Capítulo 17

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Demorou vários dias, mas enfim concluí o projeto do baile de formatura.

Eu soprei o farelo de borracha e ergui a folha de papel, observando cada detalhe do meu desenho de aquarela. Correntes de balões nas cores da escola, pôsteres coloridos e temática de conto-de-fadas, conforme a nossa turma havia escolhido.

Não era do meu gosto participar dessas coisas, mas quando o clube de artes tornou-se responsável pela decoração, não tive muita escolha. Pelo menos o projeto ficou lindo, cheio de dourado e cortinas de cetim colorido, à moda dos filmes de princesa. Os meus colegas gostariam bastante.

Eu suspirei sem muito alívio. Quando aprovassem o projeto começaria a parte difícil, que era tornar meus desenhos realidade, na quadra poliesportiva onde Maikon devia estar treinando naquele momento. Ele não conseguiu média em diversas disciplinas regulares, então precisaria ganhar alguns torneios de basquete para se formar. Eu não duvidava que a equipe do Maikon conseguiria. Para alguém que não dava a mínima para o basquete, Maikon arrasava nos jogos.

Talvez eu conseguisse tempo de assistí-lo, mas com a formatura e o baile se aproximando, eu sentia que nos veríamos cada vez menos, e isso me aborrecia.

Uma câibra no ombro me fez notar há quanto tempo eu desenhava sem descanso. Já era final de tarde, e meu corpo implorava por um banho de mar.

Com uma toalha sobre os ombros e minha canga de praia na cintura, eu abri os painéis da sala e senti a areia morna sob os pés. Ver a beleza das ondas naquele fim de tarde me fez estremecer na ansiedade em mergulhar e explorar o oceano, mas uma voz atrás de mim interrompeu meus planos.

"Indo nadar, Hian? Já terminou seu trabalho de escola?" Papai Dylan ajeitou uma sacola de coisas de praia na nossa mesinha de jardim.

"Sim, senhor." Endireitei meus ombros, cordialmente. "Precisa de mim para alguma coisa?"

"Não exatamente." Ele sorriu, vasculhando a bolsa. Parecia mais relaxado e feliz que o normal. "Mas pensei que poderíamos conversar sobre o grande dia."

Droga, tudo menos isso.

"Pai, ahm... certas coisas eu prefiro aprender sozinho." Gaguejei, encabulado.

"Que vestimenta humana devo vestir? Não quero estressar o Gabe, fazendo ele escolher outro terno. Acha que pode me ajudar com isso?" Papai Dylan enfim tirou um estojinho do fundo da bolsa, e voltou sua atenção a mim.

"Vestimenta?" Eu arqueei uma sobrancelha, bastante confuso.

"Sim, para a sua formatura, seu grande dia."

"Ah." Eu suspirei, tão aliviado que comecei a rir. "Também preciso de um terno. Sei que o senhor odeia, mas podemos ir juntos no Shopping."

"Perfeito." Papai Dylan sorriu para mim, e tirou uma escovinha de dentro do estojo. Parecia uma escova de dentes, só que mais longa e com uma pinça na parte de trás. Eu conhecia bem aquela coisa. "Agora vamos aproveitar os últimos raios de sol. Deite na beira d'água."

Eu arregalei os olhos, me perguntando como a conversa chegou naquele ponto.

"O senhor vai me descamar? Faço isso todos os meses, não preciso de ajuda para..."

"Seu despertar se aproxima. Não quer ficar bonito para o seu predestinado?"

Um arrepio desceu meu corpo ao imaginar meu primeiro encontro oficial com Maikon, dois predestinados, dois amantes prestes a viver seu primeiro encontro carnal, que Maikon já aguardava há anos. Eu não queria estar apenas bonito, eu queria estar inesquecível.

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora