ESPERANÇA

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-Adam Nobel

   Dizem que o suicídio é a forma que os anjos encontraram para voltar para casa. Bem, o meu pequeno anjo terá que adiar sua volta.
   Fico a imaginar meu mundo com e sem ela, antes... Adam Fox Nobel era impulsivo, egoísta, cheio de raiva, achava que tudo e todos eram iguais. Depois, bom... Acho que provei o que é ser amado outra vez, ela não é o tipo que faz tudo para me agradar, nem liga se tenho ou não dinheiro, me mostrou que as pequenas coisas e os menores e sinceros gestos valem mais que toda a riqueza do mundo, mostrou-me que falhas podem ser perdoadas que o amor supera toda a raiva, me fez conhecer o outro lado da vida... E sem ela, bem, sem essa garota marrenta eu sou apenas eu... O idiota egoísta, superado pelas partes ruins de um ser humano.
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-Hospital de New York-
Duas horas depois do acontecido.

------- Adam! - um grito surgiu pelo corredor, levantei e me deparei com Sarah Jackson, junto ao filho e uma outra garota que não reconheci - Onde está a minha menina? - (sim, liguei para a mãe dela. O que mais eu podia fazer? Era a mãe dela!) - Sabe em que sala estão? - seu desespero era mais do que visível.
-------- Estão lá dentro... - olhei para a área de emergência - Não me deixam entrar - segurei as lágrimas, tentando ao máximo ser forte - A culpa foi minha senhora Jackson, eu a deixei sozinha... - me afastei - Katherine não teria tentado se eu estivesse por perto!
-------- Não querido... - suas mãos tocaram o meu rosto - A culpa não é sua! - me olhou no fundo dos olhos, com os seus segurando lágrimas  - Você é um bom rapaz... - me abraçou me fazendo sentir o abraço da minha própria mãe - Vou ver a situação, tome um ar enquanto isso... - me soltou - Você foi um herói Adam, mais alguns minutos e Katherine estaria completamente morta... - seu olhar penetrou o meu, quando dei por mim Sarah  já atravessava a área de emergência.

  Paralisado, era assim que eu estava. Pela primeira vez em anos me vi vulnerável, tão fraco quando a mais frágil garota, quase a ponto de expor lágrimas, realmente Adam Nobel estava a afundar junto a Katherine  como se as batidas do coração dela estivessem presas as minhas.
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    O hospital se enchia de pessoas preocupadas com a pequena Jackson, Débora e o namorado, Robert vindo de Chicago para ver a filha, Rick e a mãe... Todos a minha volta, onde estavam quando ela mais precisou? Onde eu estava quando ela decidiu agir? Boa parte da culpa não estava aplicada a Ana, ou ao Tayler, ou a Thomas... A verdade era que o verdadeiro culpado era eu mesmo, deixei que o mundo nos afastasse, circunstâncias e tudo mais. Nada teria acontecido se eu estivesse ao lado dela como prometi.
   Três horas se passaram, um novo ano que iniciou triste. Via as pessoas ao meu redor e ainda sim me sentia vulnerável, escondido na capa de durão, recebendo olhares de condenação e já não era de se surpreender o sobrenome Nobel não era visto como o melhor naquele momento, as burradas do pai que caíram sobre o filho.
   Sarah voltou para a sala de espera e todos levantaram, menos eu. Suas palavras diziam o que eu já sabia, Katherine não estava nas melhores condições, os remédios que havia tomado podiam afetá-la gravemente se não tratados, os cortes estavam fechados mas ela havia perdido muito sangue em pouco tempo e precisava ser reposto, no entanto seu tipo sanguíneo era raro e o banco de dados do hospital não o tinha no estoque o que dificultava o trabalho dos médicos, levaria cerca de uma hora para que um outro hospital mandasse o necessário para salvá-la, mas ela não tinha muito tempo.  
  
-------- O jeito é torcermos por um milagre - Sarah enxugou as lágrimas e respirou fundo nos olhando.
-------- Eu doou! - levantei - Katherine e eu somos do mesmo tipo, posso fazer a doação! - novamente vitima dos olhares alheios, ignorei todos e me aproximei de Sarah.
-------- Eu... - me olhou confusa - Você é... - interrompi.
-------- Sim! - adiantei - Vamos acabar logo com isso, eu faço!
-------- Tudo bem... - sorriu - Vamos!

   Entrei na área de emergência junto a Sarah, alguns testes e então pude doar o sangue necessário, era o mínimo que eu podia fazer.
   Me vi frente ao quarto onde Katherine estava, separados por simples vidro, toquei o mesmo observando os aparelhos ao lado da cama, seu corpo ao longe com os pulsos enfaixados partiam o resto de coração que me restava.

-------- Pode entrar se quiser... - olhei para trás me deparando com a mãe de Kat.
-------- Posso?
-------- Sim, ela está inconsciente mas viva... - abaixou o olhar - Por pouco mas viva! - se voltou para mim - Obrigada pela doação Adam, ajudou muito!
-------- Eu gosto da sua filha senhora Jackson, é o mínimo que posso fazer já que... - me calei, respirei fundo e me voltei para a porta que me separava de Katherine.
-------- Não demore... - me deixou e seguiu pelo corredor.

   Caminhei até a porta e a abri com leveza, entrei no quarto, fechei e me aproximei a passos lentos da cama. Cada vez mais perto, cada batida mais forte.
   Parado frente a ela me sentindo o pior homem da terra, toquei em sua mão e aquilo aliviou meu interior, como se uma ligação movesse nossos corpos.

------- Eu sinto muito Kat... - tudo o que consegui pronunciar. A culpa me consumia, eu nem se quer me reconhecia naquele estado, apenas havia sentido tamanho sentimento com a perda da única mulher importante para mim, minha mãe e agora esse sentimento se aplicava ao estado de Katherine. Me via sem chão, totalmente indefeso.
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- manhã do dia seguinte-

   Ainda em New York, após dormir na noite anterior em uma sala de espera Sarah me obrigou a ir para casa. Disse que Katherine estava bem e que me manteria informado caso surgisse alguma novidade, além de que alguns repórteres já se atreviam a invadir o hospital em minha procura, meu último desejo era tornar aquilo público, Kat não merecia ser vítima de outra bobagem que minha família havia se metido.
   Despistei das câmaras e voltei para o meu apartamento alguns andares acima do que pertencia a família Jackson, o cansaço me dominava mas dormir me trazia pesadelos, era como se o suicídio de Katherine desse voltas em minha mente me trazendo tortura eterna.
   Me contive com bebidas e cigarros, tentando desvendar os próximos passos de Thomas se é que ele estava vivo, já haviam se passado meses e ele ainda nada tinha feito, nenhum sinal ou qualquer coisa, apenas um puro silêncio. Nem meus melhores homens o encontravam, era como se ele simplesmente tivesse desaparecido do mapa, talvez fosse algo bom ou totalmente o contrário.
  Fui interrompido pela ligação de Londres, casa de Dona Cavalliery, sem duvidas Ana com novas chantagens.

------ Sim? - atendi enquanto virava outro copo dê whisky.
------ Adam é a Dona, - ah saco! Se já não bastasse a filha agora a mãe - Onde está?
------ Bem longe dai! O que sua filha quer agora?
------ É exatamente sobre ela que precisamos conversar! Ana desapareceu... - interrompi.
------ E o Tayler!? - mudei o tom da minha voz ficando ainda mais sério.
------- Está aqui com a babá! Ela me ligou desesperada, não tive escolhas a não ser enviar as passagens para ela vir a Londres! - senti o ar voltar a circular em meus pulmões - Soube que discutiram, depois Ana desapareceu... Se fez algo com a minha filha eu, - interrompi outra vez.
-------- Sua filha é uma vadia manipuladora Dona! - retruquei - Eu não fiz nada, ela deve apenas estar fazendo drama! Logo aparece, acredite já estou exper nisso! - revirei os olhos - Logo irei voltar para Londres, peça para a Mika cuidar do Tayler enquanto estou fora... E se não for a respeito do meu filho então esqueça que esse é o meu número! - desliguei.

   Voltei a deitar no sofá, por impulso agarrei o diário de Katherine e após lutar e relutar acabei por lê-lo.
  Uma invasão? Eu apenas folheava as páginas, não parava para lê-las. Menos quando as palavras gritavam meu nome, até mesmo por escrita Katherine foi capaz dê me fazer rir, era como se sua voz recitasse aquelas frases, suas caretas quando estava brava e seu sorriso.

  "Acho que encontrei minha metade, mas acho que ela está podre... Adam é a melhor e a pior coisa que me aconteceu, mas... Eu não me importo, eu o amo!"
 
   Algumas paginas a frente e uma foto caindo em meu colo, algo que me fez paralisar. Aquele momento gravado veio a tona como se houvesse acontecido poucos minutos antes, "eu te amo..." suas palavras invadiram o mais profundo dos meus sentimentos. Levantei e agarrei as chaves do carro, estava na hora de atravessar as barreiras.  

> uma suicida e seu psicopata < CONTINUAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora