Capítulo 16

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Saí do mar me sentindo um macho alfa, um autêntico caçador viril atendendo aos desejos de seu ômega.

Eu joguei o peixe na areia seca, assistindo-o terminar de se debater enquanto eu vestia rápido o meu uniforme. A praia perto de casa era pouco frequentada, mas eu temia revelar minha forma aquática, ou ser visto pelado por alguma senhorinha.

Maikon me passou cada peça de roupa enquanto comia o sanduíche que roubou de manhã cedo. Como o esperado ele fez papai Dylan arredar todos os móveis da cozinha em busca do lanche perdido, e talvez meu pobre papai ainda estivesse procurando.

Naquele momento já eram seis da tarde e o sol começava a se por. Papai Dylan ofereceu carona quando apareceu para buscar as meninas, mas preferi voltar com Maikon, afinal, ele me fez um pedido importante. Maikon queria um peixe.

E não podia ser um peixe qualquer, ele queria um peixe de exatos quarenta e dois centímetros.

Eu observei o peixe enquanto terminava de laçar a gravata. Uma tainha era uma pesca mundana e vergonhosa para um tritão, e aquela nem era especialmente grande. Mas considerando as bizarrisses do Maikon, eu imaginava que o sabor e qualidade do peixe seriam o menos importante.

Eu não estava errado.

"Você capturou um peixe com as mãos, isso é incrível." Os olhos de Maikon brilharam quando ele ergueu o peixe, admirando as escamas prateadas com um sorriso safado em sua boca de avelã.

Eu sorri para o elogio, terminando de calçar os sapatos já cheios de areia. A camisa do uniforme grudava no peito até ficar transparente, e roçar a bunda molhada na calça era, no mínimo, desconfortável.

"Por que precisa disso?" Perguntei. "Você nem gosta de peixe."

"Você vai ver." Maikon deitou o peixe por cima do ombro, pouco se importando em encardir a camisa branca. Carregando nossas duas mochilas ele se afastou da praia em direção à casa dele, e me vi forçado a seguí-lo.

Durante o trajeto nós pouco conversamos, mas eu já estava acostumado. Quando Maikon tinha algo em mente, se concentrava tanto naquilo que às vezes o mundo sumia. Eu até gostava desse jeito dele. Seu olhar determinado brilhava mais que as estrelas.

Ao longo do caminho as pessoas olhavam para nós e trocavam cochichos, até eu ficar desconfortável. Com alguma sorte, Maikon teria bons motivos para me fazer andar molhado, de roupa transparente, enquanto ele carregava um peixe cru no ombro. Mas não me animei muito sobre isso porque sabia que, como sempre, seria um motivo estúpido.

Novamente, eu não estava errado.

Após subir a lomba do conjunto residencial, nós atravessamos as quadras de casas idênticas até chegar na humilde casa de madeira do tio Alisson. O carro do tio estava estacionado na garagem coberta, e acho que Maikon percebeu isso, pois não fez menção de ir à porta de entrada. Ao invés disso ele saltou a cerquinha de madeira na lateral e contornou a casa até o pátio dos fundos.

Eu torci o lábio, primeiro assistindo Maikon desaparecer com o peixe nos fundos da casa, e depois olhando para aquele obstáculo de madeira. Cada tábua afinava em pontas triangulares, largas demais para me espetar, mas talvez eu puxasse um fio da calça, ou tropeçasse, ou a polícia apareceria pra me levar.

A cabeça do Maikon apareceu naquele estreito espaço entre a casa e a garagem do vizinho. Para o meu desespero, ele fez um gesto com a mão, me chamando a seguí-lo.

Contrariado, eu tentei saltar a cerquinha e tropecei, desabando no gramado, quebrando cada tábua e a destruíndo tudo pelo caminho. Oh, droga.

Batendo a grama do corpo eu corri até os fundos da casa. Claro que a cena que vi foi absurda. Nem fiquei surpreso.

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora