O silêncio que está na casa me diz que John não está aqui, o que faz meu corpo relaxar.
Isso é ridículo. Eu estou sentindo medo do meu próprio marido.
O meu celular vibra toda hora com as ligações e as milhares de mensagem de Lauren, mas não, eu não vou atender e nem responder uma sequer mensagem dela.
Estou cansada, sabe? Na verdade, estou exausta. As pessoas não entendem o que eu passo e ainda se permitem me julgar, apontando dedos e mais dedos na minha cara, dizendo que eu estou fazendo isso e aquilo errado.
Cadê aquele "eu entendo você" seguido de um abraço apertado?
Empatia.
É isso que falta nas pessoas.
"Então, você saiu?!" — uma voz diz fazendo com que eu me assuste.
O dono da voz é John que estava sentado numa parte escura da sala.
"Eu pensei... Eu pensei que você não estava em casa, John." — respondo tentando não gaguejar.
"É Angel, mas eu estou bem aqui." — ele diz em um tom ameaçador.
"É... Tá... Eu vou subir para tomar um banho." — aviso saindo da sala, desejando que minha muleta seja mais útil e me faça andar mais rápido.
Quando estou próxima da escada, John agarra minha muleta fazendo com que eu perca o equilíbrio quase caindo, mas o mesmo me segura, dizendo:
— Você foi se encontrar com a tua irmã?
Afirmo com a cabeça.
John aperta o meu braço e eu solto um gemido de dor, então ele sorri e grita:
— ESSA VAGABUNDA TE DEIXOU SOZINHA NAQUELA PORR* DE HOSPITAL E ADIVINHA QUEM FICOU DO SEU LADO? O OTÁRIO AQUI. ENQUANTO ELA E SUA MÃEZINHA NEM LIGAVAM PRA PERGUNTAR SE VOCÊ QUERIA QUE ELAS TE BUSCASSEM, ANGELINA! E MESMO ASSIM, VOCÊ CONTINUA DANDO MORAL PRA QUEM TÁ POUCO SE FUDENDO PRA VOCÊ.
"John, ela é minha irmã e mesmo que..." — tento interromper, mas John me solta e eu caio com tudo no chão.
"VOCÊ CALA ESSA BOCA, ANGELINA! EU ESTOU FALANDO AGORA." — diz.
"Mas, quer saber de uma coisa? Não vou gastar palavras com você não. Quer ser feita de palhaça? Vai lá. A propósito, pede pra ela vir te ajudar a levantar." — completa sorrindo.
Ele começa a subir as escadas ainda sorrindo, mas para no quarto degrau para dizer uma última coisa:
— Estava me lembrando... O senhor Bruno Garcez ligou dizendo que a vaguinha de emprego era sua. Mas, como você não estava, eu disse a ele que você já tinha arrumado outro emprego e você mesma disse que não precisava mais daquele lugarzinho horrível. Não precisa agradecer, meu amor.
John continua subindo as escadas e quando ele sai da minha vista, eu me permito chorar.
Com lágrimas no rosto, me arrasto até o sofá e me apoiando nele, levanto do chão.
Pego o meu celular e vejo que há uma mensagem de Eric:
Marcamos amanhã, mas estou no nosso lugar. Me encontre, se puder.
Olho para a escada para me certificar que John não está ali e vou andando devagar até a porta saindo sem pensar duas vezes.
***
O lugar que eu e Eric costumávamos nos encontrar era em uma pequena praça, mas não no meio de todo mundo.
Gostávamos de um lugar específico.
Quando o táxi para, atravesso a rua e ando até as duas maiores árvores da praça.
Lá estavam elas.
Eu e Eric costumávamos nos esconder entre as suas raízes, pois eram grandes e quase coladas umas nas outras.
Ninguém via nada de especial naquelas árvores, mas a gente gostava. Era o nosso ponto de encontro.
Perdida nas lembranças, não vejo quando Eric se aproxima e levo um susto quando ele diz:
— Ai está você.
"AÍ MEU DEUS! Eric!" — falo tentando não gritar.
"AÍ MEU DEUS! Eu!" — ele me imita.
Caímos na gargalhada e nos abraçamos forte logo em seguida.
Eric pega em minha mão como nos velhos tempos e me ajuda a andar até a árvore.
Quando nos sentamos, ele pergunta:
— O que houve com a sua perna?
"Acidente." — respondo.
"E com sua língua?" — pergunta novamente me deixando sem entender.
Sussurro um "o que?" e ele logo explica:
— Antes você falava mais...
Sorrio e respondo:
— Me desculpa. Só não é um bom dia pra mim.
Eric suspira e encostando-se no tronco da árvore, diz:
— Pra nenhum de nós, então.
Conversamos sobre exatamente tudo.
Tudo o que aconteceu em nossas vidas desde que nos separamos, menos a parte do John bipolar, é claro.
Ele ficaria preocupado demais para entender a história toda.
Então, o poupei disso.
De repente, a feição de Eric muda e ele diz assustado:
— Aquele carro já passou aqui umas 3 vezes e ficou parado por alguns minutos nessas 3.
Sigo o seu olhar e vejo que é um carro preto que nesse momento está parado com todos os vidros fechados. Não dá para ver quem o dirige, mas não é um carro conhecido por mim.
"Eric, aqui é uma praça. Pessoas vão e voltam toda hora!" — falo sorrindo de seu susto bobo.
Ele sorri junto comigo e se desculpa:
— Ah, eu acho que é um certo trauma pelo que me aconteceu hoje.
Preocupada, pergunto o que aconteceu e o mesmo me explica que um homem quase bateu em seu carro de propósito hoje.
Ele ficou tentando cercar o Eric e quando por pouco os carros não bateram, o homem olhou pela janela e sorriu.
"Que cara maluco! O que você fez?" — pergunto.
"Nada. Eu não o conheço e não consegui gravar a placa do carro. Mas era um carro idêntico a aquele ali." — diz.
Olho novamente para o carro desconfiada e no mesmo instante, o veículo começa a andar, saindo dali.
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Quem é você?
Mystery / ThrillerEle me chamava de princesa, mas o meu vestido precisou ser substituído por calças, mesmo em dias calorosos. Precisei abrir mão de minhas maquiagens também, pois o meu batom vermelho passava uma imagem ruim sobre a minha pessoa e as sombras que eu pa...