, pois o meu batom vermelho passava uma imagem ruim sobre a minha pessoa e as sombras que eu pa...