Quatro anos depois
O oceano se estendeu diante mim em todas as direções. Uma massa d'água imensa, infinita, tão escura em sua profundeza, quanto era brilhante a luz dourada sob a minha cauda. O silêncio era absoluto.
Acima de mim, bilhões de estrelas cintilavam, como se a luz do chamado se fragmentasse em pontinhos. Ou seria o chamado a fusão de todas as estrelas? A infinitude do céu me tornava ainda mais insignificante, uma migalha flutuando na superfície perfeitamente plana.
Seu despertar está próximo, pequeno.
Seu dever se aproxima.
Eu apertei as orelhas, sabendo que não impediria a voz de penetrar meu cérebro. Olhando para baixo, avistei o brilho intenso que refletia nas minhas escamas, iluminando meu rosto em ondas azuis e vívidas.
Droga de sonho, eu não queria ouvir aquelas bobagens.
Agora escute, pequeno.
Um com o mar, um com os seus.
Ao ômega a luz do sol vai raiar, pois é do alfa a...
"Cala a boca, eu não quero saber!" Eu chicoteei minha cauda azul, causando bolhas que logo subiram e desapareceram. A superfície tornou-se um perfeito espelho d'água novamente.
Seu destino não pode ser recusado, pequeno.
"Meu destino é meu! Vai embora!" Gritei, minha voz ecoando diversas vezes apesar do espaço aberto e infinito.
Sua recusa conhecerá fim em breve
Não haverá resistência, pois...
Hian... Hian... Acorda... Hian!
Eu saltei na minha cama, ofegante. Suor descia pelos meus braços e arrepios eletrizavam meu pescoço.
A mão no meu braço apertou mais forte. Demorei a notar que era Maikon, mas quando notei meu corpo relaxou por completo.
"Desculpa, eu te acordei?" Perguntei a ele, voltando a deitar sob os lençóis.
Maikon estendeu o braço e eu deitei a cabeça sobre seu bíceps avolumado, deixando ele me envolver num abraço e esconder o rosto na curva do meu pescoço. Um grunhidinho macio denunciou o quanto ele estava sonolento.
"Você tremia. Teve um pesadelo?" Maikon laçou a perna sobre as minhas, fazendo cócegas ao roçar nossos pelinhos. Eu não gostava de dormir apenas de cuecas, mas o corpo do Maikon era tão quente que quando dormia comigo, era impossível vestir mais que isso. Como um bônus, ele parecia gostar de me abraçar quase pelado.
Eu apertei a mão do Maikon e virei as costas para ele, me encaixando de conchinha em seu torso musculoso.
Quase dezoito anos e Maikon já parecia um modelo profissional, ou era isso o que todos diziam. Claro que ele recusava convites para desfilar, já que surfe continuava sendo sua paixão.
"Tritões não sonham, Maikon. Já te expliquei isso. Tritões vêem o chamado." Falei, um pouquinho desconfortável pelo abraço apertado. Eu queria voltar a dormir, mas uma espetada na base das costas tornava isso impossível.
"Você dorme e vê um monte de água parada. Parece tão chato."
"Parada agora, que meu chamado está dormente. Deve ser bom sonhar como um humano. Eu poderia te ver enquanto durmo também." Eu dei uma risadinha, tentando afastar as costas daquela ponta, mas Maikon avançava o quadril na mesma medida, me cutucando de novo. "Também não preciso perguntar com o que você sonhou."
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Ondas em Rebentação (AMOSTRA)
RomanceAVISO: AMOSTRA GRATUITA. O livro completo encontra-se disponível na Amazon. Hian vive com um único objetivo: Tornar-se um grande tritão, e honrar a linhagem de seu amado pai Dylan. Sério e bem decidido, o meio-tritão traça os planos de uma vida...