Capítulo 04

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Todos gritaram assustados, e eu aproveitei a confusão. Agarrei o braço do Doutor e abri minha boca, fazendo-o ver a ferocidade nos meus dentes de tubarão.

"Hian, solta ele!" Papai Gabe puxou minha cintura, mas eu não cedi. Eu iria derramar seu sangue e defender a honra dos progenitores.

"Calma, Hian. Calma, seja bonzinho." Michel debateu o braço, mas sua força de humano não se comparava à forma feral de um tritão. O chamado me dava forças, me emprestando a fúria de todos os tritões que vieram antes de mim.

Eu abri um sorriso cruel e mirei naquela cicatriz rosada, determinado a terminar o que papai Dylan começou.

"Hian, o que está fazendo aqui?"

Apesar da gritaria, foi aquela voz grave e severa que me paralizou. Eu olhei para a porta, onde papai Dylan me encarava furioso, com uma bandeja de café nas mãos.

Eu soltei o Doutor, que logo se acalmou apesar do jaleco destroçado. Um choro quietinho fez eu me virar para trás, e meu coração caiu aos pés. Maikon soluçava no canto da piscina, tremendo de medo.

Meus instintos se aquietaram, e meus olhos e dentes retornaram ao normal. Droga, eu perdi o controle do meu chamado, mas pelo menos foi por uma boa causa.

"O maculador estava alisando as costas do papai Gabe." Falei, apontando na cara do maculador. "Eu pretendia ensinar respeito."

"O quê?" Os três adultos perguntaram juntos, igualmente consternados.

Eu me virei para Michel e papai Gabe, e só então Michel tirou o outro braço de suas costas. Em sua mão ele segurava a ponta redonda do estetoscópio.

...Droga.

Suando frio, eu encarei os adultos. Pela raiva constrangida no olhar dos três, eu estava totalmente perdido.

"Hian, por que seu primo está na minha piscina?" Dylan deixou o café sobre a estante e cruzou os braços, me fuzilando com seus olhos verdes.

Michel cobriu a barriga do Gabe com um lençol, e Gabe parecia tão envergonhado que eu quis chorar. E eu não podia nem proteger o Maikon, ele não conseguiria retornar sozinho por onde viemos.

"Venha aqui, Maikon." Michel puxou Maikon para fora d'água e lhe alcançou uma toalha. "Tá tudo bem, tritões fazem isso, às vezes."

Maikon se cobriu com a toalha, com o olhar fixo no meu. Ele não parecia assustado apenas pela minha atitude, e sim pelo que aconteceria comigo.

"Eu só queria... só queria mostrar como é." Gaguejei.

"Eu não vou contar pra ninguém." Maikon tentou me ajudar. "Sua barriga é muito legal, tio Gabe. De verdade. Quero uma igual, quando eu for predestinado do Hian."

Ai, socorro. Que ajuda terrível.

"O que mais você contou a ele?" Papai Dylan elevou a voz para mim, ainda mais furioso.

"Calma, Dylan, são apenas crianças brincando." Gabe forçou um sorriso, embora muito constrangido. Eu com certeza ouvi muito mais do que deveria. "Michel, se importa em levar Maikon pra casa? O Alisson já deve estar louco, atrás dele."

Michel afagou a parte do braço que eu havia agarrado, me encarando com uma pontinha de preocupação.

"Tá bem, preciso mesmo agendar uma sala no hospital daqui. Nos vemos amanhã." Michel puxou Maikon pela mão, e os dois deixaram o quarto. "Vamos, Maikon. Já aprontaram o bastante por hoje."

Maikon olhou pra mim uma última vez, e correu para acompanhar os passos do Doutor Michel.

Quando a porta de entrada bateu, eu respirei fundo e olhei para os meus pais, agarrado na minha canga encharcada.

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora