Capítulo 24

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 "Meninas, já pegaram os sanduíches?" Papai Gabe correu à porta com sua maleta de trabalho. Pela forma como verificava o celular, ele estava atrasado.

Penélope e Rebecca apareceram juntas, com os ombros retos e a postura de madames inglesas. Rebecca verificou o esmalte das próprias unhas, tão impecável quanto o batom em seus lábios. Penélope também se maquiava mais a cada dia, e seu cabelo era um exagero de ondas e laquê.

Eu torci o lábio, me perguntando se elas eram mesmo criancinhas da primeira série.

"Decidimos parar com sanduíches." Penélope ajeitou a mochila nas costas, com o cuidado de não amassar o uniforme. "De agora em diante, comeremos apenas o que vem do mar."

"Como é?" Papai Gabe torceu o rosto do mesmo jeito que eu. "Se quisessem sanduíche de atum, deveriam ter pedido mais cedo."

As meninas se entreolharam como se papai Gabe fosse trouxa. Eu quase puxei as orelhas daquelas duas pestes, mas papai Gabe não percebeu o insulto, preocupado com a hora.

"Tudo bem, comprem um salgadinho na cantina, ou coisa assim. Precisamos ir." Disse ele, abrindo a porta da casa.

As gêmeas acompanharam Gabe à garagem. Quando ele estava quase entrando no carro, ele correu até mim e beijou minha testa.

"Desculpa, Hian. Tenho uma reunião hoje, e é aquela loucura..."

"Tenha um bom dia no trabalho." Eu sorri a ele, acenando.

Papai Gabe acenou enquanto saía com o carro. E então ele foi trabalhar e eu voltei para dentro.

Eu fechei a porta de entrada como quem pregava o próprio caixão.

Escorado nas costas do sofá, papai Dylan cravou seu olhar verde nos meus. Ele e Gabe sempre se despediam de manhã, mas Gabe nem quis falar com ele, o que significava alguma briga feia entre os dois. E isso não ajudava nada a minha situação.

"Minhas ordens não foram claras, Hian?" Perguntou ele, cruzando os braços.

Eu baixei a cabeça, querendo não parecer tão assustado. Mas os passos na minha direção arrepiaram cada pelo do meu corpo. Papai Dylan parou bem à minha frente, esperando minha resposta.

"Eu amo o Maikon. Não vou terminar com ele." Respondi.

Papai Dylan agarrou meu braço, e o susto me fez erguer os olhos aos dele. Nunca vi tanta fúria em seu rosto.

"O único que você deve amar é o seu predestinado. Faz ideia do problema em que se meteu? O que o seu chamado pensa disso?"

Eu movi a boca, sem conseguir falar. O agarrão machucava meu braço fino.

"Eu... eu não sei o que o chamado... diz..." Gaguejei.

"Há quanto tempo você não entra no mar?"

Dessa vez não havia como responder. Se papai Dylan descobrisse que eu evitava o mar desde o despertar do chamado, não sei o que faria comigo.

Pela demora na resposta, papai Dylan tirou suas próprias conclusões. Ele puxou meu braço e me arrastou pela casa.

Eu engoli seco, me preparando pra surra da minha vida.

Papai Dylan não batia em mim desde que eu era criança, por pressão do Gabe. Mas era função do alfa educar a prole, e pelo visto eu havia passado de qualquer limite.

Mas eu iria aguentar. Pelo Maikon eu aguentaria qualquer coisa.

"Só não o meu rosto, por favor." Pedi, quando chegávamos na escada. "O baile de formatura é amanhã."

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora