Capítulo 13

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As correntes marinhas acariciaram meu corpo, calmas e silenciosas.

Atento aos sinais do papai eu me abaixei entre as algas do fundo, assistindo-as dançarem no ritmo do meu cabelo. Milhares de fitinhas verdes oscilando e nos ocultando.

Enquanto isso, um delicioso atum nadava solitário logo acima de nós, alheio ao nosso olhar predatório.

Papai Dylan quase desaparecia entre as algas, sua cauda verde se mimetizando com perfeição. A postura quieta e feroz e o brilho atento em seus olhos era impressionante. Ele realmente portava-se como um caçador nato, mesmo que aquilo fosse só um jogo pra ele. Papai Dylan caçava peixes mais raros e perigosos todos os dias.

Eu apertei o cabo do arpão que ele emprestou, tentando controlar a ansiedade. Seria minha primeira caçada sozinho, eu não queria passar vergonha.

"Peixes detectam as vibrações da água. Quando você disparar só terá uma chance, então aguarde a distância perfeita." Disse o papai, através do nosso chamado.

Eu concordei, agoniado pela ansiedade e pelas lembranças da minha primeira caçada, quando eu era criança. Atuns eram um alvo grande e muito rápido, apesar de serem indefesos. Provavelmente papai Dylan pensou nisso ao escolher meu alvo.

Um camarão passeou pela covinha nas minhas costas, e eu me contive pra não rir. Faltava tão pouco. O peixe agitava suas barbatanas cinzas na nossa direção, comendo tranquilo as partículas na água.

E então o bicho virou de costas, e eu disparei. Arpão em punho e cauda agitando como um leque, chicoteando algas em todas as direções e erguendo uma nuvem de areia.

O peixe disparou no mesmo instante, mas não competia com a minha velocidade. Eu contornei aquele bicho cinza, e antes que ele mudasse de direção, desci minha arma com toda a força. A água tingiu-se de vermelho e o cabo do arpão balançou violentamente. Eu me abracei como se fosse um touro mecânico, até o cansaço me atordoar.

E então a trepidação foi diminuindo, diminuindo, e parou.

Ofegando, eu olhei para as pontas afiadas do arpão, enquanto o sangue se diluía na água cristalina. Aquele enorme atum, quase do meu tamanho, debatia sua cauda pela última vez. A lámina do arpão-tridente perfurava sua barriga de um lado a outro.

Meus olhos se iluminaram, e eu comecei a rir.

"Consegui. Eu consegui de verdade!"

Papai Dylan nadou até mim e me abraçou apertado, me girando pela água.

"Meu pequeno caçador." Ele mordiscou meu ombro, transbordando tanto orgulho que eu quase chorei. "Eu não tinha dúvidas do seu sucesso."

Eu gargalhei, abraçado no meu pai e brandindo o arpão premiado. Minha primeira caça. Eu era um tritão de verdade.

"Espera até o Maikon saber disso, ele não vai acreditar." Falei, empolgadíssimo. Maikon treinava tanto para o campeonato que eu já morria de saudades, e contar sobre a caça era um bom pretexto para fazer uma visitinha.

"Por que não leva para ele?" Perguntou papai Dylan, me ajudando a soltar o peixe.

"Mas esse não seria o jantar do papai Gabe?" Perguntei, surpreso. "Ele vai ficar sem comida."

"Seu papai Gabe pode comer tele-entrega, hoje." Papai Dylan piscou pra mim, e me entregou a caça. "Vá se exibir para o seu primo."

Eu abri um enorme sorriso, abraçado naquele grande e delicioso peixe, salivando para o cheiro de seu sangue. Eu podia mesmo? Mesmo empolgado, meu coração pulsava de nervosismo.

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora