Capítulo 10

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Escuto batidas na porta do quarto e logo, Lauren entra no quarto com um sorriso no rosto.

"Parece que a mocinha acordou, né?" — diz se sentando ao meu lado.

Afirmo com a cabeça e sorrio.

"O que aconteceu, Angel?" — pergunta segurando em minha mão.

Antes de olhar para seu rosto de preocupação, encaro a janela do quarto procurando palavras que me façam sair dessa pergunta.

Eu quero falar do que está acontecendo. Quero desabafar, ou melhor, desabar. Mas, eu não sei como, não sei por onde começar e nem que palavras usar.

É como se ao mesmo tempo, eu não quisesse falar disso, sabe? Eu não sei. Está tudo tão confuso.

Essa bipolaridade de John está me colocando em um labirinto... E eu não consigo achar o caminho dele.

"Hãn?! Não aconteceu nada. Por que a pergunta, Lauren?" — respondo tentando ser convincente.

Ela se levanta e eu suspiro, agradecendo por ter conseguido disfarçar, mas a minha alegria acaba, quando ela diz:

— Olha, tudo bem, tá? Se não quiser me contar, tudo bem. -levanta as mãos para o alto em sinal de rendição- Mas, não minta para mim, Angelina. Eu sou a sua irmã, sempre fiz de tudo por você, mereço um pouco de sinceridade da sua parte, não é?

Ela está certa.

"Tudo bem, Lauren... Me desculpe. Eu só não quero falar disso agora. Mais tarde, ok?" — falo.

Lauren novamente se senta. Dessa vez, senta na maca e coloca minha cabeça em seu peito, acaricia meus cabelos e sussurra:

— Eu entendo. Eu entendo...

Irmã é um bicho engraçado, né. Uma hora quase joga tudo que vê em cima de ti, em outra hora consegue ser a pessoa que mais te compreende na vida.

Eu nunca entendi a minha relação com minha irmã. É meio que uma vontade de matá-la e ao mesmo tempo ter ela sempre por perto.

"Quando vou poder ir para a casa?" — pergunto quebrando o silêncio que estava no quarto de hospital.

"O médico disse que se tudo correr bem, ainda hoje." — responde se levantando.

Suspiro um pouco animada.

De repente, a porta do quarto bate com toda força e John entra no quarto furioso acompanhado de minha mãe que grita assim que me vê:

— EU NÃO QUERO MAIS VOCÊ JUNTO COM ESSE RAPAZ!

John ri, e logo dispara:

— Tá achando que é assim? Ela casa comigo e leva você na mala pra decidir o nosso casamento?

"Ela não devia ter casado com um louco como você!" — diz minha mãe ainda furiosa.

"Então me diz? Com quem ela deveria ter casado? Com um homem rico pra você abusar da menina?" — pergunta John debochado.

"Se você está se referindo ao Richard, ele era um ótimo rapaz. Não queria minha filha com ele por causa do dinheiro não, viu. Queria por causa do caráter que falta em você!" — responde minha mãe apontando o dedo na cara de John.

O Richard é filho do prefeito daqui de nossa cidade. Éramos amigos antes de eu me relacionar com o John e minha mãe estava sempre me empurrando para cima do garoto.

Eu gostava dele. Mas, era um amor de irmão, sabe?

Quando comecei a namorar com o John, ele me disse que não me queria com o Richard, pois ele tinha interesses sobre mim, além da minha mãe me empurrar pra cima dele. Eu o entendi e preferi me afastar do rapaz, já que toda aquela situação poderia arruinar o meu namoro, né?

"O que está acontecendo aqui? Eu ouvi vocês gritando e está incomodando o..." — uma enfermeira que entra no quarto tenta falar, mas John a interrompe se aproximando dela.

"Ah é? Nos ouviu gritando e achou que podia vir meter o nariz onde não é chamada?" — pergunta John frente a frente com a moça.

"Senhor, eu só não posso permitir que vocês..." — novamente, é interrompida por John que agora a imita, debochando:

Eu só não posso permitir que vocês... -tenta imitar a voz dela- SAIA DAQUI! E não nos incomode mais.

"MAS QUEM VOCÊ ACHA QUE É? VOCÊ NÃO ESTÁ NA SUA CASA NÃO, JOHN!" — grita Lauren que ainda não havia se pronunciado.

A enfermeira sai do quarto demonstrando claramente o medo que sente de John e toda a sua postura autoritária sobre ela.

"Ah, era só o que faltava. Agora a Lauren vai querer..." — John tenta continuar a discussão, mas eu o interrompo gritando:

— JÁ CHEGA! VOCÊS QUEREM DECIDIR POR MIM, FALAR POR MIM, DISCUTIR POR MIM. VOCÊS NÃO QUEREM SER EU DE UMA VEZ NÃO? ESTOU CANSADA DESSA PALHAÇADA! ESTOU EM UM HOSPITAL E NEM ASSIM TENHO SOSSEGO DE VOCÊS.

John se senta e tenta transparecer um homem calmo, ao contrário de minha mãe que mal me deixa terminar e já dispara:

— Quer saber? Dane-se! Eu não vou falar mais nada, Angelina. Você é uma otária mesmo.

Meus olhos se enchem de água e logo, minha mãe sai do quarto batendo o pé.

Lauren me olha desapontada e sai junto dela.

John permanece me olhando.

Tento segurar, mas é impossível. Lágrimas indesejadas começam a rolar por meu rosto e uma vontade imensa de gritar me consome.

Percebendo como estou, John me abraça com cuidado e sussurra:

— Eu estou aqui. Elas podem ter deixado você, mas eu continuo aqui.

Suas palavras me atingem como um soco fazendo com que o meu coração doa mais ainda, mas não o respondo, apenas me permito chorar em seu abraço, já que é o único que tenho agora.

"Você tem que ser mais atenta, Angel. Sua mãe não quer você casada comigo, e não é porque ela quer seu bem, é porque ela quer a você a mesma vida que ela teve." — diz John sem pensar duas vezes.

"Isso não é verdade, John." — respondo-o entre soluços.

"Ah, então porque sempre que o seu pai aparece com outra mulher, ela sugere a você que estou a traindo? Por que quando o seu pai a rejeita, ela te procura pra dizer que está preocupada com você, pois eu não me preocupo com a filha dela? Tudo que acontece com sua mãe, ela dá um jeito de incluir você, Angel. E sua irmã concorda com ela. Ela sempre concorda. Me escute, eu sou o seu marido, quero o seu bem." — diz John acariciando meus cabelos.

Nessa hora, era impossível me reconhecer. Eu já chorava tanto, que não enchergava mais o meu rosto, só lágrimas. Como se eu fosse apenas isso. Lágrimas que são impossíveis de serem controladas.

E se John estiver certo? E se minha mãe me enchergar como um saco de pancadas para ela? Por qual outro motivo ela falaria assim comigo?

E Lauren?

Por que concordou com ela sem dizer um único "a"?

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