Capítulo 07

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Mais um dia normal na West Island High. Durante a manhã eu e Maikon estudamos Inglês e História. Aliás, eu estudei e Maikon ficou na turminha dos fundos, trocando figurinhas de álbum com os colegas. Ele odiava sentar na fileira da frente comigo, então só ficamos juntos durante o trabalho de grupo. Durante o almoço Maikon se serviu de um pratão de macarronada e bife e eu o acompanhei na nossa mesa de sempre, servido do sanduíche que papai Dylan preparou. O turno da tarde era dedicado aos clubes, então tivemos que nos separar.

Eu ajustei minha gravata e terno do uniforme, e entrei na sala de artes. Aquele era, de longe, o local mais bagunçado de toda a conceituada West Island. Os colegas de clube me cumprimentaram enquanto trabalhavam em suas pinturas, e tentei compreender como conseguiam se sujar tanto. O professor não exigia uso de uniforme durante os trabalhos, justamente para não manchar, mas nunca deixei que um farelinho de borracha caísse no meu colo.

Minha vida de estudande parecia mundana, e era mesmo, mas justamente por ser mundana era a melhor parte do meu cotidiano. Apenas estudar, conversar com os colegas, e ficar bem longe dos ensinamentos sombrios do mar.

Eu desenrolei meus desenhos sobre a mesa do Professor Farnick e ele ajeitou o óculos, sorrindo admirado. Nós discutimos meu desempenho e a cada três palavras do Professor, duas eram elogios.

Educadamente, eu agradeci cada um dos muitos cumprimentos, tentando entender o que havia de tão interessante naqueles riscos de carvão. Eu simplesmente transferia meus pensamentos para o papel, coisas que só faziam sentido para mim. Ondas, profundezas, a luz do chamado, que brilhava dourada nos meus sonhos, embora enganasse com sua cor tão bonita. O professor chamava aquilo de arte abstrata, mas para mim eram apenas meus medos e minha raiva tomando forma.

"Fantástico. Simplesmente fantástico. Senhor Makaira, sua obra precisa ser exposta no Salão Summerhall. Você um dia será muito famoso."

A última palavra causou um estalo dentro de mim.

"Famoso? Que nem o Maikon?"

O professor teve um calafrio só de ouvir o nome.

"O Senhor Dolinsky é um exímio capitão de basquete, e muito talentoso no surfe, mas revolta e desordem são um veneno para o talento. Ele tem potencial, mas você, Senhor Makaira, é uma estrela em formação."

Eu sorri torto para aquele elogio. Maikon seria o maior surfista do mundo, como seu pai. Eu era apenas um garoto que riscava papel.

Ainda assim, eu queria ver a cara do Maikon quando descobrisse meus desenhos no maior saguão da escola.

"Se o Professor considera digno expor, então eu sou grato." Falei.

Pelo resto da tarde nós combinamos os pormenores da exposição, qual desenho ficaria em qual parede, o tipo de coisa que não me interessava muito. Aqueles desenhos eram eu, então no momento em que saíram de dentro da minha mente, para mim eles perderam o sentido.

Quando a sineta finalmente tocou, eu guardei meus trabalhos e me apressei para a saída. Mal podia esperar para contar ao Maikon. Ele iria pirar.

A West Island High seguia o modelo padrão das escolas americanas. Três andares, cada um dedicado a um ano de curso, quadras de esporte, e um prédio ao fundo com as canchas cobertas e as salas dos clubes. Logo ao lado havia um conjunto idêntico de prédios, a escola primária onde eu e Maikon estudamos na infância.

Embora o interior fosse padronizado e sem graça, a frente ostentava altos pilares de mármore, e jardins com flores e árvores bem podadas. Naquele fim de tarde os adolescentes mais ricos de Waikiki retornavam pra casa com suas mochilas de grife, e as meninas com suas maquiagens elegantes e megahairs de artista de cinema.

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora