Antes do meu fim

2.6K 335 79
                                    

************************
-Adam Nobel 

  Allen se aproximou guardando a arma na cintura, tirando a jaqueta e entregando a mesma para um outro rapaz. Olhou para as próprias mãos e sorriu para mim.

-------- Talvez realmente seja  divertido... - terminou a frase com um novo golpe em direção ao meu estômago, um soco que me fez ir para trás. Os dois brutamontes ao meu lado me seguraram firme para que eu não voltasse ao chão enquanto os lábios de Nolf voltaram a sorrir - Oh! - riu - Realmente divertido! - meu corpo estremecia de ódio, era mais difícil me controlar do que eu me lembrava. Sentia todos os meus nervos se contorcendo, não pela dor mas sim por eu estar guardando tudo aquilo em meu interior, tentando manter a calma, insistindo em segurar meu lado sombrio, deixando o plano nas mãos de alguém que poderia me trair a qualquer momento, confiando em alguém que não fosse eu mesmo.

   Allen agarrou o meu rosto o levantando, deu um leve tapinha e sorriu outra vez.

-------- Acho que teremos que mudar o plano um pouquinho... - levou a mão até o meu cabelo e o puxou, levantando ainda mais o meu rosto - O estrago será um pouco maior! - me soltou, deu um passo para tras e voltou com um novo soco me fazendo morder os lábios para segurar a dor em silêncio.

  E outro e mais um, entre o meu estômago e costelas, sem poder reagir, segurando para não gritar. Me vi de joelhos, cabeça latejando, sangue nos lábios e o riso de Allen invadindo minha mente. Minha raiva consumia a dor, me vi cego por um instante cada veia do meu corpo ardia e implorava para que eu me levantasse e acabasse com ele, porém Katherine me veio a mente, a criança me veio a mente, o sofrimento de Ana e a vida dos meus homens. Eu precisava aguentar firme, Brendo não me deixaria na mão eu apenas precisava confiar e segurar firme, controlar meu lado sombrio.

-------- Quando eu acabar com você irei atrás da sua namoradinha... Destruir ela por completo - riu enquanto se referia a Katherine - Quem sabe na sua frente, tudo para você aprender a ficar onde mandam! - aquelas palavras ajudavam no meu descontrole, como cargas para que eu me libertasse. Cada segundo mais difícil segurar, tocar no nome de Kat e então eu perdia a cabeça, ameaçar a criança e eu explodia. Impossível controlar...

   Fechei os olhos, respirei fundo e então um alivio se apoderou de mim por leves segundos, o tempo parou e tudo, completamente tudo voltou a tona. O dia da morte de Luciana, seu velório, todos os dias solitários de choro, Jordan e sua frieza, sua ganância, meu mundo indo ao chão, minha sanidade desaparecendo e o garoto evoluindo para homem, meu encontro com Ana Cavaliery seus olhos encantando os meus, um primeiro amor adolescente, o primeiro contato com a loucura, então seu fim Ana indo embora despedaçando meu coração pela segunda vez, dias, meses, anos sendo insano, criando inimigos encontrando amigos, confiando em que não devia confiar. Uma decisão de última hora ir para New York e voltar para o colégio para nada menos do que brincar com as belas garotinhas patéticas, além de esfriar minha imagem na midia, tudo seria tão fácil... Não seria a primeira vez, entretanto ela cruzou o meu caminho, uma garota simples não muito bela, não muito alta, nem a mais magra da turma, parecia ser uma garota comum... Apenas parecia, ela se mutilava, se escondia do mundo, se escondia de si própria mal sabia o quanto era especial, olhares cruzados e então meu coração sendo arrancado do peito, inexplicável, surreal. Ela virou meu mundo de ponta cabeça, entrou em minha mente e me fez conhecer aquilo que eu queria apagar, uma garota única que me fez conhecer o Adam de verdade, e eu a magoei... Tantas e tantas vezes, e nessa loucura uma criança surgiu, fruto de uma noite com o meu primeiro e tolo amor adolescente e apesar de tudo Katherine estava ali, chamas nunca apagadas, apesar da raiva, tristeza, mentira e todos os demais impedimentos que se levantavam contra nós, ainda sim... Eu tinha seu coração e ela era a minha esperança.

