Eu deslizei pelo banco, tentando me esconder enquanto toda a multidão da fila nos seguia com o olhar. Papai Dylan insistiu em me deixar na porta do show, roubando a atenção de todos com sua Ferrari azul.
Mesmo morto de vergonha, eu mal continha minha alegria. Papai Dylan me levou mesmo, e não tentou brigar comigo.
"Não vai passar calor com esse casacão?" Ele encostou o carro rente à calçada.
Eu subi a gola do meu novíssimo sobretudo de verniz preto, longo até os pés.
"Todo mundo se veste assim, olha lá fora."
A cena diante de nós era tão empolgante. Um monte de gente legal vestindo preto. As meninas e até alguns caras carregavam na maquiagem escura, e muitos bebiam direto das garrafas, e fumavam cigarros. Um som animado reverberava além do muro, no palco de shows municipal onde o show aconteceria. Até o céu combinava com a agitação, estrelas brancas na noite negra e perfeitamente limpa, iluminada pelo balanço dos canhões de luz.
A maioria do público beirava os vinte anos, mas logo avistei uma rodinha de adolescentes e reconheci meus colegas. Eu abri a porta do carro e papai Dylan segurou meu braço.
"Você ouviu seu outro pai. Nada de drogas, nada de álcool, nada de macular seu corpo e entregar-se às tentações humanas."
"Não me lembro da lista ser tão longa." Provoquei, com um sorriso travesso. "Estou brincando, papai. Vou me comportar como um anjo."
Papai Dylan soltou meu braço e o brilho em seu olhar estremeceu, cheio de apreensão.
"Só estou tentando te proteger enquanto eu posso." Ele disse.
"Tchau, pai." Eu fechei a porta do carro e sorri para a o vento em meu rosto, enquanto o motor da Ferrari soava cada vez mais distante, e quando sumiu parecia que algemas foram arrancadas dos meus pulsos.
Eu me aproximei dos meus colegas. Os jogadores do time de basquete vestiam camisetas de banda, brincos exagerados e correntes no pescoço e no cinto. Pelo desdém com que olharam para mim, meu escândalo no vestiário já havia se tornado notícia.
"Viram o Maikon?" Perguntei.
"O seu escravo, você quer dizer?" Devolveu Douglas, com a voz rouca e enrolada. A garrafa em sua mão me fez arregalar os olhos.
"Vinho? Mas a gente não tem idade pra beber."
Todos começaram a rir de mim, e eu não entendi por quê. Felizmente logo eu avistei Maikon chegando e corri até ele, mais do que satisfeito em me livrar daqueles trouxas. Meu ritmo foi diminuindo quando lembrei da briga. E Maikon também não parecia nada confortável em me ver.
Nós paramos na calçada, sob o a luz amarelada de um poste. Maikon escorou o ombro no paredão que cercava o palco e cruzou os braços.
"Oi." Eu disse, reparando nas correntinhas de crucifixo no pescoço, e nas calças cheias de alfinetes e pinos. Maikon sempre se vestia como um metaleiro, então não haviam grandes mudanças em sua aparência.
"Oi." Vociferou ele, subindo os olhos ao longo do meu corpo. "Sobretudo bonito."
"Obrigado." Minha vontade era olhar pro chão ou fugir, mas forcei meu olhar em seus olhos. "Me desculpa por ontem."
"Te desculpar por toda aquela humilhação?" Ele arqueou a sobrancelha. "Será que eu deveria? Você realmente veio sozinho."
"Porque eu sabia que iria te encontrar." Falei, me aproximando um passo. "Você não deixaria seu namorado correr perigo."
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Ondas em Rebentação (AMOSTRA)
RomansaAVISO: AMOSTRA GRATUITA. O livro completo encontra-se disponível na Amazon. Hian vive com um único objetivo: Tornar-se um grande tritão, e honrar a linhagem de seu amado pai Dylan. Sério e bem decidido, o meio-tritão traça os planos de uma vida...