Capítulo 9

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Desperto de um sono profundo, mas ainda não consigo abrir os olhos, pois a intensidade de uma luz branca me incomoda.

"Apaga essa luz, John" — sussurro.

"Querida, você acordou! Que bom!" — diz uma voz feminina.

Abro os olhos com uma certa dificuldade e vejo minha mãe ao lado da maca que estou deitada.

"ENFERMEIRA! Por favor, minha filha acordou!" — completa.

Olho em meu redor e percebo que estou em um hospital. Mexo o meu braço com uma certa dificuldade e vejo que estou toda furada, além de perceber vários cortes por ele todo.

Minha perna está engessada e o meu joelho está sangrando um pouco no enorme machucado que tenho.

"Isso é um... Hospital." — falo ainda olhando ao meu redor.

Minha mãe pega minhas mãos e diz:

— Sim, Angel. Você não se lembra?

"Me lembro do que?" — pergunto tentando me sentar na maca.

Logo, entra uma mulher no quarto que presumo ser enfermeira daqui. Ela sorri para mim e diz:

— Senhorita, que bom que acordou. Vamos fazer um curativo nesse joelho?

Assinto com a cabeça e olho pra minha mãe procurando entender o que aconteceu.

Depois de alguns minutos, a enfermeira diz:

— Prontinho. Se precisar, é só me chamar.

Agradeço e ela sai do quarto.

"O que aconteceu, mãe?" — pergunto.

"Você foi atropelada, filha. Você não consegue se lembrar?" — responde parecendo não entender.

Como em filme, imagens começam a passar pela minha cabeça, então me lembro.

"ANGEL, ESPERA!" — grita.

Chorando, olho para trás procurando por Lauren.

Escuto um estrondo.

Um ônibus freiando ao meu lado.

Vejo Lauren se aproximando com as mãos na cabeça.

E então, não vejo mais nada.

"Aí meu Deus, eu fui atropelada por um ônibus..." — digo parecendo não acreditar.

"Sim, mas está tudo bem agora, graças a Deus." — diz minha mãe colocando as mãos para cima.

Olho pra ela e pergunto:

— Cadê o John, mãe?

Minha mãe desvia o olhar, e responde secamente:

— Acabou de sair do hospital. Disse que voltaria mais tarde.

Assinto com a cabeça.

Minha cabeça dói. Parece que um trator passou por cima de mim.

Sinto sono e um cansaço enorme.

"Estou cansada..." — falo bocejando.

"São os remédios que tomou. O médico avisou que você acordaria e provavelmente dormiria de novo. Descanse, querida." — diz.

Sorrio fraco e me deito, tentando dormir novamente.

***

Gritos que parecem vir de uma discussão ao lado do quarto faz com que eu acorde.

"Foi sua culpa! Eu sei que vocês estavam brigando! O que você tem na cabeça? A menina sozinha na rua, e você brigando com ela no celular? Você por acaso é louco? Ah, mas é claro que é. Sempre avisei a Angelina!" — ouço minha mãe dizer.

"Olha aqui, você não tem como provar nada e..." — quem fala agora é John. Eu reconheci a sua voz, mas minha mãe o interrompe, dizendo:

— NÃO ME VENHA COM ESSA DE VOCÊ NÃO TEM COMO PROVAR, JOHN! EU RECONHEÇO GENTE COMO VOCÊ A DISTÂNCIA, ENTÃO CALE A SUA BOCA, PORQUE EU SEI QUE VOCÊS ESTAVAM BRIGANDO.

John ri.

"VOCÊ É LOUCO! PRECISA SE TRATAR." — grita minha mãe.

"Ah é? Não sou eu que estou gritando aqui no hospital senhora... Acho que não sou eu o louco da história toda." — John responde.

Olho para o teto branco desejando não ouvir mais nada, mas infelizmente ouço, e agora é uma terceira voz que intercede:

— Vocês estão ficando malucos? Lá fora está todo mundo reclamando. Vocês estão em um hospital. Dá pra respeitar a minha irmã que está numa maca agora dentro desse quarto onde vocês gritam bem em frente?

É Lauren com seu jeito compreensivo e maduro de sempre.

A discussão parece cessar, e logo, abrem a porta.

Olho e é John.

Ele entra sozinho.

Viro o rosto para a parede e tento fingir que estou dormindo, o que é inútil, já que John começa a falar:

— Eu sei que você não está dormindo. Eu queria fazer as pazes.

Continuo com os olhos fechados.

"Eu sei que não mereço seu perdão, mas a gente se ama, né? E o amor supera tudo, Angel. Até uma briguinha." — diz.

Sua voz está mansa, muito mals calma do que estava no telefone. Eu não sei porque as pessoas são assim. A palavra "perdão" virou uma desculpa para estar sempre errado. A tratam como se fosse "bom dia". Qual é afinal, o problema de John?

"Angel, eu só fiquei nervoso. Pra que você quer trabalhar? Me diz? Não te deixo faltar nada em casa. E além disso, trabalhar é coisa de homem, né? Quem cuidaria da casa?" — diz.

Abro os olhos já revirando-os. Quanta bosta saindo de sua boca...

"E trabalhar com um homem... Se envolver com outro homem.... Você é louca? Isso é um desrespeito com o seu marido. Você ia me trair." — fala.

Viro-me para ele e pergunto:

— Me diz uma coisa, John. Você trabalha com mulheres?

"Sim, mas..." — ele tenta falar, mas logo o interrompo, fazendo-lhe outra pergunta:

— Então, você me trai, John?

"Não. Você está louca?!" — responde.

"Então, o que te faz pensar que só pelo fato de eu trabalhar com um homem, eu trairia você?" — pergunto.

Ele olha para mim e responde com ímpeto:

— Você é mulher, Angelina. É bem diferente.

"Ah, é? Me diz, porquê?" — pergunto me sentando na maca.

"Mulher sempre cai em conversinha de homem. Vocês são frágeis, tem necessidade de serem protegidas demais, e então quando algum homem mostra ser capaz disso com palavrinhas bonitas que parecem mais um monte de 'blábláblá', se derretem. Foi assim que eu te conquistei." — diz sorrindo.

"Aí meu Deus, como pude me casar com você, John?" — falo sentindo meu rosto queimar de raiva.

Sua expressão muda. Ele fica sério e parece não entender o motivo de eu ter falado isso a ele. Para John, tudo o que ele faz é normal. Isso me assusta.

"Sai do meu quarto, John." — peço.

"Por que? O que falei de errado, Angel?!" — pergunta na cara de pau.

"Sai!" — peço novamente.

"Mas Angelina...."

"SAI AGORA, JOHN!" — grito.

Ele se levanta e olha para mim mais uma vez. Posso ver o ódio que ele sente agora em seu olhar. Logo, John sai do quarto e as lágrimas que antes eu segurava, agora rolam por meu rosto sem parar.

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