  Mas, o mundo insistia em tentar arrancar tudo de bom que eu conquistava. E por eles eu precisava lutar, por eles eu venceria. Me libertária.         
_________________________________
          
    Voltei a realidade, risos alheios e Allen gritando e debochando meu nome.
   Meu corpo queimava, algo havia mudado. Abri os olhos e no mesmo instante meu sorriso apareceu, mordi meus lábios e limpei o sangue, apesar de estar com a cabeça baixa ainda sim senti o silencio e cada olhar em minha direção, os passos de Nolf até mim e sua tentativa falha de me tocar. Desviei e dei-lhe uma rasteira o jogando no chão, segundos e logo os postos estavam trocados eu em pé e ele no chão, como um puro nada.
  Os soldadinhos de Jordan deram um passo a frente porém antes que fizessem qualquer movimento tomei a voz.

-------- Nem mais um passo! - Allen olhou para eles e abriu a boca também.
-------- Posso resolver sozinho! - retrucou se levantando e dando ordem para os demais.
  Novamente frente a frente, um contra o outro sem interrupções, sem defesa "extra". Para a salvação ou condenação e eu estava pronto.

------- Como homem Allen! - sorri outra vez - Um contra um.
------- Você vai se arrepender Adam... - Nolf riu - Acha que pode contra mim? Vou acabar contigo, matar seu filho e machucar muito, muito mesmo a sua namoradinha... - palavras debochadas, frieza e maldade. Allen tocava em minhas fraqueza, naquilo que me libertava por completo.

    O controle já havia evaporado do meu corpo, quando dei por mim já estava o socando. Golpes desviado e revidados, outra vez fui ao chão, Allen ria enquanto meu corpo dolorido tentava se levantar.
   Um chute na direção do meu estômago, outro e mais um, novamente com o rosto no chão, por um instante vencido.
  
------- Sempre será fraco Adam... Pare de se esconder nessa capa de "sabe tudo" de quem acha poder tudo! Te observo a anos e você nunca se quer desconfiou da minha existência... Conheço seus golpes e aquilo que te atinge... Sabe qual foi a minha conclusão? - Nolf virou o meu corpo para si, se abaixou e me olhou fixamente - Você não passa de um garotinho medroso! - levantou.

   Parado ali com cada parte do meu corpo gritando de dor, lábios sangrando, cortes pelo corpo, respiração se esgotando. Tentando ser forte, insistindo em continuar lutando, em levantar daquele chão de pedras. Cada tentativa uma nova falha, sem forças para mover meus músculos, sem forças para levantar. Allen ria e era como se eu ouvisse a voz de Jordan, como se o visse soberano e eu nada além de um poço de lixo.
   Fechei os olhos e Kat me veio a mente

"seja o que for, independente do que estiver fazendo... Obrigada, eu te amo!" 

   Sua voz em sussurros em meu ouvido... Lembranças dos movimentos que a criança fazia dentro de Ana, a sensação do afeto, daquela pequena coisinha ser parte de mim. Ser o meu mundo na forma de um bebe, meu coração ardia... eu precisava me erguer... Precisa lutar!

-------- Chega! - Allen cessou o riso - Acabem com ele. - deu ordem aos homens de Jordan.

  Olhei ao redor e juntando todas as minhas forças me estiquei e discretamente agarrei uma pedra, levantaram o meu corpo e como dada a ordem se preparam para o ataque, Nolf se virou e foi tempo suficiente para que eu acertasse um segurança bem na cabeça com a força que me restará, o mesmo foi ao chão surpreendendo o comparsa esse que exitou por alguns segundos me fazendo desmaia-lo também. 
  Agarrei a arma de um deles e no momento que Allen se virou em minha direção descarreguei toda a munição em seu corpo o fazendo ir ao chão.

-------- Não Allen... - sorri sentindo o sangue em meus lábios - Não sou apenas um garotinho medroso! - outra vez meu corpo pesando, tudo em camera lenta. Olhei ao redor e os homens de Jordan eram abordados pela polícia de Chicago, no final o plano ainda funcionava, Brendo havia conseguido.

   Todos mobilizados, meu sorriso não pode deixar de aparecer, quis ir ao chão porém uma mão se estendeu em minha direção, envolvido por um braço fardado esse que não me permitiu cair. Olhei para cima e nunca antes a imagem de Negan foi tão querida.
   O mesmo falava porem era como se sua voz sumisse a cada nova palavra, meu corpo estava estranho, pesado, querendo se render.

-------- Salve a Katherine! - tudo o que pude dizer logo após apaguei.         

> uma suicida e seu psicopata < CONTINUAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora