Capítulo 14

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O silêncio que está na casa me diz que John não está aqui, o que faz meu corpo relaxar.

Isso é ridículo. Eu estou sentindo medo do meu próprio marido.

O meu celular vibra toda hora com as ligações e as milhares de mensagem de Lauren, mas não, eu não vou atender e nem responder uma sequer mensagem dela.

Estou cansada, sabe? Na verdade, estou exausta. As pessoas não entendem o que eu passo e ainda se permitem me julgar, apontando dedos e mais dedos na minha cara, dizendo que eu estou fazendo isso e aquilo errado.

Cadê aquele "eu entendo você" seguido de um abraço apertado?

Empatia.

É isso que falta nas pessoas.

"Então, você saiu?!" — uma voz diz fazendo com que eu me assuste.

O dono da voz é John que estava sentado numa parte escura da sala.

"Eu pensei... Eu pensei que você não estava em casa, John." — respondo tentando não gaguejar.

"É Angel, mas eu estou bem aqui." — ele diz em um tom ameaçador.

"É... Tá... Eu vou subir para tomar um banho." — aviso saindo da sala, desejando que minha muleta seja mais útil e me faça andar mais rápido.

Quando estou próxima da escada, John agarra minha muleta fazendo com que eu perca o equilíbrio quase caindo, mas o mesmo me segura, dizendo:

— Você foi se encontrar com a tua irmã?

Afirmo com a cabeça.

John aperta o meu braço e eu solto um gemido de dor, então ele sorri e grita:

— ESSA VAGABUNDA TE DEIXOU SOZINHA NAQUELA PORR* DE HOSPITAL E ADIVINHA QUEM FICOU DO SEU LADO? O OTÁRIO AQUI. ENQUANTO ELA E SUA MÃEZINHA NEM LIGAVAM PRA PERGUNTAR SE VOCÊ QUERIA QUE ELAS TE BUSCASSEM, ANGELINA! E MESMO ASSIM, VOCÊ CONTINUA DANDO MORAL PRA QUEM TÁ POUCO SE FUDENDO PRA VOCÊ.

"John, ela é minha irmã e mesmo que..." — tento interromper, mas John me solta e eu caio com tudo no chão.

"VOCÊ CALA ESSA BOCA, ANGELINA! EU ESTOU FALANDO AGORA." — diz.

"Mas, quer saber de uma coisa? Não vou gastar palavras com você não. Quer ser feita de palhaça? Vai lá. A propósito, pede pra ela vir te ajudar a levantar." — completa sorrindo.

Ele começa a subir as escadas ainda sorrindo, mas para no quarto degrau para dizer uma última coisa:

— Estava me lembrando... O senhor Bruno Garcez ligou dizendo que a vaguinha de emprego era sua. Mas, como você não estava, eu disse a ele que você já tinha arrumado outro emprego e você mesma disse que não precisava mais daquele lugarzinho horrível. Não precisa agradecer, meu amor.

John continua subindo as escadas e quando ele sai da minha vista, eu me permito chorar.

Com lágrimas no rosto, me arrasto até o sofá e me apoiando nele, levanto do chão.

Pego o meu celular e vejo que há uma mensagem de Eric:

Marcamos amanhã, mas estou no nosso lugar. Me encontre, se puder.

Olho para a escada para me certificar que John não está ali e vou andando devagar até a porta saindo sem pensar duas vezes.

***

O lugar que eu e Eric costumávamos nos encontrar era em uma pequena praça, mas não no meio de todo mundo.

Gostávamos de um lugar específico.

Quando o táxi para, atravesso a rua e ando até as duas maiores árvores da praça.

Lá estavam elas.

Eu e Eric costumávamos nos esconder entre as suas raízes, pois eram grandes e quase coladas umas nas outras.

Ninguém via nada de especial naquelas árvores, mas a gente gostava. Era o nosso ponto de encontro.

Perdida nas lembranças, não vejo quando Eric se aproxima e levo um susto quando ele diz:

— Ai está você.

"AÍ MEU DEUS! Eric!" — falo tentando não gritar.

"AÍ MEU DEUS! Eu!" — ele me imita.

Caímos na gargalhada e nos abraçamos forte logo em seguida.

Eric pega em minha mão como nos velhos tempos e me ajuda a andar até a árvore.

Quando nos sentamos, ele pergunta:

— O que houve com a sua perna?

"Acidente." — respondo.

"E com sua língua?" — pergunta novamente me deixando sem entender.

Sussurro um "o que?" e ele logo explica:

— Antes você falava mais...

Sorrio e respondo:

— Me desculpa. Só não é um bom dia pra mim.

Eric suspira e encostando-se no tronco da árvore, diz:

— Pra nenhum de nós, então.

Conversamos sobre exatamente tudo.

Tudo o que aconteceu em nossas vidas desde que nos separamos, menos a parte do John bipolar, é claro.

Ele ficaria preocupado demais para entender a história toda.

Então, o poupei disso.

De repente, a feição de Eric muda e ele diz assustado:

— Aquele carro já passou aqui umas 3 vezes e ficou parado por alguns minutos nessas 3.

Sigo o seu olhar e vejo que é um carro preto que nesse momento está parado com todos os vidros fechados. Não dá para ver quem o dirige, mas não é um carro conhecido por mim.

"Eric, aqui é uma praça. Pessoas vão e voltam toda hora!" — falo sorrindo de seu susto bobo.

Ele sorri junto comigo e se desculpa:

— Ah, eu acho que é um certo trauma pelo que me aconteceu hoje.

Preocupada, pergunto o que aconteceu e o mesmo me explica que um homem quase bateu em seu carro de propósito hoje.

Ele ficou tentando cercar o Eric e quando por pouco os carros não bateram, o homem olhou pela janela e sorriu.

"Que cara maluco! O que você fez?" — pergunto.

"Nada. Eu não o conheço e não consegui gravar a placa do carro. Mas era um carro idêntico a aquele ali." — diz.

Olho novamente para o carro desconfiada e no mesmo instante, o veículo começa a andar, saindo dali.

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